Hiriart: após a morte de Pinochet em 2006, sua família viveu anos turbulentos com a investigação sobre a origem da imensa fortuna oculta (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 24 de agosto de 2016 às 17h00.
Cercada pela Justiça, que a investiga por desvio de recursos públicos, Lucía Hiriart, viúva do ditador chileno Augusto Pinochet, teve que deixar para trás a amargo aposentadoria pública em que se mantinha nos últimos anos após a morte de seu esposo em 2006.
Aos 93 anos, Hiriart voltou a enfrentar acusações de apropriação de bens públicos e fraude após denúncias públicas de negócios imobiliários da fundação Cema-Chile, da qual era presidente vitalícia.
Criada durante a ditadura para capacitar donas de casa para pequenos trabalhos, a fundação buscava dar apoio popular ao regime, com centenas de sedes sociais ao longo do Chile.
Mas após o fim da ditadura, foi perdendo seu caráter social e se converteu em um lucrativo negócio imobiliário que beneficiou Lucía Hiriart e sua família, em um valor ainda não quantificado oficialmente, mas é que calculado pela imprensa em oito milhões de dólares.
"A Cema-Chile se tornou após o fim da ditadura uma entidade que não desenvolve nenhuma atividade social relevante e cuja principal atividade nos últimos anos tem sido se dedicar à venda e ao arrendamento de imóveis que recebeu na ditadura", disse à AFP o ministro de Bens Nacionais, Víctor Osorio.
Após a morte de Pinochet em 2006, sua família viveu anos turbulentos com a investigação sobre a origem da imensa fortuna oculta em bancos estrangeiros.
Depois do encerramento da investigação, a viúva do ex-ditador e seus filhos ficaram no anonimato, vivendo a decepção de perder o apoio dos antigos partidários do regime.
O sossego dos últimos anos chegou, entretanto, ao fim após a denúncia apresentada em dezembro de 2015 pelo Ministério de Bens Nacionais para recuperar 135 propriedades que foram transferidas gratuitamente para o Cema-Chile, avaliadas em 120 milhões de dólares, das quais a fundação continuou usufruindo.
O Conselho de Defesa do Estado (CDE), que representa judicialmente o Estado, se somou à ação judicial pelo desvio de fundos de bens públicos e esta semana, o juiz a cargo do caso, Guillermo de la Barra, ordenou o embargo preventivo de 41 dessas propriedades.
No auge da investigação em curso, o CDE acredita que a entidade passou diretamente a ela 50.000 dólares para custear parte da defesa de Pinochet quando esteve preso em Londres entre outubro de 1998 e março de 2000.