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Vitória em eleições municipais dá impulso a Maduro para reeleição

Com o caminho livre pelo boicote da oposição, o chavismo venceu mais de 300 das 335 prefeituras, incluindo pelo menos 20 das 23 capitais regionais

Nicolás Maduro: segundo o presidente, partidos da oposição serão excluídos da eleição presidencial por se negarem a concorrer nas eleições municipais (Ueslei Marcelino/Reuters)

Nicolás Maduro: segundo o presidente, partidos da oposição serão excluídos da eleição presidencial por se negarem a concorrer nas eleições municipais (Ueslei Marcelino/Reuters)

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AFP

Publicado em 11 de dezembro de 2017 às 09h53.

Os candidatos do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, venceram com facilidade as eleições municipais, um estímulo decisivo para seus planos de buscar a reeleição em 2018 ante uma oposição obrigada a superar divisões.

A vitória dos chavistas era previsível, depois que os principais partidos de opositores decidiram boicotar a votação para prefeitos, deixando claro que seu grande objetivo é a eleição presidencial, para a qual aceitaram uma negociação com o governo em busca de garantias eleitorais.

O presidente venezuelano afirmou que os partidos dos opositores Henrique Capriles e Leopoldo López, entre outros, serão excluídos da eleição presidencial de 2018 por se negarem a concorrer nas eleições municipais de domingo.

Com o caminho livre, o chavismo venceu mais de 300 das 335 prefeituras, incluindo pelo menos 20 das 23 capitais regionais, anunciaram Maduro e o Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

Além disso, o chavismo conquistou o governo de Zulia, cuja eleição foi repetida no domingo: os partidários de Maduro comandam 19 estados agora - haviam vencido em 18 de um total de 23 estados nas eleições de 15 de outubro.

O índice de participação foi de 47,3% (9,1 milhões de eleitores).

"Não há surpresa, mas (o resultado) não reflete o mapa das preferências políticas da Venezuela, neste caso por decisão da oposição", afirmou o analista Luis Vicente León.

Um triunfalista Maduro, no entanto, pediu a seus seguidores que se "preparem para grandes vitórias em 2018".

A intenção do presidente de buscar um segundo mandato de seis anos foi anunciada no dia 29 de novembro pelo vice-presidente, Tareck El Aissami, confirmando algo que todos já imaginavam.

Dividir o adversário

Líderes opositores e analistas acreditam que o presidente socialista, com influência sobre o poder eleitoral, planeja antecipar a eleição presidencial para o primeiro trimestre de 2018 e não esperar até o fim do ano, a data prevista.

Desta maneira, ele tentaria aproveitar as divisões na coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD), que se aprofundaram após a derrota nas eleições para governadores e do diálogo iniciado em l de dezembro na República Dominicana.

"Maduro vai insistir na estratégia de antecipar o máximo possível a eleição presidencial para evitar que a oposição se reagrupe", afirmou à AFP o analista eleitoral Eugenio Martínez.

Depois de superar os protestos da oposição organizados entre abril e julho, que deixaram 125 mortos, e instaurar uma Assembleia Constituinte de plenos poderes, Maduro conseguiu melhorar seus índices de aprovação, apesar da grave crise econômica.

Uma pesquisa do instituto Venebarómetro, realizada entre outubro e novembro, mostrou um salto na popularidade do presidente de de 24,4% a 31,1%.

Ao mesmo tempo, a avaliação negativa da MUD passou de 46,1% a 65,7%.

Isto, no entanto, não seria suficiente para garantir um novo mandato, o que explica a estratégia de Maduro de dividir ainda mais o adversário e ampliar uma base eleitoral estagnada "à base do clientelismo", explica o cientista político Luis Salamanca.

"Maduro só fará as eleições se a MUD estiver dividida, com vários candidatos, se perceber que pode ganhar", declarou Salamanca à AFP.

Depois de votar no domingo, Maduro ameaçou os principais partidos da aliança opositora de exclusão das eleições presidenciais após o boicote contra o pleito municipal.

"Partido que não tiver participado hoje e que tenha convocado o boicote das eleições não pode mais participar. Esse foi o critério que a Assembleia Nacional Constituinte estipulou", disse Maduro.

Segundo ele, tanto o Primeiro Justiça (partido de Capriles) quanto o Vontade Popular (de López) "desapareceram do mapa político" por sua decisão de se afastar das eleições.

"Não poderão participar; desaparecerão do mapa político", insistiu.

"Não posso entender que um grupo de dirigentes políticos da direita tenha se retirado. Se não querem eleições, para onde vão? Qual é a alternativa? As armas? A guerra?", questionou Maduro, na mesma entrevista coletiva.

Reunificação

A vitória do chavismo já era considerada certa, mas a votação mostrou mais uma vez a MUD em uma posição incômoda por suas contradições.

Um grupo de dirigentes desafiou seus líderes e disputou as eleições, conseguindo conservar alguns redutos em municípios da região de Caracas, mas sem conseguir uma queda superior a 50% na parcela de poder da oposição.

"A MUD deveria ter um discurso preparado para convencer os venezuelanos que não valeu a pena ir às urnas desta vez, mas valerá a pena votar nas presidenciais", disse Salamanca.

"O que resta é uma reorganização para escolher um candidato para 2018, mas isto ainda é muito complexo porque não existe acordo entre as principais lideranças", afirmou Martínez.

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