Soldados americanos são resgatados de helicóptero do Vietnã em 1965: algumas recusas desanimam os americanos, mas eles não desistem de procurar os frutos do seu passado no Vietnã (AFP)
Da Redação
Publicado em 26 de dezembro de 2013 às 06h34.
Ho Chi Minh - Dezenas de veteranos de guerra americanos retornaram ao Vietnã nos últimos anos à procura das namoradas e dos possíveis filhos que deixaram quando acabaram de prestar serviço, há pelo menos quatro décadas.
"Ajudamos a reunir veteranos com seus filhos perdidos e também com suas antigas namoradas através da organização Fatherfounded. É difícil, mas resolvemos uns oito casos por ano", assegura Hung Phan Ngoc, voluntário da sociedade.
Um dos últimos a atender ao chamado do passado foi Larry Johnson, um cineasta independente que após 40 anos decidiu enfrentar seus fantasmas e realizar um documentário sobre seu retorno ao Vietnã, onde deixou uma namorada e talvez um filho.
"Já completei 60 anos e quero encerrar os assuntos que deixei sem resolver em minha vida. É possível que tenha um filho de 40 anos que não conheço", explicou.
Johnson, que chegou em 1º de dezembro ao Vietnã e planeja ficar até o dia 20, procura sua antiga namorada vietnamita, Trong My Linh, com a qual viveu um romance de oito meses e que chamava pelo apelido de "Candy".
"Eu estava disposto a me casar com ela. Candy disse que estava grávida pouco antes da minha partida e nunca soube se era verdade, foi ela quem decidiu terminar nossa relação", explicou o antigo soldado, com dois casamentos desfeitos em sua história de vida.
Johnson usará suas fotos e desenhos para publicar anúncios na imprensa e também participará de um bem-sucedido programa de televisão que procura pessoas desaparecidas.
"Talvez tenha feito coisas ruins quando estive aqui, agora faço um balanço da minha vida e minha maneira de enfrentar esses fantasmas é voltar, me expressar através do documentário e se realmente tive um filho ou uma filha, ajudá-lo no que puder", desabafou o americano.
Johnson observa a velha fotografia em preto e branco de "Candy" e reconhece que não saberia muito bem o que diria se a encontrasse. "Perguntaria se se lembra, se teve uma vida feliz".
Enquanto Johnson ainda tem esperanças de conseguir seu objetivo, para outros, como Jim Reichl, veterano enviado a Saigon em 1970, o otimismo acabou após várias tentativas frustradas de encontrar Linh Hoa, sua namorada vietnamita.
Uma mulher respondeu a um de seus anúncios na imprensa em fevereiro afirmando ser Hoa em um telefonema para a organização Fatherfounded, onde Hung atendeu o telefonema; mas em breve chegou a decepção.
"Disse que era ela, que estava feliz de saber que Jim estava vivo, mas que não queria vê-lo. Tinha formado uma família com outro homem. E disse que vivia na província de Soc Trang e me deu seu nome completo: Vuong Thi Linh Hoa. Mas depois mudou de número de telefone e não consigo falar com ela", explicou Hung.
Uma das dificuldades que estes veteranos encontram é que pelo fato daquelas meninas terem trabalhado em bares, 40 anos depois, com marido, filhos e netos, querem manter enterrado aquele passado.
A recusa de sua antiga namorada não desanimou Reichl que decidiu prosseguir sua busca angustiado pela suspeita de que também tenha deixado filhos no Vietnã.
"Dois meses antes de ir ela me disse que estava grávida. Eu não sabia o que pensar, não via sinais externos, e meus companheiros me diziam que não acreditasse. Ela queria que eu ficasse no Vietnã, mas eu estava assustado e parti", relatou Reichl.
Em seu retorno a sua Minnesota natal após ter baixa no serviço militar, Reichl escreveu para sua amada, mas nunca recebeu resposta e acabou se casando com outra mulher e jogou fora o endereço de sua namorada vietnamita.
Anos depois, divorciado e em plena maturidade, voltou a pensar na garota com quem posa sorridente em uma das fotos que guarda de seu ano no Vietnã e no filho que talvez tenha lá.
"Bastam dez minutos com ela, simplesmente quero perguntar como viveu, dizer que lamento muito ter partido, que tive medo. Saber se teve um filho meu e cumprimentá-lo se for assim. Ter a consciência tranquila", diz Reichl, agora com 65 anos.