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Vaticano autoriza pela primeira vez que casais do mesmo sexo recebam bençãos não litúrgicas

Documento propõe que benção ocorra fora do rito e de qualquer imitação de um matrimônio religioso

Papa Francisco: Pontífice é o chefe da Igreja Católica Romana (Clément MELKI/AFP)

Papa Francisco: Pontífice é o chefe da Igreja Católica Romana (Clément MELKI/AFP)

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Agência de notícias

Publicado em 18 de dezembro de 2023 às 13h25.

Última atualização em 18 de dezembro de 2023 às 13h27.

O Vaticano autorizou pela primeira vez em um documento oficial, nesta segunda-feira, a bênção de casais do mesmo sexo e de casais "em situações irregulares" para a Igreja Católica. A proposta afirma que os casais poderão receber uma benção, mas fora de qualquer rito ou imitação do matrimônio religioso, mantendo firme a oposição da igreja ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.

"Essa bênção nunca ocorrerá ao mesmo tempo que os ritos civis de união, nem em conexão com eles. Nem mesmo com as vestes, gestos ou palavras próprias de um matrimônio", diz o documento do Dicastério para a Doutrina da Fé, um dos órgãos responsáveis por estabelecer diretrizes para os católicos, aprovado pelo Papa Francisco.

Segundo o documento, a bênção poderá ser feita por um ministro ordenado, isto é, diáconos, presbíteros e bispos. Como não pode ser vinculada a nenhum rito religioso do sacramentou, a benção poderá ocorrer em lugares como "visitas a um santuário, um encontro com um sacerdote, uma oração recitada em um grupo ou durante uma peregrinação."

Esta é a primeira vez que a Igreja abre caminho de forma clara à bênção de casais do mesmo sexo, um tema que suscita tensões em seu seio devido à forte oposição da ala conservadora, especialmente nos Estados Unidos. Apesar de não serem reconhecidos pela Santa Sé, alguns religiosos já abençoaram casais do mesmo sexo, principalmente na Bélgica e Alemanha.

A declaração é divulgada seis semanas após a conclusão do Sínodo sobre o futuro da Igreja Católica, uma reunião mundial consultiva na qual bispos, mulheres e laicos debateram questões sociais como a aceitação de pessoas LGBTQIA+ e os divorciados que se casaram novamente. No início de outubro, cinco cardeais conservadores pediram publicamente ao papa para reafirmar a doctrina católica sobre os casais homossexuais, mas o documento final do Sínodo não incluiu esta questão.

Em 2021, o Vaticano anunciou que padres e outros ministros não podem abençoar uniões entre pessoas do mesmo sexo , num ato que foi visto como uma vitória para a ala mais conservadora da Igreja. A nota oficial divulgada pela Congregação para a Doutrina da Fé dizia que "Deus não pode abençoar o pecado". O decreto fez uma distinção entre as boas-vindas da Igreja e a bênção de pessoas homoafetivas, que está mantida. Mas não de suas uniões.

Francisco já havia endossado a proteção legal a uniões homoafetivas, mas em relação à esfera civil, não dentro da Igreja. O Pontífice fez comentários sobre o tema durante uma entrevista a uma estação de televisão mexicana, a Televisa, em 2019, que foram cortados pelo Vaticano até aparecerem em um documentário lançado em outubro de 2020. As declarações, à época, foram consideradas as mais fortes já feitas por um Pontífice em defesa dos direitos das pessoas LGBTQIA+.

Papa Francisco

No início deste ano, o Papa Francisco já havia considerado como injusta a criminalização da homossexualidade, como ainda fazem alguns países. Em entrevista à Associated Press, o Pontífice afirmou que Deus ama todos os seus filhos como são e defendeu que as pessoas LGBTQIA+ sejam bem recebidas na Igreja.

— Ser homossexual não é crime — disse Francisco. — Não é crime. Sim, mas é pecado. Tudo bem, mas primeiro vamos distinguir entre um pecado e um crime. Também é pecado não ter caridade uns com os outros.

Em outras ocasiões, Francisco já mostrou-se respeitoso com a comunidade LGBTQIA+. Conversando com a imprensa na volta de sua primeira viagem como Pontífice, do Rio de Janeiro para Roma, em 2013, ele questionou: “Se a pessoa é gay, procura a Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?” Em 2018, um chileno contou que o Papa lhe disse que Deus o fez gay e o ama assim. Em 2019, o Pontífice comparou políticos e líderes de governo que atacam homossexuais, ciganos e judeus ao ditador nazista Adolf Hitler. No ano passado, em 2022, Francisco declarou que os pais não devem condenar filhos homossexuais, mas oferecer apoio a eles.

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