UE e Mercosul concluem rodada comercial sem avanços
Blocos irão elaborar melhor suas propostas internamente antes da próxima rodada de negociações, ainda sem data definida
Da Redação
Publicado em 18 de março de 2011 às 14h08.
Bruxelas - Os países da União Europeia (UE) e do Mercosul concluíram nesta sexta-feira em Bruxelas uma nova rodada de negociações para um acordo de associação, na qual resolveram continuar os "trabalhos internos" com objetivo de decidir uma data para iniciar a troca de ofertas comerciais.
Esta foi a quarta rodada de trabalho entre as duas regiões desde o reinício das negociações em maio do ano passado, após ter permanecido estagnadas por vários anos.
Os chefes negociadores europeus e sul-americanos mantiveram reuniões a portas fechadas em um centro de convenções da capital belga onde a Comissão Europeia pediu expressamente que não houvesse presença de jornalistas.
Em um breve comunicado conjunto, a UE e o Mercosul informaram que vão continuar seu "trabalho interno para preparar melhores ofertas de acesso a mercados" de seus produtos.
Além disso, afirmaram que, "quando completarem esse trabalho, decidirão então conjuntamente a data para uma troca simultânea de ofertas".
Questionado ao término da reunião, o vice-ministro de Relações Econômicas e Integração do Paraguai, Manuel María Cáceres, cujo país preside atualmente o Mercosul, recusou comentar sobre o resultado da reunião.
Esta semana, o diretor-geral adjunto de Comércio e chefe negociador da Comissão Europeia, João Aguiar Machado, indicou que "nunca esteve previsto" apresentar ofertas ao longo desta quarta rodada de negociação, e descartou pressões por parte dos produtores agrários europeus que se declaram contrários ao tratado.
No entanto, diversas fontes ligadas ao Mercosul assinalaram nesta sexta-feira que confiaram até o último momento que a Comissão - que negocia em nome dos 27 países da UE -, apresentará propostas nesse sentido.
Tais fontes asseguraram que a parte sul-americana estava "preparada" para expor as linhas gerais de suas ofertas.
Os produtores de carne europeus constituem um dos setores que mais protestou contra um eventual acordo com o grupo formado pelo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai - alguns deles líderes mundiais na produção de carne -, e um recente estudo realizado pelas organizações agrárias e cooperativas europeias apontam perdas de 25 bilhões de euros.
Além disso, o plenário do Parlamento Europeu pediu há duas semanas à Comissão que não faça concessões agrícolas consideradas muito negativas para os produtores europeus.
O comissário de Agricultura europeu, Dacian Ciolos, assegurou na quinta-feira aos ministros comunitários do ramo, durante um Conselho em Bruxelas, que se a UE faz "esforços difíceis" em agricultura, é "essencial" que os países do Mercosul cheguem a um "nível de ambição equivalente".
Na sua opinião, "está claro" que a UE "estará sob pressão" para oferecer uma abertura de mercado "considerável" em setores agrícolas importantes, disse aos ministros dos países europeus, entre os que França e Irlanda lideram entre os que mais se opõem ao acordo.
O comissário afirmou que a prioridade agrícola para os europeus inclui os queijos e outros produtos lácteos, os vinhos e o azeite de oliva, assim como a proteção de diferentes indicações geográficas e denominações de origem.
Ao Mercosul lhe solicitou uma oferta "que seja aceitável" para a UE sobre produtos industriais, liberalização de serviços, acesso aos mercados públicos, propriedade intelectual e taxas à exportação.
Nesta semana 11 grupos de trabalho se reuniram centrados na parte normativa do acordo, e alcançaram "progressos" em áreas como regras de origem, compras públicas, serviços e investimentos e competência.
Além disso, as partes comunicaram que as próximas rodadas de negociações serão realizadas entre os dias 2 e 6 de maio em Assunção sob a Presidência pro tempore paraguaia do Mercosul, e entre os dias 4 e 8 de julho novamente em Bruxelas.