Ucrânia estima que safra de grãos caiu 40% em 2022
A invasão russa perturbou a indústria agrícola da Ucrânia, em um momento em que o país, conhecido por seu solo preto muito fértil
AFP
Publicado em 23 de dezembro de 2022 às 20h25.
A Ucrânia estima que a colheita de grãos no país, um dos principais produtores do mundo, caiu cerca de 40% este ano em comparação a 2021, devido à invasão russa, segundo dados oficiais.
Depois do recorde histórico alcançado em 2021, com 106 milhões de toneladas colhidas, "este ano, prevê-se que a safra atinja 64 ou 65 milhões de toneladas", explicou à AFP o diretor da Associação Nacional, Serhiy Ivashchenko.
"A razão principal é a guerra", que provocou uma redução da superfície cultivada e a queda no rendimento, explicou.
A invasão russa perturbou a indústria agrícola da Ucrânia, em um momento em que o país, conhecido por seu solo preto muito fértil, era o quarto exportador mundial de milho e estava prestes a se tornar o terceiro exportador de trigo.
A ofensiva militar provocou primeiro uma escassez de combustível, "que obstruiu a campanha de semeadura", destacou Ivashchenko.
O bloqueio dos portos marítimos ucranianos pelo Exército russo também impediu, durante meses, as exportações de cereais, e os ganhos com as mesmas, usados para financiar a campanha de semeadura, acrescentou.
"A ocupação de parte das regiões, as hostilidades nos campos, a destruição de infraestruturas" reduziram "ao menos em um quarto" a superfície total dos campos cultivados pelos produtores de cereais em comparação com o ano anterior, argumentou o funcionário.
"Normalmente, semeávamos cerca de 25 milhões de hectares. Este ano, pudemos colher entre 18 e 19 milhões de hectares", lamentou, ressaltando também que com "uma queda" nos rendimentos, muitos agricultores não podem mais se dar ao luxo de usar fertilizantes.
Até agora, a Ucrânia colheu 46,6 milhões de toneladas de cereais em 90% dos campos em funcionamento, destacou nesta sexta o Ministério de Política Agrária.
No entanto, ainda resta colher 30% do milho, ressaltou Ivashchenko.
As exportações de cereais e outros produtos agrícolas que saem dos portos ucranianos puderam ser retomadas em agosto, depois da assinatura de um acordo humanitário internacional, concluído sob os auspícios dos Estados Unidos e da Turquia, apesar de quase ter fracassado no outono (boreal).
Um total de 580 navios que transportavam 15 milhões de toneladas de grãos partiram dos portos ucranianos com destino a países asiáticos, africanos e europeus, segundo o Ministério de Política Agrária.