Volodymyr Zelensky: presidente da Ucrânia enfrenta diversos desafios durante a negociação com a Rússia pela paz e as relações políticas com os Estados Unidos
Repórter
Publicado em 1 de dezembro de 2025 às 16h45.
Última atualização em 1 de dezembro de 2025 às 21h09.
O líder do Conselho de Segurança e Defesa da Ucrânia, envolvido nas negociações com os Estados Unidos para o fim do conflito, Rustem Umerov, afirmou que as conversas realizadas em Miami nesta segunda-feira resultaram em “avanços significativos”, embora ainda necessitem de “ajustes”.
Recentemente, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que enfrenta um escândalo de corrupção em seu governo, expressou confiança de que o diálogo com os Estados Unidos possa acelerar a possibilidade de um cessar-fogo.
"Durante dois dias muito produtivos nos EUA, alcançamos avanços significativos, embora alguns pontos ainda precisem de ajustes", afirmou Umerov em uma publicação nas redes sociais, na qual acrescentou ter concordado com os representantes americanos em manter um contato “constante”.
Este foi o segundo dia consecutivo de negociações entre os representantes de Kiev e o enviado de Donald Trump, Steve Witkoff. Fontes próximas à agência AFP indicaram que “ainda havia questões a serem discutidas”. Zelensky tem uma reunião marcada com Umerov na terça-feira, na Irlanda, enquanto Witkoff deverá chegar a Moscou no mesmo dia para um encontro com o presidente russo, Vladimir Putin, de acordo com as mesmas fontes.
Após o encontro de domingo, que durou várias horas, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou em declarações à imprensa que as conversas foram altamente produtivas e que houve progressos. No entanto, ele também reconheceu que “ainda há muito trabalho a ser feito”.
"É uma situação delicada. É complicada. Há muitas variáveis envolvidas e, obviamente, há outra parte que terá de fazer parte do processo, e isso continuará ao longo desta semana", disse Rubio. "Penso que existe aqui uma visão partilhada de que não se trata apenas de pôr fim à guerra, o que é muito importante, mas sim de garantir o futuro da Ucrânia, um futuro que esperamos que seja mais próspero do que jamais foi".
As conversas têm como objetivo dar continuidade às negociações realizadas em Genebra, nas quais as partes alcançaram alguns consensos, mas esbarraram em questões delicadas sobre território e garantias de segurança. Antes de iniciar a reunião, Rubio expressou sua expectativa de que, ao fim do conflito, fosse possível estabelecer “um mecanismo e um caminho” para a soberania tanto da Ucrânia quanto da Rússia.
"Há muitas variáveis envolvidas e, obviamente, há outra parte que também precisa fazer parte da equação", declarou Rubio, em referência aos russos. "Temos mantido contato, em diferentes graus, com o lado russo, e também temos uma boa compreensão de seus pontos de vista".
No sábado, o presidente francês, Emmanuel Macron, convidou Zelensky para conversas em Paris na segunda-feira, conforme informado por um funcionário da presidência francesa à AFP. Em paralelo, os europeus apresentaram uma contraproposta ao plano inicial dos Estados Unidos, que contava com 28 pontos e foi considerado muito mais favorável à Rússia.
A proposta original de Washington incluía, entre outros pontos, o reconhecimento da Crimeia, Luhansk e Donetsk como territórios russos, além da drástica redução das Forças Armadas ucranianas para 600 mil soldados — um número consideravelmente menor do que os aproximadamente 850 mil soldados atualmente no Exército ucraniano, conforme indicado por um oficial ucraniano ao site Axios.
Nos dias seguintes, os negociadores ucranianos, com o apoio de seus aliados europeus, começaram a reverter ao menos alguns dos termos mais problemáticos da proposta. Rubio, que participou das discussões no domingo, teria dito a senadores americanos que o plano original era, na verdade, uma “lista de desejos” da Rússia. A imprensa dos EUA ainda revelou que o principal negociador do Kremlin, Kirill Dmitriev, esteve envolvido na elaboração do documento.
O número de pontos foi reduzido de 28 para 19, com mudanças focadas principalmente no tamanho das Forças Armadas ucranianas e no uso de cerca de US$ 100 bilhões de ativos russos congelados no exterior. O Kremlin continua a insistir em pontos como a cessão total das regiões de Donetsk e Luhansk, incluindo áreas ainda controladas pelos ucranianos, e o reconhecimento internacional dessas regiões como parte da Rússia. Essa exigência, segundo analistas, viola o direito internacional e é vista por muitos em Kiev como uma forma de rendição. Por isso, os negociadores em Miami dedicaram esforços intensos na busca por uma solução para esse impasse.
"Mas todos estão tentando ser construtivos e encontrar uma solução", acrescentou outra fonte com acesso à discussão à AFP.
Internamente, o cenário político na Ucrânia foi abalado pelo escândalo de corrupção envolvendo ex-integrantes do Gabinete de Zelensky e um bilionário influente, próximo ao presidente. Segundo a agência anticorrupção responsável pelas investigações — cuja autonomia foi ameaçada por um projeto de lei do governo, que não avançou após protestos —, o grupo fraudou contratos no setor de energia e teria lavado cerca de US$ 100 milhões provenientes de verbas desviadas.
Na sexta-feira, Andriy Yermak, chefe de Gabinete de Zelensky e uma das figuras centrais do governo, pediu demissão após uma operação de busca e apreensão realizada pelos agentes anticorrupção em sua residência. Yermak já havia sido acusado anteriormente de tentar exercer controle sobre as agências de investigação e, apesar das críticas da oposição, mantinha um papel crucial nas negociações sobre o fim do conflito. O escândalo, como era de se esperar, foi explorado pela Rússia para intensificar seu discurso contra as autoridades ucranianas, frequentemente rotuladas como “ilegítimas”.
Dois dias após a demissão de Yermak, Zelensky anunciou Oksana Markarova, ex-embaixadora nos EUA, como sua nova conselheira presidencial, encarregada de assessorá-lo em questões relacionadas à reconstrução e aos investimentos. No início deste mês, a imprensa ucraniana havia noticiado que ela foi cogitada para o cargo de Yermak, informação que foi prontamente negada por Markarova dias depois.
Durante a campanha presidencial nos Estados Unidos no ano passado, o presidente da Câmara, Mike Johnson, chegou a pedir a demissão de Markarova do cargo de embaixadora após uma visita de Zelensky a uma fábrica de munições em Scranton, cidade natal do então presidente Joe Biden. Para Johnson e muitos republicanos, a visita foi vista como uma manobra de campanha e uma intervenção indevida de um líder estrangeiro no processo eleitoral americano.
(Com informações da agência AFP)