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Trump tenta de novo em 2024 se derrota não for expressiva, diz ex-assessor

Candidato outsider em 2016 e em seu primeiro cargo governamental, o futuro político de Trump (e dos republicanos) pode estar em jogo nesta eleição

Donald Trump: se não vencer a eleição, dúvidas sobre seu futuro político dentro do Partido Republicano começam a pairar (Carlos Barria/Reuters)

Donald Trump: se não vencer a eleição, dúvidas sobre seu futuro político dentro do Partido Republicano começam a pairar (Carlos Barria/Reuters)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 5 de novembro de 2020 às 09h33.

Última atualização em 5 de novembro de 2020 às 09h36.

Se não se reeleger presidente americano nesta eleição, Donald Trump voltará a focar somente nos negócios ou seguirá na política? E qual é o futuro do Partido Republicano? Tudo depende dos detalhes do resultado, disse nesta quinta-feira, 5, um ex-assessor à BBC.

Se o democrata Joe Biden vencer somente com uma margem apertada, Trump pode tentar concorrer de novo em 2024. É o que afirma Bryan Lanza, que foi do time de comunicação de Trump na transição em 2016.

O ex-assessor disse em entrevista nesta quinta-feira que "não há ninguém no partido republicano que possa desafiar o Presidente Trump nas primárias".

Se Trump "perder uma eleição muito acirrada", diz Lanza, estará em posição de fazer com que o Partido Republicano o deixe concorrer novamente. "E os republicanos abririam espaço para isso acontecer", completou.

A declaração mostra que o presidente, que teve seu primeiro cargo eletivo ao ser eleito em 2016, pode buscar prolongar sua carreira política após essa eleição.

Na reta final da contagem dos votos, Biden tem mais chances de levar a presidência após vencer no Wisconsin e no Michigan ontem. Faltam os resultados da Geórgia (onde Trump lidera, mas Biden tem esperança de virar), da Carolina do Norte (onde Trump deve vencer), de Nevada  e do Arizona. Nesse último, algumas emissoras já confirmam vitória de Biden, mas Trump tem expectativa de tentar uma reviravolta. Se vencer no Arizona e em Nevada, onde lidera, Biden pode se sagrar presidente ainda hoje.

A campanha de Trump ou o Partido Republicano ainda não se manifestaram sobre o futuro, e focam os esforços na reta final da apuração. Mas a dúvida já paira entre os apoiadores e analistas políticos americanos.

Em 2016, vale lembrar, Trump, então um empresário do setor imobiliário em Nova York, era mal visto entre boa parte do establishment do Partido Republicano.

Ainda assim, ele conseguiu a nomeação como candidato do partido porque, no sistema eleitoral americano, os milhões de eleitores filiados votam em seu candidato preferido nas primárias, tendo papel tão importante quanto a política interna do partido. E Trump, já naquele começo de campanha, mostrava um avanço rápido na aprovação dos eleitores -- que o levaria a vencer a eleição contra a democrata Hillary Clinton meses depois.

Diante dos resultados de Trump entre os eleitores, o partido de fato confirmou sua nomeação naquela campanha, ainda que a contragosto de parte da liderança. Mas foi um processo muito mais difícil dentro do partido do que neste ano, quando Trump já era presidente e praticamente não precisou fazer esforços nas primárias.

Naquele ano de 2016, Trump venceu alguns candidatos em ascensão ou já proeminentes no partido, como Ted Cruz, senador pelo Texas, Marco Rubio, senador pela Flórida, e John Kasich, ex-governador de Ohio e que já havia tentado a nomeação em 2000. Cruz, que foi o segundo colocado naquela disputa, passou a campanha de 2016 sendo crítico fervoroso  de Trump, mas, após a eleição, tornou-se um dos maiores aliados de Trump.

Desta vez, caso Trump seja derrotado, há dúvidas sobre o quanto os republicanos estariam dispostos a novamente abrir espaço para o candidato caso ele perca nestas eleições.

Por outro lado, sem Trump, analistas apontam como o próprio partido terá o desafio de se reinventar. O Partido Republicano passou a se moldar conforme Trump, avançando para um discurso mais populista e ainda mais conservador, às custas de diminuir suas chances entre uma fatia do eleitorado negro e latino que repudia o presidente.

Passada a era Trump -- seja neste ano, em 2024 ou daqui a uma década --, o Partido Republicano terá de começar algum tipo de renovação para encontrar seus próximos líderes.

O mesmo tipo de dilema deve cercar o Partido Democrata. Biden, se eleito, será o presidente mais velho da história, com seus atuais 77 anos (e completando 78 no fim deste mês). Trump tem 74, e, em uma eventual nova eleição em 2024 como quer seu ex-assessor, tomaria posse com 79 anos.

No caso de Biden, parte da disputa interna para o futuro do partido já começou durante a escolha da vice em sua chapa neste ano. Biden terminou optando pela senador Kamala Harris que foi vista como uma boa mistura entre uma escolha de posições moderadas e que, ao mesmo tempo, agrade aos apoiadores democratas por ser a primeira vice negra da história americana.

Harris é vista como mais moderada na comparação com alguns outros postulantes, como a senadora Elizabeth Warren. Mas ainda assim, sua vida não necessariamente será fácil. Na linha do senador Bernie Sanders, que levou milhões de votos nas primárias de 2016 contra Hillary Clinton e nas deste ano contra Biden, despontam no partido nomes como a deputada nova-iorquina Alexandria Ocasio-Cortez.

AOC, que se elegeu pela primeira vez em 2018 após vencer em seu distrito um candidato que estava no poder há décadas, acaba de ser reeleita para novo mandato de dois anos na Câmara. As lideranças do Partido Democrata, historicamente de centro, vêm sendo pressionadas internamente a adotarem posições mais vinculadas à centro-esquerda e nos moldes do modelo de bem-estar social europeu, como sistema de saúde universal e algum tipo de Ensino Superior gratuito. O próprio mandato de Biden, se eleito, será cercado destas questões.

Não importa quem vença neste ano, se Biden ou Trump, a disputa para 2024 já está começando.

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