Trump pode suspender entrada de muçulmanos e refugiados no país
Decreto, que pode ser assinado em breve, bloquearia durante um mês a entrada nos EUA de cidadãos de sete países muçulmanos
AFP
Publicado em 26 de janeiro de 2017 às 10h03.
Última atualização em 26 de janeiro de 2017 às 10h04.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump , se prepara para prosseguir com sua ofensiva contra a migração com a suspensão da entrada de cidadãos de sete países muçulmanos e da admissão de refugiados.
Depois de ter assinado na quarta-feira um decreto para a construção de um muro na fronteira com o México, Donald Trump pode assinar outro, talvez nesta quinta-feira, que bloquearia durante um mês a entrada nos Estados Unidos de cidadãos de sete países muçulmanos: Iraque, Irã, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iêmen.
Este projeto de decreto presidencial, divulgado na noite de quarta-feira pelo jornal The Washington Post, se chama "Proteger a nação de ataques terroristas pelos estrangeiros" e também prevê suspender durante quatro meses a admissão de refugiados procedentes de países em guerra.
Dos milhões de sírios que fugiram de seu país em guerra, apenas 10.000 foram aceitos nos Estados Unidos em 2016. Com este projeto, sua entrada estaria totalmente proibida.
O novo presidente americano, eleito após uma campanha isolacionista que defendia a luta contra o "terrorismo islâmico radical", quer dividir por dois o número de refugiados acolhidos em 2017, segundo este projeto de decreto.
O governo do ex-presidente Barack Obama havia estabelecido o objetivo de receber pouco mais de 100.000 refugiados neste ano, mas a nova administração reduziria este total a um máximo de 50.000 pessoas, segundo o projeto.
"O mundo é um caos completo"
O novo presidente defendeu estas medidas na quarta-feira à noite no canal de televisão ABC, alegando que é preciso agir em um mundo repleto de "raiva" que se converteu em "um caos completo".
"Não se trata de um bloqueio contra muçulmanos, mas que envolve países onde há muitos casos de terrorismo", disse Trump em uma entrevista.
"Eu não quero terrorismo no país", acrescentou, enquanto se negou a divulgar a lista de países que seriam afetados pela medida.
De acordo com o documento reproduzido pelo Post, a medida envolveria Iraque, Irã, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iêmen.
Trump também expressou sua convicção de que a Europa cometeu "um enorme erro" ao autorizar "milhares de pessoas a entrar na Alemanha e em outros países".
Ao ser consultado se a medida pode gerar mais "raiva" no mundo muçulmano, Trump não deixou dúvidas.
"Raiva? Já há uma quantidade enorme de raiva! Como poderia haver mais?", disse.
De acordo com Trump, "o mundo está um caos completo. O mundo está com raiva. Não deveríamos ter ido ao Iraque. E não deveríamos ter nos retirado da forma como fizemos. O mundo é um caos completo".
Antes que o decreto seja assinado oficialmente, vários grupos de defesa dos direitos humanos criticaram a medida.
"Dar as costas aos refugiados vulneráveis não vai proteger os Estados Unidos", condenou o ex-chefe do centro nacional antiterrorista, Michael Olsen, atualmente membro da associação Human Rights First.
Pelo contrário, "isto alimentará o falso discurso da (organização extremista) Estado Islâmico segundo a qual nós estamos em guerra contra os muçulmanos, e não contra os grupos terroristas", advertiu.
Para o ex-embaixador dos Estados Unidos no Iraque e na Síria Ryan Crocker, "proibir a admissão de refugiados sírios contraria os valores dos Estados Unidos e enfraquece sua liderança".
Em Manhattan, mais de mil pessoas protestaram na noite de quarta-feira para denunciar as medidas anti-imigração do novo presidente, ao grito de "Não à proibição! Não ao muro! Nova York é de todo o mundo".
Contrariando mais uma vez as previsões, que acreditavam em uma queda dos mercados após a chegada de Trump ao poder, o índice Dow Jones da Bolsa de Nova York superou na quarta-feira pela primeira vez em sua história a barreira dos 20.000 pontos.