Benjamin Netanyahu: líder israelense disse que TPI "é uma arma política para deslegitimar o Estado de Israel" (Amir Levy/Getty Images)
AFP
Publicado em 21 de dezembro de 2019 às 13h59.
Última atualização em 21 de dezembro de 2019 às 14h01.
A promotora do Tribunal Penal Internacional (TPI), Fatou Bensouda, anunciou nesta sexta-feira a abertura de uma investigação sobre supostos crimes de guerra nos territórios palestinos, o que provocou uma reação furiosa de Israel.
Após o anúncio, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu reagiu rapidamente e chamou o TPI de "uma arma política para deslegitimar o Estado de Israel", acrescentando que foi um "dia sombrio para a verdade e a justiça".
Os Estados Unidos também reagiram com firmeza. "Nos opomos firmemente a esta e a qualquer outra ação que busque atacar Israel injustamente", declarou o secretário de Estado, Mike Pompeo.
Já os palestinos comemoraram a decisão da promotora do TPI, criado em 2002 como a única corte no mundo com o direito de julgar crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
"O Estado da Palestina celebra este novo passo, que deveria ter sido dado há muito tempo (...), para chegar a uma investigação após cerca de cinco longos e difíceis anos e de exame preliminar", divulgou o ministério palestino de Assuntos Exteriores.
Bensouda iniciou uma investigação preliminar em janeiro de 2015 sobre as denúncias de crimes em Israel e nos territórios palestinos, após a guerra de Gaza em 2014. Uma investigação completa realizada pelo TPI pode levar a acusações contra indivíduos, já que os estados não podem ser acusados.
Esta guerra deixou 2.251 mortos do lado palestino, a maioria civis, e 74 entre os israelenses, a maioria militares. Também examinou a violência perto da fronteira entre Israel e Gaza em 2018.
"Estou convencido de que existe uma base razoável para investigar a situação na Palestina", disse Bensouda e que "crimes de guerra foram cometidos ou estão sendo cometidos na Cisjordânia, especialmente em Jerusalém Leste e na Faixa de Gaza", afirmou através de uma declaração.
A promotora também informou que, antes de iniciar as investigações, pedirá ao Supremo Tribunal que decida sobre qual território tem jurisdição.
"Concretamente, pedi a confirmação do 'território' em que o Tribunal pode exercer sua jurisdição e que possa estar sujeito à investigação, e se compreende Cisjordânia, Jerusalém leste e Gaza ", afirmou
Segundo Bensouda, é "imperativo" que os "juízes decidam sobre a questão do território" em que ela possa investigar, mesmo "antes do início da investigação".
"Os juízes têm que decidir sobre essa questão fundamental o mais rápido possível", insistiu.
Israel não é membro do TPI e os palestinos aderiram a ele em 2015.
Uma possível investigação sobre esse assunto é extremamente delicado. Em 2018, o então conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, John Bolton, ameaçou prender os juízes do TPI se eles agissem contra Israel ou os Estados Unidos.
Em outro caso, o promotor do TPI se recusou a apresentar queixa por uma operação israelense mortal em 2010 contra uma frota que levava ajuda a Gaza e pediu que a investigação fosse encerrada.
Nove cidadãos turcos morreram em maio de 2010, quando fuzileiros navais israelenses invadiram o "Mavi Marmara", entre oito navios que tentavam quebrar o bloqueio naval da Faixa de Gaza. Mais um morreu no hospital em 2014.