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Tratamento dado aos corpos revoltam famílias de vítimas

Raiva transborda entre os parentes das vítimas, cada vez mais frustrados com o repatriamento dos corpos, retardado pela situação geopolítica da Ucrânia

O premier da Malásia, Najib Razak, encontra-se com parentes de uma vítima da queda do avião, em um hotel de Putrajaya (Zarith Intan Suhana Binit Zulkif/AFP)

O premier da Malásia, Najib Razak, encontra-se com parentes de uma vítima da queda do avião, em um hotel de Putrajaya (Zarith Intan Suhana Binit Zulkif/AFP)

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Da Redação

Publicado em 21 de julho de 2014 às 16h53.

Haia - A tristeza dos holandeses que perderam parentes na queda do voo MH17 da Malaysia Airlines no leste ucraniano se transformou em raiva nesta segunda-feira, dado o tratamento reservado aos restos mortais das vítimas, que continuam na Ucrânia, quatro dias depois da catástrofe.

Neste país de 16 milhões de habitantes, a tragédia é tanto pessoal quanto nacional: quase todo mundo conhece "alguém que conhece alguém".

"Em pensar que eles estão há três dias neste calor enquanto os separatistas, ou terroristas, fazem não sei o que com eles... Que falta de respeito, muito além das palavras", declarou Silene Frederiksz, citada pelo jornal Telegraaf.

Na queda do avião, ela perdeu seu filho Bryce, de 23 anos, que viajava com sua namorada, Daisy.

A raiva transborda entre os parentes das vítimas, cada vez mais frustrados com o repatriamento dos corpos, retardado pela situação geopolítica da Ucrânia.

"Levará seis semanas até que eles voltem", estima Ruud Lahaye, que perdeu seu irmão John, de 54 anos, e sua irmã Lilian. "Só então é que vamos poder pensar em um enterro: é difícil de entender."

"Um adeus digno"

O Boeing da companhia aérea Malaysia Airlines caiu na quinta-feira em uma zona controlada por separatistas pró-russos com 298 pessoas a bordo, incluindo 193 holandeses.

Os restos mortais foram deixados em um trem refrigerado que partiu esta tarde em direção à cidade ucraniana de Kharkiv.

"Muitas pessoas nos disseram que queriam pelo menos poder dizer adeus de forma digna", declarou o rei do Holanda Willem-Alexander, que falou à nação pela primeira vez desde a tragédia.

Willem-Alexander, sua esposa Maxima e o primeiro-ministro Mark Rutte, além de outros ministros, se reuniram com cerca de mil parentes de vítimas nesta segunda-feira em Nieuwegein (centro).

"Parar de se comportar como idiotas"

"A Holanda compartilha a raiva, a Holanda compartilha a profunda tristeza", afirmouu o primeiro-ministro a jornalistas após a reunião com os parentes das vítimas.

Um holandês, em luto pela morte de sua filha de 17 anos, Elsemiek, escreveu uma carta irônica agradecendo àqueles que derrubaram o avião, supostamente derrubado por um míssil.

"Obrigado sr. Putin, senhores líderes separatistas ou o governo ucraniano pela morte de minha querida e única filha", escreveu Hans Borst em uma carta publicada nesta segunda-feira pela imprensa holandesa.

"Espero que estejam orgulhosos de terem destruído a sua jovem vida".

Outros dizem não ter forças para estar com raiva, como Els, que perdeu seu irmão Paul, que viajava com a esposa Shuba e a filha de 2 anos, Kaela.

"Não faz sentido se deixar levar pela raiva, a tristeza já custa bastante energia. É melhor acender uma vela para o meu irmão, minha cunhada e minha sobrinha", disse Els ao jornal Algemeen Dagblad.

No Reino Unido, a ansiedade prevalece. "O que está acontecendo? O fato de os rebeldes terem recolhido os corpos me preocupa. O que vão fazer com eles?", disse ao Daily Telegraph Hugo Hoare, que perdeu um irmão no Boeing 777.

Nove cidadãos britânicos morreram na tragédia.

"Tudo que eu espero, para mim e para todas as famílias, é que as 298 pessoas sejam repatriadas", pediu vez Barry Sweeney, que perdeu seu filho Liam: "São 298 pessoas inocentes."

"É preciso que todos parem de agir como idiotas e que as vítimas voltem para casa".

Investigação da justiça

Com o objetivo de identificar os responsáveis pela queda do avião, a Procuradoria da Holanda abriu uma investigação preliminar.

A Holanda, em virtude de uma lei adotada há alguns anos, pode indiciar suspeitos de crimes de guerra, mesmo em casos que tenham acontecido no exterior, se uma ou várias vítimas forem holandesas.

Um mar de flores lembrava as vítimas no aeroporto de Amsterdã, de onde o avião decolou na quinta-feira com destino a Kuala Lumpur, e uma longa fila de pessoas esperava para assinar o livro de condolências.

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