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TikTok, nova ferramenta de recrutamento de guerrilheiros na Colômbia

A Frente opera no departamento de Cauca (sudoeste) e responde ao Estado-Maior Central, a maior facção de dissidentes que rejeitaram o acordo de paz de 2016 entre a extinta guerrilha Farc e o governo colombiano

Colômbia: Mensagens que ressoam em um país assolado por mais de meio século de conflitos armados e onde a pobreza afeta 46% da população rural (Agence France-Presse/AFP)

Colômbia: Mensagens que ressoam em um país assolado por mais de meio século de conflitos armados e onde a pobreza afeta 46% da população rural (Agence France-Presse/AFP)

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Agência de notícias

Publicado em 3 de abril de 2024 às 11h46.

"A Frente Jaime Martínez espera por você, jovem". Botas, cantil, um prato de arroz e a promessa de uma vida melhor acompanham o texto. Com mensagens como essa, o maior grupo dissidente das Farc recruta na Colômbia via TikTok.

A Frente opera no departamento de Cauca (sudoeste) e responde ao Estado-Maior Central (EMC), a maior facção de dissidentes que rejeitaram o acordo de paz de 2016 entre a extinta guerrilha Farc e o governo colombiano. Desde o final de 2023, está em negociações com o presidente de esquerda, Gustavo Petro.

Ao mesmo tempo, mantém uma campanha de propaganda nas redes sociais, com influenciadores uniformizados rodeados por plantações de drogas e promessas de riqueza ao som de músicas mexicanas.

Mensagens que ressoam em um país assolado por mais de meio século de conflitos armados e onde a pobreza afeta 46% da população rural, segundo o balanço mais recente da autoridade estatística (2022).

"Quero participar"

A AFP encontrou no TikTok, e em menor medida no Facebook, dezenas de contas, centenas de publicações e diversas comunidades de propaganda deste grupo armado. Cerca de 3.500 combatentes compõem o EMC, impõem um regime de terror no campo e se financiam principalmente com o tráfico de drogas, segundo a inteligência militar.

"Quero participar", comenta uma jovem em um vídeo. "No privado", responde um usuário do TikTok identificado como ".revolucionario_".

O mesmo perfil teve mais de uma dúzia de interações semelhantes. "Servi ao exército (...) e agora gostaria de pegar um fuzil de novo", comenta um homem em outra publicação, que mostra uniformizados treinando em uma floresta.

Guerrilheiros e traficantes de drogas do país recrutaram 110 menores de idade em 2023 e este ano já são 23, segundo a Defensoria do Povo.

Para uma juventude rural com poucas oportunidades, a dissidência significa uma certa estabilidade financeira, mas muitos também "acabam ali para escapar da violência intrafamiliar" ou de outros grupos armados, explica à AFP Alejandro Jaramillo, pesquisador da Universidade de Nova York.

"A narrativa sempre foi que a guerrilha vai se tornar a sua família", acrescenta.

Nova e velha Farc

Ao contrário da propaganda tradicional das Farc, os vídeos do TikTok do EMC têm "uma proposta estética muito mais refinada" e são voltados para um público jovem, afirma Clément Roux, pesquisador do Centro de Análise de Mídia (CARISM) da Universidade de Paris-Panthéon-Assas.

Para o analista, a narrativa do EMC apresenta "rupturas e continuidades" com a antiga "cultura fariana".

O uso do clássico logotipo das Farc-EP, referências a comandantes históricos como Manuel Marulanda e "uma glorificação do modo de vida guerrilheiro" são algumas das semelhanças.

Mas outras publicações revelam uma linguagem "muito menos vertical" do que a "hierarquizada" da antiga guerrilha que depôs as armas.

Influenciadores e coesão

A estética narco que Pablo Escobar e seus sócios impuseram há quatro décadas se funde com algumas mensagens rebeldes, aludindo a um modo singular de ascensão e revanche social, em um dos países mais desiguais da América Latina.

O conteúdo apresenta "um modo de vida onde o dinheiro, a bebida e as mulheres são troféus" e, ao mesmo tempo, "se combina de forma muito curiosa com todo o imaginário fariano da luta de classes", afirma Roux.

A propaganda nas redes sociais serve como "ferramenta de recrutamento", mas também promove a "coesão interna" da guerrilha, explica. Faz com que as pessoas mobilizadas em frentes de batalha "geograficamente separadas se sintam parte de uma organização maior".

Alguns perfis preservam a aparência institucional das Farc-EP, mas surgem cada vez mais contas de influenciadores uniformizados e armados, repletas de selfies.

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