Mulheres de burca em rua de Mazar-i-Sharif, no Afeganistao, em 30 de dezembro de 2024 (Atif Aryan/AFP)
Agência de Notícias
Publicado em 2 de janeiro de 2025 às 10h47.
O governo de fato do Talibã no Afeganistão proibiu a construção de janelas em prédios residenciais com vista para casas vizinhas onde moram mulheres, por motivos de privacidade e de acordo com os princípios islâmicos.
“As janelas que dão para áreas tradicionalmente usadas por mulheres em casas vizinhas serão projetadas de forma que sejam bloqueadas por paredes ou outros meios”, disse o porta-voz adjunto do Talibã, Hamdullah Fitrat, à Agência EFE.
A medida foi emitida pelo líder supremo dos fundamentalistas, Haibatullah Akhundzada, junto com uma série de outros decretos “destinados a salvaguardar os princípios islâmicos e os direitos da Sharia (lei islâmica) dos vizinhos”, acrescentou o porta-voz do Talibã.
A determinação será aplicada a todos os prédios recém-construídos, de acordo com Fitrat, que não esclareceu como se determinará se uma janela tem ou não vista para uma área usada por mulheres e, portanto, deve ser bloqueada.
Ele também não especificou se a ordem também deve ser cumprida nas demais residências que já foram construídas.
Entretanto, a diretriz exige medidas preventivas para interromper qualquer construção que contradiga essas diretrizes e os funcionários foram instruídos a intervir e tomar as medidas necessárias contra os infratores.
De acordo com o governo do Talibã, a nova lei tem como objetivo evitar disputas e fomentar relações harmoniosas, promovendo o bem-estar da comunidade.
“É uma boa ordem, pois hoje em dia Cabul está cheia de prédios altos”, disse à EFE Surosh Ahmad, morador do bairro de Taimani, no noroeste da capital, além de afirmar que a privacidade dos vizinhos das casas tradicionais (mais baixas) “é ameaçada pelos prédios altos”.
Entretanto, outros moradores, como Rasool Sharifi, consideram a lei “inútil”, dizendo que os afegãos têm problemas maiores.
“O povo afegão está enfrentando muitos problemas, incluindo pobreza extrema, fome, catástrofe econômica, desemprego, violação dos direitos humanos e milhares de outros problemas, enquanto o líder do Talibã está pensando na construção de janelas”, declarou.
As mulheres afegãs sofreram um grave retrocesso em seus direitos desde que o Talibã chegou ao poder em agosto de 2021.
Desde então, os fundamentalistas proibiram a educação secundária e universitária das mulheres e as obrigaram a cobrir o rosto e a sair às ruas sempre acompanhadas por um membro masculino da família.
Essa regressão de direitos lembra cada vez mais a postura adotada pelos talibãs durante seu regime anterior, entre 1996 e 2001, quando, com base em uma interpretação rígida do Islã e em seu rigoroso código social conhecido como Pashtunwali, proibiram as mulheres de frequentar a escola e as confinaram em casa.