Anis Amri: agora ele é o principal suspeito do ataque desta semana a um mercado natalino de Berlim (Reuters)
Reuters
Publicado em 22 de dezembro de 2016 às 16h53.
Berlim/Roma - Em sua cidade natal pobre da Tunísia, Anis Amri bebia álcool e nunca rezava, dizem seus irmãos.
Depois de se unir a uma onda de imigrantes que cruzou o mar Mediterrâneo, ele acabou em uma prisão da Itália, de onde ressurgiu como um homem inteiramente mudado.
Agora ele é o principal suspeito do ataque desta semana a um mercado natalino de Berlim, e dois de seus irmãos, Walid e Abdelkader, temem que o postulante a asilo rejeitado possa ter sido radicalizado por extremistas islâmicos durante os quatro anos que passou atrás das grades.
"Ele não nos representa, nem a nossa família", disse Abdelkader ao canal Sky News Arabia. "Ele foi para a prisão com uma mentalidade e quando saiu tinha uma mentalidade totalmente diferente."
A polícia da Alemanha ainda não determinou quem lançou o caminhão sobre as barracas do mercado na segunda-feira, matando 12 pessoas, embora o ministro do Interior tenha dito haver uma "probabilidade alta" de que foi Amri.
Abdelkader, porém, disse ter certeza de que o irmão, que fez 24 anos nesta quinta-feira, é inocente do crime.
Se Amri foi radicalizado ou não é algo que ainda tem que ser provado, mas em Oueslatia, cidade rural que vive basicamente da agricultura, os irmãos disseram que algo mudou Amri profundamente depois de ele fazer a travessia perigosa para a Itália cinco anos atrás.
"Quando ele partiu da Tunísia ele era uma pessoa normal. Ele bebia álcool e nem rezava", contou Walid à rede de televisão. "Ele não tinha crenças religiosas. Meu pai, meu irmão e eu rezávamos, e ele não."
O ministro do Interior alemão, Thomas de Maizière, disse nesta quinta-feira que investigadores encontraram as impressões digitais de Amri, que está sendo procurado em toda a Europa, na porta do caminhão.
"Se ele fez isso, é uma desonra para nós. Mas tenho certeza de que ele não o fez. Ele foi para a Europa por razões sociais, para trabalhar e ajudar nossa família", afirmou Abdelkader aos repórteres.
Em prantos, Walid disse que o último contato com Amri aconteceu 10 dias atrás. "Estávamos em contato com ele pelo Facebook e por telefone, e ele não tem nenhuma relação com o terrorismo", declarou.
Uma fonte de alto escalão da polícia italiana informou à Reuters que Amri aportou na ilha de Lampedusa, provavelmente depois de ser resgatado no mar, em fevereiro de 2011.
Ele ficou em um abrigo onde imigrantes iniciaram um incêndio, destruindo partes da instalação para protestar depois de ficarem detidos no local.
Ele disse às autoridades que era menor de idade, embora hoje documentos mostrem que não era, e foi transferido para a cidade siciliana de Catânia, onde foi matriculado em um escola.
Em outubro de 2011 ele foi preso por tentativas de atear fogo em um edifício, segundo a fonte, e mais tarde condenado por vandalismo, ameaças e roubo.
Amri cumpriu a pena em ao menos duas prisões diferentes da Sicília, primeiro em Catânia e depois em Palermo, e em maio de 2015 foi encaminhado a um centro de detenção para aguardar sua deportação.
Indagado se ele se radicalizou na cadeia, a fonte policial respondeu que não sabe sobre esse período, e o diretor do sistema penitenciário não respondeu às perguntas da Reuters.
A Itália tentou deportar Amri para a Tunísia, cujas autoridades se recusaram a recebê-lo de volta dizendo não poder ter certeza de que ele é tunisiano, e por isso ele foi libertado depois de 60 dias, simplesmente instruído a deixar o país.
Oueslatia é uma das cidades pequenas típicas do centro e do sul da Tunísia, que oferecem pouca oportunidade para homens jovens e se tornaram um terreno fértil para recrutadores jihadistas.
A mídia alemã noticiou que, na Renânia do Norte-Vestfália, Amri teve contato com uma rede islâmica liderada por um homem conhecido como Abu Walaa ("Pai da Lealdade"), que foi preso com quatro outros homens em novembro.