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Subornar setor de educação está mais difícil na China

Pessoas com dinheiro podiam driblar restrições e enviar seus filhos às escolas mais prestigiadas, mas este ano está difícil encontrar alguém para subornar


	Escola na China: autoridades da área de educação estão levando a campanha anticorrupção do presidente Xi Jinping a sério
 (Guang Niu/Getty Images)

Escola na China: autoridades da área de educação estão levando a campanha anticorrupção do presidente Xi Jinping a sério (Guang Niu/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 23 de janeiro de 2015 às 15h26.

Pequim - Quatro meses depois do início do novo ano escolar, Chen Jin ainda está tentando matricular sua filha em uma das melhores escolas de Ensino Médio de sua cidade, onde moram mais de 10 milhões de pessoas, no norte da China. O problema: não há ninguém para subornar.

Nos anos anteriores, pessoas com dinheiro ou conexões puderam driblar as restrições residenciais e enviar seus filhos às escolas públicas mais prestigiosas.

Neste ano escolar, os funcionários do setor não estão mordendo a isca, porque as autoridades da área de educação estão levando a campanha anticorrupção do presidente Xi Jinping a sério.

“Eu não vou desistir”, disse Chen, cuja filha de 12 anos de idade vai a outra escola pública, perto de sua casa, em Shijiazhuang, na província de Hebei. Ela disse que está preparada para oferecer até 100.000 yuans (US$ 16.000). “Tem que ter um jeito”.

As dificuldades de Chen mostram como a iniciativa anticorrupção de Xi penetrou na China e chegou até os servidores de baixo escalão, com algumas consequências não intencionais.

Embora muitos quadros possam ter adotado uma postura correta por medo, a campanha ainda precisa mudar, de forma mais ampla, a mentalidade de que a corrupção é uma forma aceitável de lubrificar as engrenagens dos negócios ou de burlar as ineficiências crônicas, como as salas de aulas superlotadas, a remuneração ruim para os servidores públicos e a burocracia sem fim.

O observatório anticorrupção da China anunciou neste mês que cerca de 100.000 funcionários foram punidos nos últimos dois anos. Alguns dos piores infratores são as “moscas” que Xi prometeu combater, juntamente com os “tigres”.

A lista inclui o funcionário da empresa de fornecimento de água Ma Chaoqun, em Hebei, que enfrenta acusações depois que investigadores encontraram mais de 100 milhões de yuans e 37 quilos de ouro espalhados por 68 apartamentos. Um ex-vice-diretor do Zoológico de Pequim foi condenado a prisão perpétua sob acusações que incluem o desvio de 14 milhões de yuans.

Capturar tigres

“Em tese, matar as moscas, na verdade, é mais importante que capturar os grandes tigres”, disse Andrew Wedeman, professor de ciência política da Universidade do Estado da Geórgia, nos EUA, que estuda a política chinesa.

“A longo prazo, uma campanha anticorrupção busca mudar a ‘cultura de corrupção’ que leva a massa a acreditar que ‘todos estão fazendo isso e ninguém é preso’”.

A China ficou em 100o lugar no Índice de Percepção de Corrupção da Transparência Internacional, atrás de países como Sérvia, Ruanda e Brasil. Contudo, os esforços têm prejudicado as receitas em mesas de bacará de Macau a Las Vegas, desacelerou as vendas nas butiques de luxo de Hong Kong e limitou os generosos banquetes que eram de praxe entre as autoridades. Uma pesquisa da Bloomberg com economistas, no ano passado, apontou que a iniciativa diminuiria o crescimento do país em 0,1 a 0,4 ponto percentual em 2014 e 2015.

Para o homem de negócios Cai Xiaopeng, a mudança deixou seu telefone celular mais silencioso. Antes do Festival de Meados de Outono, em outubro passado, ele recebeu menos telefonemas de membros do governo pedindo presentes.

Não esqueça

Em um ano normal, Cai, que é presidente do conselho da Kingsberry Group, uma empresa com sede em Pequim que fabrica produtos à base de frutas em Pequim e Hebei, pagava em média 300 yuans (US$ 48) a mais de 100 membros de dezenas de departamentos para manter os relacionamentos.

Em 2014, ele teve que pagar cerca de 20 pessoas.

“Eles costumavam me ligar semanas antes do feriado dizendo para eu não esquecer os presentes deles”, disse Cai em entrevista. “As coisas estão ficando melhores”.

Cai disse que costumava gastar em torno de 1 milhão de yuans por ano, cerca de um terço da receita anual de sua empresa, para subornar autoridades e conseguir proteção contra intromissões ou punições.

Ele estima que no ano passado tenha economizado cerca de 800.000 yuans em subornos e que, como resultado disso, poderá investir em mais equipamentos.

Mantendo relacionamentos

“Eu espero que um dia eu não precise pagar propinas para nada, pois hoje eu ainda tenha que pagar para manter relacionamentos”, disse Cai. “As autoridades só vão parar de aceitar subornos se a campanha anticorrupção se tornar permanente”.

A falta de uma regulação efetiva ou de uma forma confiável de monitorar os abusos de poder tem dificultado a campanha de Xi, segundo Ren Jianming, professor de Administração da Universidade BeiHang, em Pequim, que assessorou a Comissão Central para Inspeção Disciplinar do Partido Comunista chinês.

“Existe uma necessidade urgente de estabelecer um sistema para regular as autoridades”, disse Ren. “A chamada campanha anticorrupção tem uma abordagem de cima para baixo e levará algum tempo para alcançar com plenitude o escalão mais baixo da hierarquia pública”.

Até lá, a campanha poderá, na realidade, aumentar o preço dos subornos. As autoridades exigem um pagamento maior porque aceitar dinheiro se tornou mais arriscado.

Ovos maiores

Esse é o problema enfrentado por um joalheiro da província central de Henan, que preferiu se identificar apenas pelo sobrenome, Xia. Agora as autoridades aceitam dinheiro apenas de pessoas em quem confiam e exigem montantes maiores.

“Custa mais para que as galinhas ponham ovos maiores”, disse Xia. Ele disse que teve que pagar o triplo do preço de costume quando buscou uma autorização para abrir novas lojas em outras cidades de Henan.

O chamado do presidente Xi de “tolerância zero sobre a corrupção” se mostrou revolucionário demais para alguns servidores da província de Shanxi, no norte da China. Um funcionário do setor de educação da cidade de Linfen disse que é mais difícil de detectar os subornos, mas que eles continuam ocorrendo.

Em uma temporada festiva regular em Linfen, uma cidade que possui enormes reservas de carvão de coque, as ruas ficavam entupidas de carros, pois os servidores saíam pela cidade comprando presentes uns para os outros, segundo o funcionário, que pediu para ser identificado apenas pelo sobrenome, Guo. No ano passado, as ruas ficaram vazias depois que a agência anticorrupção ordenou que os membros do governo recusassem presentes ou dinheiro, especialmente durante os feriados.

Listando as brechas

Garantir que o governo feche as brechas se tornou uma obsessão para Cai, da Kingsberry. Em uma reunião com funcionários da agência anticorrupção, em outubro, ele listou todas as brechas que poderiam dar oportunidades para que os servidores de baixo escalão pedissem dinheiro.

“É impossível matar todas as moscas sem uma mudança absoluta do sistema atual, que dá muito poder às autoridades”, disse Cai.

Nem todos compartilham do entusiasmo de Cai pela campanha. Assim como os servidores buscam propinas, há pessoas que querem pagá-las.

Chen Jin, a mãe de Shijiazhuang, diz que não descansará enquanto não encontrar um servidor disposto a aceitar o dinheiro para que ela possa colocar a filha em sua escola preferida.

“Eu não acredito que esses funcionários da escola possam manter a porta fechada para sempre”, disse ela. “Eles não poderão manter esse estilo de vida se renunciarem ao dinheiro”.

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