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Sob Dilma, Brasil terá relação mais positiva com EUA

Para Roberto Abdenur, ex-embaixador do Brasil em Washington, os dois países chegaram num momento em que a relação bilateral supera posições divergentes em fóruns

O diplomata acredita que  a presidente corrigiu os rumos da política externa brasileira (Wikimedia Commons)

O diplomata acredita que a presidente corrigiu os rumos da política externa brasileira (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 11 de março de 2011 às 16h18.

Brasília - A presidente Dilma Rousseff terá uma relação mais "objetiva" e "positiva" com os Estados Unidos do que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na avaliação do ex-embaixador do Brasil em Washington. Para Roberto Abdenur, a visita do presidente Barack Obama acontece no momento politicamente mais "oportuno" para os dois países.

Aposentado há quatro anos, Abdenur passou por Washington em duas oportunidades. A primeira entre 1973 e 1975, ainda no início da carreira diplomática, e a segunda, como embaixador do Brasil nos Estados Unidos, entre 2004 e 2007.

Após ter trabalhado para o governo Lula e ter conhecido Dilma, ele avalia que a relação bilateral terá avanços sob o comando dela.

"Se há um país no mundo com o qual ela interagiu muito ativamente foram os Estados Unidos", afirmou Abdenur em entrevista à Reuters.

Ele lembra que como ministra de Minas e Energia e da Casa Civil, a presidente ampliou seus laços com os norte-americanos.

"De maneira que eu acho que a presidente Dilma tem até, eu diria, uma visão mais objetiva, mais positiva do relacionamento com os Estados Unidos do que teve o presidente Lula."

O presidente norte-americano visita o Brasil nos dias 19 e 20 deste mês. Em Brasília, Obama terá reuniões de trabalho com Dilma e à noite leva a família para jantar no Palácio do Alvorada. No Rio, a agenda ainda não está definida. Em sua primeira visita à América do Sul, ele também irá ao Chile.

Para o diplomata, os dois países chegaram num momento em que a relação bilateral supera posições divergentes em fóruns multilaterais.


"Houve uma mudança muito grande, muito significativa na dinâmica dessa relação", disse. "Passou a ser uma relação verdadeiramente de mão dupla, e não só de interdependência, mas de entrelaçamento."

Abdenur acredita que agora é preciso um salto qualitativo na atuação dos dois países, uma "abordagem estratégica" para os futuros acordos.

Onu e Irã

O embaixador acredita que os Estados Unidos deveriam apresentar, por exemplo, o apoio formal à reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas e aceitar as pretensões brasileiras para ter um assento permanente no órgão. Em visita recente à Índia, Obama verbalizou o apoio dos EUA a pleito semelhante daquele país.

"Eu acho que seria muito importante que o Obama endossasse explicitamente o Brasil como um candidato sério a um assento permanente no Conselho de Segurança. Sobretudo, após o que ele fez na Índia", disse.

segundo o embaixador, esse tema estará na pauta da Assembleia Geral da ONU no segundo semestre e deve ser retomado justamente pelos quatro países que defendem a mudança: Brasil, Alemanha, Japão e Índia. "O mérito do Brasil é não ter a bomba, é ser um país que contribuiu decisivamente para sua vizinhança num ambiente de paz e tranquilidade", argumentou.

A expectativa de Abdenur, que é confesso defensor da ampliação do Conselho de Segurança, esbarra na desconfiança dos Estados Unidos em relação à qual seria a atuação do Brasil no órgão, que se acentuou depois da atuação de Lula em favor de um acordo internacional que permitiria que o Irã recebesse urânio enriquecido de outro país para levar adiante seu programa nuclear.

"O Irã é uma questão muito candente não só para os Estados Unidos, mas para outros países europeus e para muitos países árabes é uma questão séria no plano internacional. O governo Lula exagerou, foi longe demais na sua fraternidade com o governo iraniano. Isso casou muito mal-estar nos Estados Unidos, um desencontro que sim teve impacto e envenenou a atmosfera da relação bilateral," avaliou.

O embaixador acredita, no entanto, que em alguma medida Dilma já tenha corrigido os rumos da política externa brasileira nesse ponto.


"O governo Dilma fez uma correção de rumos, não em atenção aos interesses ou às posturas americanas, mas pelo próprio interesse do Brasil, porque o episódio do Irã no caso brasileiro foi uma anomalia", argumentou.

China

O gigante chinês pode aproximar ainda mais as duas maiores economias das Américas. Para Abdenur, Brasil e Estados Unidos não vão se unir para enfrentar a China, mas podem adotar algumas estratégias para evitar perda de terreno para empresas chinesas na África, por exemplo. "Não há duvida de que há motivação comum em relação à África", disse.

Segundo informações obtidas pela Reuters. Obama planeja oferecer financiamentos que envolveriam joint ventures de empresas brasileiras e norte-americanas na África.

"Não há dúvida de que no caso especifico tanto empresas brasileiras como americanas podem estar perdendo terreno para a forte investida chinesa na África, de maneira que a ideia de somar esforços aqui e lá é válida", disse.

"Não há duvidas que há situações na África em que o Brasil pode ser o veículo mais confortável para um empreendimento conjunto. E outros em que os Estados Unidos liderem e o Brasil vá junto."

Depois de quatro décadas na carreira diplomática, Abdenur acredita que as recentes mudanças do mundo aproximaram Brasil e Estados Unidos e, agora, Dilma e Obama tem a chance de dar início a uma nova trajetória na relação em busca de grandes objetivos comuns.

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