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Sissi vence eleição no Egito e legitima o poder do Exército

A vitória era mais que esperada em um país no qual as vozes dissidentes foram reprimidas e os opositores são julgados e detidos

Abdel-Fattah el-Sissi: votação para presidente registrou índice de abstenção superior a 50% (Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 29 de maio de 2014 às 19h21.

O ex-comandante do Exército egípcio Abdel Fatah al-Sissi venceu a eleição presidencial com 96% dos votos, segundo resultados provisórios, o que legitima o poder das Forças Armadas no país, onze meses depois da destituição do único presidente civil da história do Egito, o islamita Mohamed Mursi.

A vitória era mais que esperada em um país no qual as vozes dissidentes foram reprimidas e os opositores são julgados e detidos.

Mas a votação registrou um índice de abstenção superior a 50%.

Os partidários do deposto Mursi foram as primeiras vítimas da repressão implacável comandada por Sissi, que deixou mais de 1.400 mortos e quase 15.000 detidos. Agora os alvos das forças de segurança e da justiça são os jovens progressistas.

Três anos depois da revolução que derrubou Hosni Mubarak, também militar, como todos os presidentes egípcios desde a queda da monarquia em 1952, os ativistas dos direitos humanos acusam as autoridades de terem instaurado, desde julho de 2013, um regime ainda mais autoritário que o de Mubarak.

O resultado do marechal na reserva devolve o país "a uma configuração que não se esperava depois das revoluções árabes de 2011", afirma Karim Bitar, diretor de pesquisas do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas.

"Poucas pessoas poderiam imaginar depois da queda de Mubarak que, três anos mais tarde, um novo marechal com óculos escuros seria eleito com 96% dos votos, sem ter feito campanha ou ter apresentado um programa eleitoral", completa o analista.

O que provoca questionamentos sobre o resultado é o impressionante índice de abstenção e o fato de as autoridades terem adicionado um terceiro dia de votações para aumentar a taxa de participação.

Após a medida, considerada uma porta aberta para fraudes pelos críticos de Sissi, um membro da Comissão Eleitoral anunciou ao jornal oficial Al-Ahram que compareceram às urnas "aproximadamente" 25 milhões de eleitores dos 54 milhões de registrados. De acordo com a fonte, o número ainda poderia aumentar e alcançar 50% de participação.

O pesquisador Shaid Hamid, do Saban Center (EUA), escreveu que "não há nenhum meio para comprovar os números do governo, não existe nenhuma contagem paralela ou um número suficiente de observadores internacionais".

Sissi pediu pelo menos "45 milhões" de votos, para tentar superar a taxa de 52% de participação de 2012, quando a eleição foi vencida pelo candidato da Irmandade Muçulmana, Mohamed Mursi.

Apoio unânime da imprensa

A coalizão dos partidários de Mursi, que convocou um boicote das eleições, considerou uma vitória as imagens dos locais de votação vazios e chamou de "queda do golpe de Estado militar" de 3 de julho.

Os meios de comunicação, que apoiam de maneira unânime Sissi e chamam a Irmandade Muçulmana de "terrorista", fizeram campanha desesperada para que os cidadãos votassem e incluíram ameaças no pedido, em um país acostumado a importantes níveis de abstenção.

"Apesar de a imprensa oficial ter contribuído para mostrar Sissi como um salvador, esta ação constante não serviu para mobilizar as massas", disse Karim Bitar.

A organização Human Rights Watch afirmou que "o clima de repressão sufoca a imparcialidade das eleições". Também recordou que "as milhares de detenções de opositores, islamitas e laicos, retiraram o significado da votação".

O único adversário de Sissi, o líder esquerdista Hamdeen Sabbahi, recebeu apenas 3,8% dos votos, segundo os números não oficiais divulgados pela imprensa governamental, com base em 88,6% dos locais de votação.

Sabbahi reconheceu sua derrota nesta quinta e garantiu que respeitava "a vontade popular", em uma coletiva de imprensa no Cairo.

Já o governo americano manifestou sua preocupação com o clima político antes da eleição marcado por "detenções políticas e pelas limitações à liberdade de imprensa".

"Democracia é muito mais do que eleições, e continuaremos pressionando para que haja progressos em todos os âmbitos", indicou Jen Psaki, porta-voz do Departamento de Estado americano.

O resultado oficial deve ser divulgado dentro de alguns dias, mas na quarta-feira à noite milhares de partidários de Sissi comemoraram nas ruas, especialmente na Praça Tahrir, epicentro das revoltas.

Os cartazes com fotos do marechal dominam os muros do país desde a destituição de Mursi, em 3 de julho de 2013.

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O ex-comandante do Exército egípcio Abdel Fatah al-Sissi venceu a eleição presidencial com 96% dos votos, segundo resultados provisórios, o que legitima o poder das Forças Armadas no país, onze meses depois da destituição do único presidente civil da história do Egito, o islamita Mohamed Mursi.

A vitória era mais que esperada em um país no qual as vozes dissidentes foram reprimidas e os opositores são julgados e detidos.

Mas a votação registrou um índice de abstenção superior a 50%.

Os partidários do deposto Mursi foram as primeiras vítimas da repressão implacável comandada por Sissi, que deixou mais de 1.400 mortos e quase 15.000 detidos. Agora os alvos das forças de segurança e da justiça são os jovens progressistas.

Três anos depois da revolução que derrubou Hosni Mubarak, também militar, como todos os presidentes egípcios desde a queda da monarquia em 1952, os ativistas dos direitos humanos acusam as autoridades de terem instaurado, desde julho de 2013, um regime ainda mais autoritário que o de Mubarak.

O resultado do marechal na reserva devolve o país "a uma configuração que não se esperava depois das revoluções árabes de 2011", afirma Karim Bitar, diretor de pesquisas do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas.

"Poucas pessoas poderiam imaginar depois da queda de Mubarak que, três anos mais tarde, um novo marechal com óculos escuros seria eleito com 96% dos votos, sem ter feito campanha ou ter apresentado um programa eleitoral", completa o analista.

O que provoca questionamentos sobre o resultado é o impressionante índice de abstenção e o fato de as autoridades terem adicionado um terceiro dia de votações para aumentar a taxa de participação.

Após a medida, considerada uma porta aberta para fraudes pelos críticos de Sissi, um membro da Comissão Eleitoral anunciou ao jornal oficial Al-Ahram que compareceram às urnas "aproximadamente" 25 milhões de eleitores dos 54 milhões de registrados. De acordo com a fonte, o número ainda poderia aumentar e alcançar 50% de participação.

O pesquisador Shaid Hamid, do Saban Center (EUA), escreveu que "não há nenhum meio para comprovar os números do governo, não existe nenhuma contagem paralela ou um número suficiente de observadores internacionais".

Sissi pediu pelo menos "45 milhões" de votos, para tentar superar a taxa de 52% de participação de 2012, quando a eleição foi vencida pelo candidato da Irmandade Muçulmana, Mohamed Mursi.

Apoio unânime da imprensa

A coalizão dos partidários de Mursi, que convocou um boicote das eleições, considerou uma vitória as imagens dos locais de votação vazios e chamou de "queda do golpe de Estado militar" de 3 de julho.

Os meios de comunicação, que apoiam de maneira unânime Sissi e chamam a Irmandade Muçulmana de "terrorista", fizeram campanha desesperada para que os cidadãos votassem e incluíram ameaças no pedido, em um país acostumado a importantes níveis de abstenção.

"Apesar de a imprensa oficial ter contribuído para mostrar Sissi como um salvador, esta ação constante não serviu para mobilizar as massas", disse Karim Bitar.

A organização Human Rights Watch afirmou que "o clima de repressão sufoca a imparcialidade das eleições". Também recordou que "as milhares de detenções de opositores, islamitas e laicos, retiraram o significado da votação".

O único adversário de Sissi, o líder esquerdista Hamdeen Sabbahi, recebeu apenas 3,8% dos votos, segundo os números não oficiais divulgados pela imprensa governamental, com base em 88,6% dos locais de votação.

Sabbahi reconheceu sua derrota nesta quinta e garantiu que respeitava "a vontade popular", em uma coletiva de imprensa no Cairo.

Já o governo americano manifestou sua preocupação com o clima político antes da eleição marcado por "detenções políticas e pelas limitações à liberdade de imprensa".

"Democracia é muito mais do que eleições, e continuaremos pressionando para que haja progressos em todos os âmbitos", indicou Jen Psaki, porta-voz do Departamento de Estado americano.

O resultado oficial deve ser divulgado dentro de alguns dias, mas na quarta-feira à noite milhares de partidários de Sissi comemoraram nas ruas, especialmente na Praça Tahrir, epicentro das revoltas.

Os cartazes com fotos do marechal dominam os muros do país desde a destituição de Mursi, em 3 de julho de 2013.

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