Manifestantes em Le Havre, noroeste da França, em 18 de outubro de 2022 (AFP/Reprodução)
AFP
Publicado em 18 de outubro de 2022 às 09h57.
Última atualização em 18 de outubro de 2022 às 10h03.
A França vive um dia de greve nesta terça-feira (18), especialmente visível nos transportes, para exigir um aumento salarial para compensar a inflação e denunciar a resposta do governo à paralisação nas refinarias.
Na parte da manhã, na Gare de Lyon parisiense, os franceses se armaram de paciência para pegar o trem. "Normalmente levo uma hora e meia. Hoje terei duas ou três pela frente", disse Yera Diallo à AFP.
Em Toulouse (sul), Frédéric Mercier Hadisyde, um engenheiro de 58 anos, chegou duas horas mais cedo do que o habitual para pegar o trem para Paris.
"Tive medo de distúrbios, então me organizei. Eu simpatizo com eles, eu os entendo", confessou.
No entanto, de acordo com uma pesquisa da Elabe, 49% dos franceses desaprovam a greve, que no setor de transporte pode ser prolongada, informou o sindicato CGT nesta terça, poucis dias antes do início, na sexta-feira, de duas semanas de férias escolares na França.
Estudantes, funcionários públicos, comerciantes, trabalhadores do setor de energia e dos transportes, etc., foram convocados à greve pelo sindicato CGT e outros três para defender o direito à greve e exigir aumento salarial.
"Pedimos um salário mínimo de 2.000 euros (US$ 1.970), o que equivale a um aumento de 300 euros (US$ 295)", disse o secretário-geral da CGT, Philippe Martinez, na rádio RTL, defendendo ainda um reajuste de acordo com a inflação.
A França, segunda maior economia da União Europeia (UE), registrou em setembro a menor taxa de inflação harmonizada da zona do euro, 6,2%, abaixo de outras economias como Alemanha (10,9%), Itália (9,5%) e Espanha (9,3%), segundo o Eurostat.
Mas o clima social é tenso. O medo de perder poder aquisitivo foi a principal preocupação dos franceses durante o último ciclo eleitoral de abril a junho e o apelo para economizar energia para evitar apagões no inverno torna o ambiente ainda mais hostil.
Quando a França começava a virar a página da pandemia, a Rússia invadiu a Ucrânia, o que, juntamente com a resposta de Moscou às sanções ocidentais, fez disparar os preços da energia e dos alimentos.
Com a experiência do protesto social dos "coletes amarelos", cujo gatilho em 2018 foi o aumento dos preços dos combustíveis, o governo do presidente liberal Emmanuel Macron aprovou rapidamente medidas para limitar a alta dos preços da energia.
Mas a gota d'água para os sindicatos foi que o governo requisitou grevistas da TotalEnergies para aliviar o desabastecimento nos postos de combustível.
Além do aumento salarial, os grevistas pedem uma melhor distribuição dos lucros obtidos pela gigante energética - mais de 10 bilhões de dólares no primeiro semestre de 2022 -, uma reivindicação que mais da metade dos franceses entende.
Ao se recusar a tributar esses "superlucros" em nível nacional, Macron colocou o governo "no campo dos grandes patrões, em total desconexão com grande parte dos franceses que sofrem com a inflação todos os dias", segundo um editorial do jornal Libération.
O Executivo se dispõe até mesmo a recorrer a um polêmico método parlamentar, chamado 49.3, para aprovar o seu orçamento para 2023 sem a necessária votação da Assembleia Nacional (câmara baixa), que o debate neste momento.
Macron busca assim evitar as emendas adotadas pelos deputados contra a opinião de seu governo, como o aumento do imposto sobre "superdividendos". O porta-voz do Executivo, Olivier Véran, anunciou que poderia ativar este procedimento na quarta-feira.
Com essa medida, o presidente corre o risco de reforçar sua imagem "autoritária", apesar de ter prometido mudar após sua reeleição em abril, e tensionar ainda mais o ambiente antes da chegada da explosiva reforma previdenciária no início de 2023.
O atraso na idade de aposentadoria de 62 para 65 anos que Macron deseja implementar colide com a oposição frontal dos sindicatos, incluindo o reformista CFDT, e a oposição da esquerda e da extrema direita.
Sua primeira tentativa em 2019 e 2020 também gerou protestos massivos nas ruas, mas o líder de 44 anos, que fez dessa reforma um de seus cavalos de batalha, chegou a ameaçar dissolver a Assembleia e convocar novas eleições, se não for aprovada agora.
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