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Sindicato argentino retoma protestos contra demissões em massa no Estado

Estão em curso grandes manifestações em frente à sede do Ministério da Economia, próximo à Casa Rosada, onde a polícia guarda o perímetro

Membros da Associação de Trabalhadores do Estado (ATE) protestam em frente ao Ministério da Economia contra demissões em massa em Buenos Aires (Luis Robayo/AFP Photo)
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 5 de abril de 2024 às 18h50.

Última atualização em 5 de abril de 2024 às 19h28.

A Associação de Trabalhadores do Estado (ATE) retomou os protestos contra o governo do presidente argentino, Javier Milei , nesta sexta-feira, e convocou uma greve setorial em todo o país depois de a Casa Rosada ter confirmado que cerca de 15 mil servidores públicos não tiveram seus contratos de trabalho renovados desde a chegada do líder ultraliberal ao poder, em dezembro de 2023.

Membros do sindicato e de grupos de esquerda foram à sede do Ministério da Economia, localizada a poucos metros do palácio presidencial, exigir que a medida seja revertida, mas tiveram sua entrada bloqueada pela polícia. A ATE exige que Milei publique a “lista” dos "supostos funcionários fantasmas" que foram removidos de seus cargos públicos.

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"Se o governo não publicar a lista dos supostos funcionários fantasmas, deverá determinar a reintegração e o pagamento imediato da remuneração a todos os demitidos, porque até agora não foi possível provar em nenhum caso a causa invocada de “não prestação de serviços”, disse Rodolfo Aguiar, secretário-geral do sindicato, nesta sexta-feira.

Esta semana, grupos de ex-trabalhadores do Estado tentaram ocupar outros ministérios em Buenos Aires, mas também foram reprimidos por forças de segurança.

A tensão está escalando, em meio a negociações do governo com o Fundo Monetário Internacional ( FMI ), nas quais a Casa Rosada pretende conseguir a antecipação de pagamentos para continuar financiando um programa econômico que ainda não mostra sinais de recuperação. O sindicato dos professores realizou uma greve nacional na quinta-feira, e o dos caminhoneiros ameaçou “paralisar" o país semana que vem. Com este pano de fundo, o governo também tenta uma aproximação com os governadores que facilite a aprovação de um novo projeto de reformas no Parlamento — entre elas uma profunda mudança nas normas trabalhistas.

A crise pela demissão em massa de servidores levou à renúncia da agora ex-subsecretária de Trabalho, Mariana Hortai Sueldo, que alegou “motivos pessoais” para solicitar seu afastamento em momentos de fortes embates entre a Casa Rosada e importantes sindicatos locais. A ATE fala em uma greve geral, em repúdio aos cortes implementados pelo governo de Milei .

Nas redes sociais, sindicalistas argentinos avisaram que a mobilização dos trabalhadores estatais está apenas começando. "Os demitidos entraram [ aos ministérios e órgãos públicos ] abraçados e chorando. O presidente deve saber que essas lágrimas que foram derramadas não serão em vão”, escreveu em sua conta na rede X (antigo Twitter) o secretário-geral da ATE, Rodolfo Aguiar, na quinta-feira.

Na conta da ATE, o sindicato afirma que “as demissões têm uma clara marca de gênero, deixando, em sua maioria, mulheres que sustentam suas famílias sem renda. Também vale esclarecer que os contratos não renovados não chegam ao salário mínimo, deixando sem recursos famílias que mesmo com emprego viviam abaixo da linha da pobreza”.

Segundo informações publicadas pela imprensa local, longe de recuar, Milei pretende continuar avançando com as demissões no Estado. Em reunião com seus ministros, esta semana, o presidente orientou todo o Gabinete, de acordo com reportagem do jornal El Cronista, a continuar cortando postos de trabalho nos próximos meses.

"Aconteça o que acontecer, temos de continuar avançando para alcançar o déficit [ fiscal ] zero, porque assim as metas de recuperação da economia serão cumpridas e vamos melhorar a situação da Argentina", disse Milei a seus ministros, segundo o jornal argentino.,

A União de Servidores Civis da Nação (UPCN, na sigla em espanhol), apresentou um recurso na Justiça para pedir que as demissões sejam suspensas. Os sindicatos argentinos estão dispostos a tudo, até mesmo a convocar uma segunda greve geral contra o governo de Milei (a primeira foi em 24 de janeiro), apesar de o chefe de Estado ainda contar com uma expressiva base de apoio social. Segundo pesquisas recentes, a imagem positiva do presidente está entre 48% e 50%, e quase 40% dos argentinos acreditam que Milei conseguirá derrotar a inflação, hoje o principal problema que afeta a classe média e os setores mais vulneráveis da Argentina.

Lideranças sindicais estão em estado de alerta, avaliando a convocação de novas paralisações. O sindicato dos caminhoneiros é um dos mais combativos e um de seus principais dirigentes, Pablo Moyano, anunciou que se o governo não der seu aval ao acordo de reajuste salarial fechado com empresas privadas — que prevê um aumento de 45% — a Argentina ficará paralisada.

"Se o acordo não for autorizado nem uma folha vai se mexer no país", ameaçou Moyano, filho do histórico líder dos caminheiros argentino Hugo Moyano.

O dirigente peronista e líder de grupos da sociedade civil Juan Grabois, é outro dos mais duros críticos do governo de Milei na mídia e nas redes sociais. Em seus últimos posts, Grabois disse que todos os dias recebe mensagens de pessoas pedindo ajuda: “São famílias que ficaram sem renda, famílias desesperadas, ainda por cima humilhadas por um discurso oficial no qual todos são acusados de não trabalhar ou de seus trabalhos são corruptos”.

Do lado do governo, a narrativa é diametralmente oposta. O porta-voz da Casa Rosada, Manuel Adorni, afirmou que por trás de cada demissão “existe um contribuinte que sustenta [ esse servidor ] e tem problemas para chegar ao fim do mês”.

"Isso não é justo… o que estamos fazendo é parte do plano para reduzir os gastos públicos, para que os servidores que não sejam necessários não continuem recebendo recursos do Estado", declarou Adorni.

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