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Separatistas de Nagorno-Karabakh aceitam entregar armas e anunciam trégua com Azerbaijão

Enclave de maioria armênia vive nova escalada da tensão após Baku ter reportado a morte de quatro policiais e dois civis em explosões de minas

Nagorno-Karabakh: as duas partes também anunciaram que começarão a negociar na quinta-feira (AFP/AFP)

Nagorno-Karabakh: as duas partes também anunciaram que começarão a negociar na quinta-feira (AFP/AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 20 de setembro de 2023 às 09h32.

Os separatistas armênios de Nagorno-Karabakh anunciaram nesta quarta-feira que entregarão as armas como parte de uma trégua com o Azerbaijão, após a operação militar iniciada na véspera por Baku, que deixou dezenas de mortos. O governo armênio, no entanto, se afastou da trégua e disse nesta quarta-feira que não participou da elaboração do pacto de cessar-fogo.

— A Arménia não participou na elaboração do texto da declaração de cessar-fogo em Nagorno-Karabakh sob a mediação das forças de paz russas — disse o primeiro-ministro Nikol Pashinyan.

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Yerevan reiterou “não tem Exército” no enclave montanhoso, reconhecido internacionalmente como parte do Azerbaijão — os dois países entraram em guerra pela última vez há três anos. Pashinyan vem sendo pressionado internamente desde que perdeu a última guerra pela disputa do território, em 2020.

As duas partes também anunciaram que começarão a negociar na quinta-feira a reintegração ao Azerbaijão de Nagorno-Karabakh, segundo os termos do cessar-fogo alcançado com a mediação das forças de paz russas e que entrou em vigor nesta quarta-feira.

"Alcançamos um acordo sobre a retirada das unidades e militares restantes das Forças Armadas armênia (...) e sobre a dissolução e desarmamento completo das formações armadas do Exército de Defesa de Nagorno-Karabakh", afirmou a Presidência separatista em um comunicado.

As tensões aumentaram nos últimos meses no entorno do enclave. Nesta terça, Baku deixou claro que a última ofensiva só terminaria com a rendição, pedindo a retirada "total e incondicional" da Armênia desse enclave montanhoso do sul do Cáucaso.

“A única forma de alcançar a paz e a estabilidade na região é a retirada incondicional e completa das Forças Armadas armênias da região de Karabakh, no Azerbaijão, e a dissolução do chamado regime (armênio)”, afirmou o Ministério da Defesa do Azerbaijão em comunicado.

O governo da Armênia, por sua vez, defende que não possui tropas na região, o que implica que os seus aliados estão sozinhos para enfrentar as “operações antiterroristas”.

Já os habitantes do enclave culparam a comunidade internacional por não ter conseguido evitar outra escalada de violência.

“Ao ignorarem os avisos sobre as intenções criminosas do Azerbaijão e se recusarem a agir, todos os intervenientes internacionais responsáveis não conseguiram impedir mais uma agressão do Azerbaijão contra Artsakh”, afirmaram em comunicado, usando o termo armênio para Karabakh.

Estima-se que 120 mil armênios étnicos vivam no enclave montanhoso. Nos últimos nove meses, o Azerbaijão impôs um bloqueio à única rota da Armênia para a região, conhecida como Corredor de Lachin.

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Civis são retirados

Desde o final de 2020, 3 mil russos monitorizaram a frágil trégua, mas a atenção de Moscou foi desviada após a invasão da Ucrânia. A Rússia afirmou, nesta terça, que seus soldados retiraram quase 500 pessoas das áreas de maior risco. Já o Azerbaijão afirmou ter aberto corredores humanitários para permitir a retirada de civis.

“Para garantir a remoção da população da zona de risco, foram estabelecidos corredores humanitários e pontos de recepção na estrada de Lachin e em outras direções”, afirmou o Ministério da Defesa do Azerbaijão num comunicado.

O ministério insistiu que não tinha como alvo civis e que “apenas alvos militares legítimos e infraestruturas militares” foram bombardeados. Já os separatistas de Nagorno-Karabakh denunciaram a “violação do regime de cessar-fogo” por parte do Azerbaijão em toda a linha de contato, com “ataques de mísseis e artilharia”.

— Estamos assistindo ao Azerbaijão se mover para a eliminação física da população civil e a destruição dos alvos civis — disse à agência italiana Ansa Sergei Ghazaryan, ministro das Relações Exteriores da autoproclamada República de Artsakh.

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Num breve discurso televisionado, o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, rejeitou as alegações de que os seus militares estariam envolvidos nos confrontos e acusou o Azerbaijão de lançar uma “operação terrestre destinada à limpeza étnica dos armênios de Nagorno-Karabakh”.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Moscou, Maria Zakharova, afirmou que o país está “preocupado com a repentina escalada” da tensão e cobrou o respeito à trégua. Segundo ela, a Rússia foi avisada da ofensiva do Azerbaijão com apenas alguns minutos de antecedência. A porta-voz instou ambos os países a respeitar o cessar-fogo assinado após a guerra em 2020.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse no X (antigo Twitter) que “as ações militares inaceitáveis do Azerbaijão correm o risco de agravar a situação humanitária em Nagorno-Karabakh” e pediu o fim imediato das hostilidades.

Já o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, apelou ao Azerbaijão para cessar imediatamente as suas operações militares na região. “As ações militares do Azerbaijão devem ser interrompidas imediatamente para permitir um diálogo franco entre os armênios de Baku e Karabakh”, disse Michel na rede X, antigo Twitter.

Histórico de disputas

Nagorno-Karabakh proclamou a sua independência de Baku quando a União Soviética se desintegrou, desencadeando um conflito armado vencido pelos armênios no início da década de 1990. Com a vitória, a Armênia ficou com controle de cerca de 13% da área total do território azeri. Baku, por sua vez, recuperou parte da região em uma ofensiva em 2020, aproveitando seus lucros com gás natural para comprar armamento superior da Turquia e de Israel.

Durante cerca de um mês e meio, Azerbaijão e Armênia guerrearam pela posse de Nagorno-Karabakh naquele ano, mas um cessar-fogo em vigor desde 10 de novembro de 2020 interrompeu o conflito, que deixou milhares de mortos.

Embora o Azerbaijão tenha vencido a guerra, no entanto, ainda não alcançou todos os seus objetivos, incluindo um corredor terrestre para o enclave de Naquichevão, uma fatia separada do território do Azerbaijão na fronteira sudoeste da Armênia, que daria ao país uma ligação direta com a Turquia. Também pretende exercer maior controle sobre o Corredor Lachin, alegando que a Armênia o usa para transportar minas terrestres ilegalmente para Nagorno-Karabach

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