Sem trégua no Natal: sindicatos franceses param contra previdência
Ontem, um grande aliado do governo e principal articulador da reforma da previdência de Macron renunciou ao cargo
Da Redação
Publicado em 17 de dezembro de 2019 às 05h52.
Última atualização em 17 de dezembro de 2019 às 06h32.
São Paulo — Pela terceira vez nos últimos dez dias, sindicatos de diversas categorias profissionais da França prometem paralisar o país nesta terça-feira contra a reforma da previdência do presidente Emmanuel Macron . Embora o governo venha tentando negociar, categorias como a dos ferroviários garantem que não haverá trégua. A mobilização pode afetar mais de seis mil viagens ferroviárias de longa distância que são previstas para as férias de fim do ano no país, que começam no próximo sábado.
A previdência francesa é uma colcha de retalhos com 42 sistemas diferentes para as mais diversas categorias, e foi reformado em doses homeopáticas ao menos setes vezes nos últimos 30 anos. Os trabalhadores ferroviários podem se aposentar aos 57 anos, e estão entre os principais alvos da nova proposta.
Assim como os últimos dez dias, o domingo foi marcado por greves no setor de transporte, causando caos nas frotas de trens e metrô, principalmente em Paris.Na França , os trens, tanto para rotas nacionais quanto internacionais, são um dos meios de locomoção mais utilizados. A partir do dia 21, grande parte da população entra nas chamadas férias de Natal, o que aumenta o volume de passageiros.
O primeiro-ministro do país, Edouard Philippe, declarou que “o Natal é uma época importante e todos terão que assumir responsabilidades. Não acho que os franceses aceitem que algumas pessoas possam privá-los desse momento”.
Os funcionários ferroviários em greve, no entanto, dizem que não haverá trégua. “Se o governo deseja que o conflito termine antes das festas, tem uma semana inteira para tomar a decisão necessária: a retirada da reforma”, disse Laurent Brun, secretário-geral do CGT-Cheminots, principal sindicato de funcionários da empresa ferroviária SNCF.
Mesmo sob o caos, pesquisas mostram que 54% dos franceses aprovam as greves contra a reforma da previdência. Na semana passada, Macron tentou atenuar seu projeto excluindo pessoas nascidas antes de 1975 das mudanças nas regras de aposentadoria. A medida não foi suficiente para apaziguar os protestos.
Além da resistência popular, ontem, o presidente francês sofreu um grande golpe com a renúncia do principal articulador da reforma da previdência, Jean-Paul Delevoye. O alto comissário para Pensões do governo abdicou depois que a mídia local noticiou que ele não declarou publicamente os cargos que ocupava paralelamente à sua posição na administração pública.
A pressão pela demissão aumentou devido a um potencial conflito de interesse, uma vez que Delevoye não havia revelado ocupar outros 13 postos paralelamente ao governo, incluindo o de administrador voluntário de um instituto de treinamento de seguros — um setor que poderia ser beneficiado pela reforma da Previdência.