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Da Redação
Publicado em 26 de julho de 2012 às 21h35.
Buenos Aires - As homenagens a Eva Duarte Perón motivaram algumas mensagens bastante singulares na Argentina nesta quinta-feira, como a de Cristina Kirchner, que proclamou que o kirchnerismo ressuscitou o legado de Evita, ou o do líder sindical Hugo Moyano, que utilizou a ''porta-bandeira dos humildes'' em sua ''guerra'' contra a presidente.
Mesmo 60 anos depois sua morte, Evita, um dos grandes mitos do imaginário argentino, volta a ser pretexto para disputas internas entre as distintas famílias peronistas, como aconteceu na década de 1970, quando o grupo guerrilheiro Montoneiros se proclamou herdeiro de seu legado e popularizou o slogan ''Se Evita vivesse, seria Montonera''.
Hoje, Cristina Kirchner se referiu a Evita como ''eterna e única'', e assegurou que conseguiu cumprir sua profecia, ''voltarei e serei milhões'', graças ao governo iniciado por seu marido e antecessor, o falecido Néstor Kirchner.
''Um dia voltamos para que ela, que tinha prometido voltar e ser milhões, cumprisse sua própria profecia de voltar a uma Argentina diferente'', afirmou Cristina diante das mais de 100 mil pessoas que, segundo meios oficiais, participaram da homenagem oficial a Eva Duarte Perón.
''Digam-me se não estamos fazendo as coisas para completar o legado e esse mandato histórico que deixou para todo aquele que se sentisse peronista'', discursou a governante à multidão na cidade de José C. Paz, na província de Buenos Aires.
Segundo Cristina, Evita se reencarnou nas mais variadas ações de seu governo: desde os dois milhões de netbooks entregues aos estudantes do ensino público até os fundos privados de pensões naturalizados durante sua gestão.
''Digam-me se esta maravilhosa Tecnópolis não é uma moderna cidade das crianças'', se perguntou a presidente para comparar a instalação tecnológica inaugurada por ela com o inovador projeto infantil criado pela segunda esposa do general Juan Domingo Perón e que foi declarado Monumento Histórico Nacional.
Cristina vê o espírito de Evita inclusive na aprovação da lei de casamento entre pessoas de mesmo sexo promovida por seu governo porque ''Onde acham que estaria Evita? Com quem ela teria votado?'', questionou.
Mas, ''onde a vejo mais claramente é nas centenas de milhares de jovens argentinos que se incorporaram à política e que a levam em seus corações, em suas bandeiras, em suas camisetas...'', declarou a presidente, que revalidou seu mandato em outubro do ano passado com um triunfo eleitoral, apoiado em organizações juvenis kirchneristas.
Embora visivelmente emocionada pela evocação a Evita e a seu falecido marido, Cristina Kirchner não perdeu a oportunidade de atingir seus adversários políticos e dirigiu mensagens claras ao líder da poderosa Central Geral do Trabalho (CGT), Hugo Moyano, seu antigo aliado e hoje grande inimigo.
''Posso entender que não nos queiram ou que nos desprezem, mas me custa entender que alguém vindo de baixo se junte com aqueles que sempre nos atacaram para destruir a unidade deste movimento'', disse sem mencionar o líder sindical.
Minutos depois foi Moyano, em uma homenagem paralela a Evita, quem utilizou a figura da esposa de Perón em sua guerra contra Cristina: ''Evita tinha a característica mais importante que pode ter o ser humano, a humildade''.
''Quem dera a imitassem na humildade (...) infelizmente é difícil, quando alguém tem essa soberba é difícil imitá-la'', acrescentou o líder sindical, que não hesitou em se autoqualificar como ''opositor''.
''Se estar do lado dos trabalhadores é ser opositor, então sou opositor'', sentenciou.
Desde que se tornou primeira-dama, Eva Duarte rompeu os moldes da política argentina, transformou-se em interlocutora do movimento operário e abriu passagem ao sufrágio feminino antes de sua morte prematura, em 26 de julho de 1952, aos 33 anos, vítima de um câncer de útero.