Romário quer uma intervenção da presidente Dilma Rousseff na CBF de Ricardo Texeira (Mark Kolbe/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 6 de janeiro de 2012 às 11h05.
Camisa 11 da seleção brasileira na Copa de 1994, Romário não tem papas na língua. Mesmo depois de assumir mandato como deputado federal pelo PSB do Rio de Janeiro, ele não deixou de falar palavrões, nem de criticar os integrantes do alto escalão do futebol brasileiro. Seu alvo, em especial, é o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira.
Em entrevista exclusiva ao site de Veja, Romário diz pela primeira vez – e com todas as letras - que defende a demissão do presidente da CBF. Caso Teixeira decida continuar no cargo, Romário quer uma intervenção da presidente Dilma Rousseff no órgão.
O mais recente dos incontáveis escândalos que rondam o presidente da CBF diz respeito ao recebimento de propina da agência de marketing ISL. A empresa anunciou falência em 2001 e se envolveu no pagamento ilegal de mais de 100 milhões de dólares a representantes da Federação Internacional de Futebol (Fifa).
Na entrevista, o ex-jogador critica as exigências da federação para a Copa do Mundo de 2014 e diz que o Brasil pode passar o maior vexame da história do mundial, tendo em vista os atrasos nas obras. Romário diz ainda que a seleção brasileira não venceria o torneio, se ela ocorresse hoje, e que Neymar não pode ser comparado a Pelé.
- O senhor defende o afastamento de Ricardo Teixeira da CBF diante das suspeitas de corrupção?
Romário - Existem algumas instituições que, dentro de seus estatutos, seus presidentes ficam eternamente no cargo. Infelizmente a CBF é assim. Ricardo Teixeira é uma pessoa que a gente tem que agradecer por ter trazido a Copa do Mundo, mas hoje enfrenta vários problemas de corrupção. Tem problemas com a Fifa, tem processos no Rio, no Brasil, fora do Brasil, dentro da Fifa, fora da Fifa, na CBF, no Comitê Organizador Local da Copa. Se ele deixasse a CBF agora, para ele seria até bom, porque resolveria isso definitivamente e logo. Ricardo Teixeira acha que não deve sair porque nada foi comprovado, e isso é verdade. Mas enquanto não é provado que ele cometeu algum tipo de crime, sou a favor que ele deixe a CBF.
- E se ele não pedir demissão?
Romário - A única forma, se não for por parte do próprio presidente da CBF de pedir para sair, seria a intervenção do governo federal. Mas hoje o presidente é o Ricardo Teixeira e, a gente querendo ou não querendo, felizmente ou infelizmente, tem que conviver com isso. O Brasil deve ter pensamento positivo e organizar manifestações contra aqueles caras que fazem mal ao nosso futebol, que é o Ricardo Teixeira, por exemplo, na opinião de todo o mundo.
- Ronaldo, ao se tornar integrante do Comitê Organizador Local da Copa (COL), virou laranja do Ricardo Teixeira?
Romário - Não sei se apalavra é laranja, mas hoje eu particularmente não aceitaria o cargo. Ronaldo é um cara de credibilidade, tudo o que fez na vida deu certo. Acredito que, nessa chegada ao COL, ele possa dar novas ideias, outra cara ao comitê. Com certeza isso vai ajudar também no andamento da Copa do Mundo.
- Por que o senhor não aceitaria ocupar o cargo?
Romário - As coisas no COL ainda infelizmente não estão totalmente definidas. Eu esperaria primeiro uma auditoria e, de posse dela, tomaria essa decisão. Mas ele achou diferente e vai ter um deputado, ex-companheiro e cara que gosta dele para ajudá-lo sempre, desde que faça o que é certo.
- O que falta para o Brasil sediar a Copa em 2014?
Romário - Tudo. O Brasil tem problema nos estádios, nos aeroportos, na mobilidade urbana. O Brasil não está fazendo uma Copa que vai deixar legado para saúde, para educação, para acessibilidade. Estamos realmente 100% atrasados e infelizmente não existe, por parte dos órgãos competentes, nenhum tipo de ação para que isso modifique.
- O Brasil passará vexame?
Romário - Se continuar do jeito que está, vai passar talvez a maior vergonha da história de todas as Copas.
- Por causa do time ou da infraestrutura?
Romário - Acredito que pelo time não tanto, nem pelos estádios, já que muitos devem ficar prontos a tempo. Mas principalmente pelos aeroportos, pela rede hoteleira e pela mobilidade urbana. O trânsito é um caos em qualquer cidade quando há um feriado prolongado.
- O que o senhor acha das exigências da Fifa para o mundial do Brasil?
Romário - Não concordo com nenhum dos pontos exigidos pela Fifa. Entre os que são totalmente desfavoráveis ao brasileiro estão o preço dos ingressos e a falta de respeito a alguns estatutos como o do torcedor, o do consumidor, o do idoso, o da juventude. Essa coisa de vender álcool fora e dentro do estádio, essa coisa de você comprar ingresso e, não indo, poder ser multado. A Fifa está querendo ter poderes no país que ela não tem o direito como empresa particular. Ela vai ter seus lucros, vai pagar seus impostos, vai embora e vai deixar o Brasil assim. Com o adiamento da votação da Lei Geral da Copa para fevereiro, acredito que a gente possa pensar com mais calma e melhor no assunto. E depois, se a Fifa aceitar, aceitou. Se não, vai ter a Copa assim mesmo, não tem jeito.
- Se o assunto for Copa do Mundo, o senhor jogaria no time de Ricardo Teixeira?
Romário - Ultimamente não tenho jogado nem mais nas minhas peladinhas. Não tenho mais condição física de jogar na Copa do Mundo. Inclusive não é Ricardo Teixeira que escala os jogadores. O presidente escolhe o treinador - e muitas vezes escolhe errado. Poderíamos ter muito mais títulos do que hoje. Os treinadores errados é que acabam escolhendo os jogadores errados. Por isso nossa seleção tem sido uma m... nesses últimos tempos.
- Está se referindo ao Dunga?
Romário - Pelo contrário, acho que ele foi um dos grandes treinadores que esteve na seleção. Jogadores que as pessoas pediram para Dunga levar para a Copa participaram da última Copa América. E o Brasil foi eliminado na primeira fase. Então não era bem o Dunga que estava errado.
- A seleção brasileira está preparada para vencer a Copa de 2014?
Romário - Não. O Brasil, com o time que tem, não está preparado nem para passar da primeira fase. Tem que modificar os jogadores ou a forma de jogar, a parte tática. Eu convocaria de 60% a 70% dos jogadores que Mano vem convocando. A coisa não funciona, o time não anda. Falta treino e tempo para os jogadores se conhecerem.
- Qual time escalaria o senhor para a seleção brasileira em 2014?
Romário - Júlio César, Tiago Silva, Neymar e Lucas para mim hoje são os jogadores principais. O goleiro até o ano passado tinha sido o melhor do mundo e nesse ano também está entre eles. Tiago Silva é, nos últimos cinco anos, o maior zagueiro que apareceu no futebol mundial. Ganso, depois de Zico, é um jogador com uma inteligência acima da média. E Neymar é o que é o futebol brasileiro: técnica, vontade, coragem, disposição. Tudo aquilo que o torcedor brasileiro gosta de ver em um jogador.
- Neymar pode ser comparado a Pelé?
Romário - Não, o próprio Neymar sabe que ele está longe de ser o Pelé. Ele tem que ter muitas vitórias ainda. Ninguém vai conseguir ser um Pelé, principalmente no futebol de hoje. Mas Neymar com certeza tem condição de chegar muito longe.
- Como avalia a derrota do Santos para o Barcelona em dezembro?
Romário - Neymar e muitos outros desses que falei participaram da Copa América, que foi um vexame. A seleção acabou não indo bem e, agora, o Santos. Realmente no futebol tem dias em que as coisas não acontecem. Isso não significa que o time do Santos seja ruim. Jogou mal, mas não era o dia e o Barcelona aproveitou as oportunidades que teve. Todos nós já sabíamos que o Barcelona era muito mais time, já tinha um entrosamento há muito mais tempo, porque os jogadores se preparam de uma forma diferenciada da nossa. Mesmo tendo perdido por quatro gols e apesar de muitos dizem que foi uma vergonha, o Santos foi lá e tentou fazer aquilo que tinha que fazer. Infelizmente não aconteceu.