Sem data para votação no conselho, ainda não está claro como a proposta americana coloca no papel o cessar-fogo mencionado por Blinken (AFP/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 21 de março de 2024 às 15h31.
Última atualização em 21 de março de 2024 às 16h01.
O anúncio do secretário de Estado americano, Antony Blinken, de que os Estados Unidos apresentaram uma proposta de resolução sobre o conflito entre Israel e Hamas ao Conselho de Segurança da ONU, prevendo um "cessar-fogo imediato vinculado à libertação de reféns", revela uma mudança de posição de Washington dentro do principal fórum de segurança global, onde o país é um dos principais aliados dos israelenses.
Os EUA foram o único dos cinco países com direito a veto no órgão a votar contra os dois últimos projetos de resolução que pediam o fim imediato das hostilidades em Gaza. As duas propostas — apresentadas em fevereiro deste ano, pela Argélia, e dezembro do ano passado, por uma coalizão de países, incluindo o Brasil — traziam o "cessar-fogo humanitário imediato" e a "libertação imediata e incondicional de todos os reféns" como determinações a serem cumpridas.
Sem data para votação no conselho, ainda não está claro como a proposta americana coloca no papel o cessar-fogo mencionado por Blinken. De acordo com um suposto trecho da resolução revelado pela rede catari al-Jazeera, o texto parece mais um preâmbulo, sem estar escrito em linguagem direta como as propostas anteriores.
"O Conselho de Segurança determina o imperativo de um cessar-fogo imediato e duradouro para proteger os civis de todas as partes, permitir a prestação de assistência humanitária essencial e aliviar o sofrimento humanitário e, para esse fim, apoia inequivocamente os esforços diplomáticos internacionais em curso para garantir tal cessar-fogo em conexão com a libertação de todos os reféns restantes", diz o trecho.
A menção de Blinken à proposta — feita durante uma entrevista ao al-Hadath News, durante uma visita a Riad — expõe uma mudança no posicionamento americano sobre o conflito nos últimos dias, diante de um cenário em que o tema da guerra se mostra um importante componente na eleição presidencial. Embora não tenha revisto posições históricas, como o direito de defesa de Israel, autoridades americanas se tornaram mais vocais ao pressionar pelo fim ou ao menos por uma trégua no conflito.
Em um discurso no começo do mês, a vice-presidente, Kamala Harris, apelou a um “cessar-fogo imediato”, enquanto o líder da maioria democrata no Senado, Chuck Schumer, afirmou que o premier israelense, Benjamin Netanyahu, deveria renunciar, sob risco de transformar Israel em um "pária internacional". A linguagem, antes evitada por integrantes da administração liderada pelo presidente Joe Biden, vem se tornando mais comum — o próprio presidente mencionou avanços em conversas sobre uma trégua prolongada, indicando a vontade de Washington pelo fim das hostilidades na região.
Domesticamente, Biden sofre pressão em duas frentes. Se por um lado é pressionado por alas do Partido Democrata, incluindo doadores importantes, que exigem um papel mais decisivo no fim das hostilidades em Gaza, menos alinhado a Israel, por outro ele vê o principal adversário, o republicano Donald Trump, polarizar com o tema de política externa para angariar votos.
"Qualquer judeu que vote nos democratas odeia a sua religião. Eles odeiam tudo sobre Israel e deveriam ter vergonha de si mesmos porque Israel será destruído", disse o ex-presidente em uma entrevista nesta segunda-feira.
A tropa de choque de Trump também polemiza sobre o tema. Jared Kushner, genro do ex-presidente, sugeriu recentemente que Israel deveria retirar as pessoas de "casas construídas de frente para o mar" na Faixa de Gaza, que classificou como potencialmente “valiosas”, ao mesmo tempo que sugeriu que a população civil do território palestino deveria ser removida para o Deserto do Negev. (Com NYT e AFP)