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Dispostos a se acostumar à guerra, refugiados ucranianos retornam a Kiev

"É preciso se acostumar a viver com a guerra", diz uma mulher na casa dos 30 anos, que pediu para permanecer no anonimato

(Foto/Reuters)
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AFP

Publicado em 12 de maio de 2022 às 19h05.

"Estou muito contente por estar aqui", diz Maria Pshenychna, de 16 anos, após encontrar seu pai, Yuri, de 57, na plataforma da estação ferroviária de Kiev.

A adolescente é uma das milhares de mulheres e crianças que, apesar da incerteza, começaram a voltar à capital ucraniana após terem fugido para o exterior.

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"Estou agradecida com as pessoas no exterior, mas sinto falta da minha casa. Minha mãe está aqui com meu cachorro", diz.

Maria deixou sua casa às pressas no fim de fevereiro no início da invasão russa ao seu país. A região de Gostomel (noroeste de Kiev), onde ela mora, era então cenário de intensos combates. Ela voltou com a única mala que tinha levado.

Gritos de alegria

"Estamos nos acostumando com a guerra, a ameaça. Os medos que sentíamos há dois meses são diferentes dos de agora", diz sua prima, Dana Pervalska, de 27 anos, ao seu lado.

Desde 9 de maio, quando a Ucrânia temia uma grande ação militar da Rússia em comemoração ao aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista, os retornos se intensificaram, com 34.000 pessoas voltando à Ucrânia diante das 29.000 que saíram do país na terça-feira, segundo dados da guarda fronteiriça ucraniana.

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No entanto, o balanço global continua sendo amplamente negativo, com seis milhões de saídas contra 1,56 milhão de retornos, segundo a guarda fronteiriça. Mas cerca de dois terços dos 3,5 milhões de habitantes de Kiev já voltaram, segundo o prefeito Vitali Klitschko.

Como é proibido que os homens menores de 60 anos, em idade de combate, deixem o país, a imensa maioria dos refugiados que retornam é de mulheres e crianças.

Na estação de Kiev, Roman, de 22 anos, membro da defesa civil que não pode revelar seu sobrenome, aguarda impaciente, com um buquê de flores, pelo comboio que traz sua esposa. "Sentimos um pouco de medo, mas decidimos que era melhor voltar", diz.

A pouca distância, outro homem, também trazendo flores, caminha.

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O trem para e ouvem-se gritos de alegria. Os casais se abraçam e beijam. As crianças se atiram nos braços de seus pais. A reunião é às vezes barulhenta, outras vezes discreta, com lágrimas.

Na cidade, a vida parece voltar ao normal. A maioria das trincheiras nas ruas desapareceu, as lojas reabriram, com supermercados bem abastecidos. Mas permanece um toque de recolher diário, das 22h00 às 05H00, e setores da economia paralisados.

"Terrível realidade"

"É preciso se acostumar a viver com a guerra", diz uma mulher na casa dos 30 anos, que pediu para permanecer no anonimato.

Após dois meses na Polônia, ela decidiu voltar e reencontrar o noivo. "A vida na Europa é boa, mas a minha vida está na Ucrânia. Não sei o que vai acontecer em um mês, mas quero construir o futuro da Ucrânia. Quero ter filhos ucranianos", diz, após derramar uma lágrima de alegria.

"Quando (o presidente russo, Vladimir) Putin morrer, a paz voltará", assegura.

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Natalia, que fugiu para a Lituânia com seu filho de seis anos e seu bebê de 14 meses, também voltou.

"Está mais tranquilo. Não há bombardeios ou fogo de artilharia. A situação é melhor do que em março (...) Somos ucranianos. Casa é casa", explica junto de um carrinho que enfeitou com uma fita amarela e azul, as cores da bandeira ucraniana.

Olena Shalimova não deixou o país, mas refugiou-se na casa de familiares em Lviv, a grande cidade do oeste do país, após uma explosão perto de sua casa. Ela diz que agora "aceita a terrível realidade" da guerra e que está "disposta a viver com ela".

"Trabalhava em uma agência de viagens e em um cinema. Sendo assim, perdi qualquer possibilidade de ganhar dinheiro. Minha missão principal é encontrar trabalho", diz. "O patriotismo não é ficar em casa, mas estar onde se é mais útil", acrescentou.

Mas a estação de Kiev ainda é um ponto de partida para o exílio para muitos que temem que o conflito se estenda e sejam retomados os combates nos arredores da capital.

Katerina Okhrymenko, de 37 anos, acaba de decidir ir para a Alemanha, através da Polônia, com seu filho, Lukas, de 11 anos, rumo ao desconhecido, sem parentes, nem recursos lá.

"Se não tivesse meu filho, ficaria. Espero voltar logo, acho que nosso país vai vencer" a guerra, diz.

Na plataforma dos embarques também há abraços, beijos e lágrimas, mas aqui de tristeza.

(AFP)

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