Os candidatos Javier Milei (à esq.) e Sergio Massa (Alejandro Pagni e Luis Robayo/AFP)
Redação Exame
Publicado em 9 de novembro de 2023 às 19h02.
Última atualização em 9 de novembro de 2023 às 19h22.
Depois de duas rodadas eleitorais cheias de surpresas, são poucos os que se arriscam a prever quem será o próximo presidente da Argentina.
As últimas pesquisas eleitorais mostram um cenário bastante acirrado, em que a decisão estará em uma disputa voto a voto. A maioria das sondagens coloca o ultraliberal Javier Milei a frente do peronista Sergio Massa, mas em números tão apertados que podem ser considerados empates técnicos, o que deixa o cenário ainda em aberto a um pouco mais de uma semana do pleito.
Duas novas pesquisas publicadas nesta quinta-feira, 9, pelo jornal "Clarín" consolidam o cenário de empate, mas com leve vantagem para Milei.
Pelas sondagens da empresa Opinaia, Milei lidera com 43% das intenções, ante 39% de Massa. Cerca de 7% respondeu que votaria em branco ou nulo, mais 6% estão indecisos e 5% dizem que não vão votar. Considerando apenas os votos válidos, Milei tem 52% a 48%. A consultoria é pioneira em medições online e já fez pesquisas para Horacio Rodríguez Larreta, o candidato derrotado nas primárias da coalizão oposicionista Juntos pela Mudança.
A consultora Solmoirago, que tem vínculos com o partido União Cívica Radical — que pertence ao grupo Juntos pela Mudança, mas saiu em apoio a Massa neste segundo turno —, mostra Milei com 44,2% ante 42,5% de Sergio Massa. Semelhante à Opinaia, a pesquisa indica que 7,1% votará em branco ou nulo e 6,2% está indeciso. Contando apenas os votos válidos, Milei leva com 2,02% sobre os 48,98% de Massa.
Outras consultoras colocam Milei à frente, mas com pouca diferença do peronista. É o caso de Proyección (44,6% ante 42 9%), CB Consultora (46,3% ante 43,1%), Aresco (46,6% ante 42 4%) e Atlas Intel (48,5% ante 44,7%). Esta última, uma empresa brasileira de sondagens, foi a única que previu a vitória de Massa no primeiro turno.
Já as consultoras Analogias e Zuban Córdoba colocam o peronista a frente do libertário, mas ainda dentro de um cenário de empate. A primeira dá a Massa 42,4% ante 39,7% de Milei. Já a última mostra 45,4% a favor de Massa ante 43,1% para Milei.
Praticamente todos os cenários, cujas diferenças variam de dois a quatro pontos percentuais, mostram que a disputa será voto a voto e a decisão será, de fato, no último minuto. O site La Politica Online, que faz um agrupamento das pesquisas eleitorais e tira uma média, indica que Sergio Massa possui uma média de votos de 42,8%, com seu mínimo variando de 38,32% para 47,19%. Já Milei tem em média 42,9% das intenções de voto, com uma variação de 34,34% até 51,52%.
Nas primárias eleitorais, celebradas em agosto, nenhuma pesquisa conseguiu prever o triunfo de Milei, até então visto como uma terceira força. Uma surpresa que muitos analistas viram como um voto que não estava sendo declarado pelas pessoas, uma espécie de voto silencioso.
Já no primeiro turno, apenas a pesquisa Atlas Intel dava uma vantagem a Massa, enquanto todas as outras mostravam um triunfo arrasador de Milei.
No primeiro turno em outubro, o aumento da participação eleitoral foi fundamental para a vantagem de seis pontos percentuais de Massa. Uma vantagem que, em um cenário normal, projetaria uma vitória fácil ao peronista. Mas com dois candidatos que provocam tanto esperança quanto medo, os sentimentos jogarão mais do que o pragmatismo das previsões.
Agora não se espera um crescimento eleitoral tão expressivo, já que a participação no primeiro turno foi de 77%, uma média semelhante dos anos eleitorais anteriores. Com isso, a disputa parece estar na distribuição dos eleitores de outros candidatos e dos que votaram em branco ou nulo.
O último pleito mostrou que Milei pode ter atingido um teto. Obteve 30% tanto nas PASO quanto nas eleições gerais. Os apoios que recebeu da candidata derrotada Patricia Bullrich e do líder da oposição Mauricio Macri podem ajudá-lo a avançar um pouco mais, mas não muito, já que outra parte da oposição, o partido radical, rachou a coalizão ao migrar para o lado de Massa.
Uma recente moderação em seu discurso — que saiu do "explodir o Banco Central" para "mudança ou continuidade" — também pode ajudá-lo a conquistar aquele eleitorado que é antiperonista, mas tem medo das propostas radicais.
Massa, por outro lado, surpreendeu ao mostrar que pode ter um teto maior do que se previa, graças às oito décadas de força política que tem o peronismo. Embora esta tenha sido a pior eleição da história do peronismo, consolidando a crise de representação, o movimento mostrou que está enfraquecido mas não morto. A movimentação de base de sindicatos, prefeitos, vereadores e demais forças políticas foi essencial para o primeiro lugar de Sergio Massa.
A questão, porém, é de quanto desta força ainda resta para movimentar. O peronista ganhou na província de Buenos Aires, bastião do movimento e que concentra 37% do padrão eleitoral, mas está longe de ter feito uma excelente eleição. Ali, em parte do norte argentino e no sul estão as principais forças peronistas, porém, não se sabe até quanto deste aparato já foi mobilizado ou se ainda resta surpresa.
A batalha agora se dará em dois lugares: a cidade de Buenos Aires, onde estão os votos de Patricia Bullrich, e onde Milei parece sofrer de uma grande rejeição; e Córdoba, onde seu governador, Juan Schiaretti, se lançou para a Presidência e recebeu consideráveis 6,78%. A província tem um peso eleitoral de 8,66%, sendo a segundo maior território eleitoral.
Mais de 6,2 milhões de pessoas votaram em Bullrich no primeiro turno e outro 1,7 milhão votou em Schiaretti (número maior que a diferença entre Bullrich e Milei). Além disso, há os 709.932 de votos da candidata de esquerda Myriam Bregman.
As previsões de que os votos de Bullrich automaticamente migrariam para Milei podem não ser tão corretas, visto que a então candidata macrista chegou a perder eleitores para Massa entre as PASO e as gerais. Massa também conseguiu reverter eleitores de Milei em províncias inteiras, como Santa Cruz e Entre Ríos.
É com este cenário que os argentinos terão no próximo domingo, 12, o único debate eleitoral do segundo turno, que promete ser decisivo para quem ainda tem dúvidas em quem votar. "O debate anterior teve muita audiência, mais de 4 milhões de espectadores alguns falam até 5 milhões, esse com certeza terá igual ou mais", afirma o cientista político da Universidade Católica Argentina Fabian Calle.
"Com uma eleição tão disputada como é esta, o debate pode ser até decisivo. Historicamente os debates não afetam muito na Argentina, mas frente à séria dúvida que tem a população, uma porcentagem pequena, mas decisiva pode afetar sim."
Com Estadão Conteúdo.