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Quem é Pedro Castillo, eleito presidente do Peru; votos serão reavaliados

O resultado final ainda não foi declarado pelo Escritório Nacional de Processos Eleitorais, porque cerca de 0,7% dos votos serão reavaliados

Pedro Castillo acena a apoiadores no Peru: vitória por margem apertada (Sebastian Castaneda/Reuters)

Pedro Castillo acena a apoiadores no Peru: vitória por margem apertada (Sebastian Castaneda/Reuters)

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Carolina Riveira

Publicado em 10 de junho de 2021 às 21h09.

Última atualização em 22 de junho de 2021 às 22h52.

A apuração do segundo turno da eleição no Peru terminou na noite desta quinta-feira, 10, com o candidato da esquerda radical Pedro Castillo com 50,2% dos votos contra 49,8% da conservadora Keiko Fujimori -- uma diferença de 68.000 votos, ou 0,4 ponto porcentual.

O resultado final ainda não foi declarado pelo Escritório Nacional de Processos Eleitorais (Onpe, em espanhol), porque cerca de 0,7% dos votos serão reavaliados. Como a cédula no Peru é de papel, pode haver alguma rasura ou dado incorreto nesses votos. Pelo fato de a margem de Castillo ser muito estreita, uma mudança nesse porcentual ainda poderia alterar o resultado da eleição.

Agora, os delegados eleitorais do Onpe reavaliarão esses 0,7% cédulas com problemas, voto a voto, para determinar se eles podem ser computados ou não. Nessa categoria entram votos incompletos, sem dados, impugnados ou rasurados. Em paralelo, Keiko pede anulação de cerca de 200.000 votos, sob a alegação de fraudes. O primeiro pedido, na província de Cajamarca, foi invalidado por autoridades eleitorais.

A diferença entre Castillo e Fujimori foi de menos de 100.000 votos, em uma eleição decidida majoritariamente pelos votos de áreas rurais do Peru, onde o esquerdista teve vantagem. Enquanto isso, Fujimori ganhou com folga na capital Lima e nos votos no exterior.

Aos 51 anos, Castillo era um nome relativamente desconhecido mesmo dentro do Peru. Em 2017, ganhou alguma projeção nacional ao liderar uma greve de professores, mas fora esse movimento, não teve cargo político até agora.

O presidente eleito nasceu na cidade de Puña, na província de Chota, e vive na mesma região até hoje. Se formou em educação na Universidade César Vallejo e fez mestrado em psicologia educacional, começando a lecionar nos anos 1990 na educação primária. De 2005 a 2017, também foi membro regional do antigo partido de centro-esquerda Perú Posible, quando concorreu a um cargo local, mas perdeu.

Visto como tendo características populistas, o professor já afirmou defender maior participação do Estado na economia e políticas marxistas. Também é conservador em pautas de costumes, como a ampliação de direitos de LGBT e mulheres. Sua posição ambígua em relação aos setores mais modernos da esquerda atraiu parte dos votos de peruanos mais conservadores fora dos grandes centros.

Plano econômico

O mandato de Castillo é visto como uma incógnita, mas sua campanha deu sinais nos últimos dias de que o presidente eleito pode partir para alguma moderação.

Um dia após a eleição, quando já liderava a apuração, o chefe da equipe econômica da campanha de Castillo, Pedro Francke, divulgou um comunicado aos peruanos afirmando que, se eleito, o candidato respeitaria a autonomia do Banco Central.

Escreveu ainda que não foram considerados no plano econômico estatizações, expropriações, controle de preços ou proibição de importações.

"A economia popular com os mercados que preconizamos promove o crescimento das empresas e dos negócios, em particular da agricultura e das PMEs [pequenas e médias empresas], a fim de gerar mais empregos e melhores oportunidades econômicas para todos os peruanos", escreveu.

No Brasil, analistas compararam o comunicado à "Carta aos Brasileiros" que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, divulgou para acalmar os mercados após vencer as eleições de 2002.

O principal índice da bolsa de Lima despencou 7% na segunda-feira, após Castillo superar Fujimori na apuração. A operação na bolsa peruana chegou a ser interrompida, o chamado circuit breaker, devido às quedas bruscas.

Francke esteve na equipe econômica da campanha da também presidenciável Veronika Mendoza, a sexta colocada no primeiro turno e de esquerda moderada. Mendoza também é vista como mais progressista nos costumes que Castillo, mas os dois se aliaram no segundo turno.

A tendência é que, para governar e garantir apoios em um Congresso que deve ser hostil a seu governo, Castillo se junte a grupos de esquerda mais moderada e de centro.

O Congresso tem sido um desafio para os últimos presidentes: o último eleito, PPK, terminou sendo pressionado a renunciar após escândalos de corrupção e com a falta de apoio parlamentar; enquanto isso, seu vice e sucessor, Martín Vizcarra, sofreria um processo de impeachment.

O Congresso peruano também tem mais poder sobre os presidentes, tendo, por exemplo, a prerrogativa de votar uma moção de confiança contra o mandatário e destituir o gabinete do governo. Por fatores como esse, não é esperado que um governo Castillo consiga facilmente promover mudanças pouco consensuais no Peru.

Na outra ponta, independentemente do candidato eleito, já havia no Peru apoio para a criação de uma nova Constituição, substituindo a atual Carta Magna, que é de 1993 e herdada do regime de Alberto Fujimori. Castillo já se disse favorável à uma nova Constituição e pede mais orçamento para áreas sociais, como saúde e educação.

Vitória do Peru rural

Para muitos analistas peruanos, os votos de Castillo foram uma vitória do "Peru do interior", que estava esquecido em meio à pandemia e ao debate centrado nas regiões metropolitanas. 

Além dos votos de áreas rurais, também ajudaram Castillo alguns milhares de votos a mais em Lima do que o esperado -- o que especialistas eleitorais avaliam que possa ter sido motivado por "votos escondidos". Castillo teve cerca de 35% dos votos na região de Lima, mas as pesquisas mostravam um percentual ainda menor, na casa dos 30%.

"É possível que tenha havido pessoas que não queriam dizer nem a seus familiares nem a amigos que votariam nele [Castillo]", disse o analista político Mauricio Zavaleta sobre o tema ao jornal peruano El Comércio.

Fujimori começou a apuração na frente devido à maior velocidade de apuração dos votos nas regiões mais urbanas, mas sua vantagem diminuiu gradativamente com o avanço da contagem nas outras áreas do país.

Com o país em profunda crise política e todos os ex-presidentes recentes envolvidos em escândalos de corrupção, a eleição no Peru teve no primeiro turno um mar de candidatos no primeiro turno. Foram 18 nomes na urna e ampla fragmentação, com nenhum candidato obtendo mais de 20% dos votos.

Castillo liderou no primeiro turno com somente 18,9% dos votos, enquanto Fujimori teve 13,4%.

O presidente eleito vai herdar um país com profundos desafios econômicos e sociais. O Peru é um dos países mais afetados pela covid-19, com uma das maiores taxas de mortalidade do mundo relativas ao tamanho da população.

Enquanto isso, a vacinação engatinha: menos de 10% da população recebeu ao menos uma dose da vacina e menos de 4% recebeu a imunização completa. Uma das promessas de Castillo durante a campanha foi acelerar a vacinação no país.

O produto interno bruto do país também caiu 11,2% em 2020 em meio à pandemia, e o desemprego oficial na região de Lima, uma das principais métricas usadas no país, superou em alguns meses do ano passado os 16%, maior taxa da série histórica neste século. Mais de 3 milhões de peruanos deixaram a classe média diante do empobrecimento do país.

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(Com informações do Estadão Conteúdo)

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