O candidato presidencial do Chile, José Antonio Kast, do Partido Republicano, acena para seus apoiadores. (Eitan Abramovich/AFP)
Repórter
Publicado em 14 de dezembro de 2025 às 08h01.
José Antonio Kast, 59, é um advogado e político chileno de ultradireita, fundador do Partido Republicano e o atual favorito para vencer as eleições presidenciais do Chile, que terão seu segundo turno neste domingo Ele disputa o duelo contra a candidata de esquerda Jeanette Jara, do Partido Comunista.
Kast atrai o apoio de eleitores contrários ao atual presidente, Gabriel Boric, que tem baixa aprovação.
Concorrendo sua terceira campanha, o recente avanço de Kast, que chegou a superar a então favorita Jara nas pesquisas, demonstra o renovado interesse e tração política de pautas conservadoras na América Latina, como combate mais duro ao crime e restrições imigratórias.
Kast é casado e pai de nove filhos. Ele defendeu a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) e se opõe ao aborto, mesmo em casos de estupro, à pílula do dia seguinte, ao divórcio e ao casamento homoafetivo.
De temperamento calmo, afirma ser um democrata e evita os exageros de outros líderes de direita com quem é comparado, como Jair Bolsonaro e o argentino Javier Milei.
"Ele é visto como muito sóbrio, muito pragmático, muito pausado e muito calmo em comparação aos demais", diz à AFP a jornalista Amanda Marton, uma das autoras do livro "Kast, la ultraderecha a la chilena" (Kast, a ultradireita à chilena, em tradução livre).
Diante da crescente preocupação dos chilenos com o aumento da insegurança e da migração, propõe uma luta implacável contra o crime por meio da deportação dos 330.000 migrantes irregulares que vivem no país, aos quais culpa pelo aumento da criminalidade.
No debate final com Jara na terça, 9, Kast alertou que imigrantes ilegais teriam 92 dias – o tempo até sua possível posse como presidente – para deixar o Chile. Também pediu ao presidente Gabriel Boric para abrir “corredores humanitários” que permitam essa evacuação.
“Após esses 92 dias, qualquer pessoa que solicitar qualquer serviço público — seja na área da saúde, educação, transporte, para uma remessa, para um contrato ou para vender algo — será registrada e convidada a sair”, disse Kast.
Ele reconheceu possuir um revólver e quer aumentar o poder de fogo da polícia. Mantém uma contagem regressiva para concretizar seu plano de expulsão dos estrangeiros sem documentos, caso assuma o cargo em 11 de março de 2026. "Se não saírem voluntariamente, iremos buscá-los" para expulsá-los, afirma.
É o mais novo de 10 filhos de um casal de alemães que emigrou para o Chile, onde seu pai fundou um próspero negócio de embutidos.
Investigações jornalísticas revelaram em 2021 que seu pai, nascido na Alemanha, foi membro do partido nazista de Adolf Hitler. Mas Kast afirmou que ele foi recrutado à força pelo Exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial e negou que seu pai fosse partidário do movimento nazista.
O candidato foi deputado por 16 anos. Em 2016, deixou o União Democrata Independente (UDI), no qual militou por décadas, por considerar que o partido havia abandonado os princípios conservadores que o inspiravam.
Em 2019, fundou o Partido Republicano, que lidera com uma mistura de "simpatia pessoal" e um "controle rígido", explica à AFP Javiera González, coautora do livro "Kast, el mesías de la derecha chilena" ('Kast, o messias da direita chilena', em tradução livre).
"É uma figura muito de grupo fechado", complementa a jornalista Lily Zúñiga, que trabalhou com ele na UDI.
Mara Sedini, porta-voz de sua campanha, defende seu caráter. "Com as coisas que precisam de teimosia, ele é teimoso", mas também é capaz de "flexibilizar e aprender".
Em 2021, Kast perdeu a corrida eleitoral para o atual presidente, Gabriel Boric. Na época, em meio à pandemia e a protestos por uma revisão constitucional e igualdade social, suas pautas não ressoaram tão bem.
Todavia, com a mudança do contexto político, suas propostas passaram a ter mais impacto na base eleitoral. Um recente aumento no crime organizado no Chile resultou em maiores taxas de homicídios, sequestros e assassinatos. Além disso, a economia do país segue estagnada.
Em um levantamento conduzido em 144 países, o Chile está em sexto lugar no ranking dos países cujos cidadãos têm mais medo de andar na rua à noite, segundo apuração da revista The Economist.
Embora o Chile seja um dos países mais seguros da região, o crime e a violência continuam sendo a principal preocupação da população (63%), segundo uma pesquisa Ipsos de outubro. Junto com a imigração irregular, o tema domina a campanha eleitoral.
Ao fechar sua campanha do segundo turno, Kast prometeu, na quinta-feira, 11, "um choque de esperança" após anos de “caos, desordem e insegurança".
"Em março [quando o novo governo deve tomar posse] haverá um choque de esperança", prometeu o candidato.
Kast escolheu a cidade de Temuco, no sul do país, para o último encontro com seus eleitores. A cidade é a capital da região de Araucanía, e fica cerca de 800 km ao sul de Santiago.