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Psicanalista alerta sobre necessidade de acompanhamento às vítimas de enchentes

Objetivo agora é evitar que, nos próximos seis meses, elas apresentem o transtorno de estresse pós-traumático

Vítimas das enchentes no Rio de Janeiro: há também os danos psicológicos (Vladimir Platonov/ Agência Brasil)

Vítimas das enchentes no Rio de Janeiro: há também os danos psicológicos (Vladimir Platonov/ Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 28 de janeiro de 2011 às 05h34.

Rio de Janeiro - A psicanalista Soraya Hissa de Carvalho alertou sobre a necessidade de ser feito, pelo menos nos próximos seis meses, o acompanhamento psicológico e psiquiátrico das vítimas das enchentes registradas recentemente no país. O objetivo é evitar que elas apresentem o transtorno de estresse pós-traumático. A doença faz parte do grupo de transtornos de ansiedade.

A especialista explicou, em entrevista à Agência Brasil, que existem três situações de estresse que podem ocorrer nesse tipo de tragédia. A primeira é o estresse imediato, ou reação aguda ao estresse, em que a pessoa fica como em estado de choque. Esse tipo de estresse é resolvido em poucos dias ou horas, “às vezes com ou sem medicamento”, disse.

O problema pode evoluir também para o estresse crônico, embora com recuperação posterior. “E pode surgir, até seis meses depois, o estresse pós-traumático que, de todos, talvez seja o mais perigoso, porque a pessoa fica em estado de latência e a partir daí pode modificar toda a personalidade. E não tem volta”, acrescentou.

Por isso, a médica destacou a necessidade de que esses pacientes sejam ouvidos sobre o que está ocorrendo e examinados por um período mais longo. “Quem for fazer o diagnóstico deve estar atento a várias alterações”. Ela explicou que caso se trate de estresse pós-traumático, esse paciente pode estar em estado de torpor, agressividade, ou mesmo de medo de tornar a vivenciar o trauma e, no decorrer de seis meses, pode surgir o transtorno.

“Aí é que o paciente chega a uma situação que a gente tem que prevenir de todas as formas”. Essa pessoa deve ser ajudada para que não falte alimento, abrigo, agasalho, ou seja, tudo o que o ser humano precisa minimamente para sobreviver.  “E a turma que também olha a saúde mental deve estar atenta e dar apoio a ela nos próximos seis meses, para  ver se terá alguma alteração de personalidade. E havendo, tem que ser tratada, para que consiga reverter o processo”.

Soraya Hissa destacou ainda a importância de que paralelamente aos movimentos de reconstrução das cidades atingidas por tragédia, haja a preocupação de recuperar a auto-estima da população, reintegrando as pessoas à rotina de trabalho e às atividades do cotidiano.

“É muito importante porque, a partir do momento em que a situação já está mais ou menos sob controle,  a pessoa tem que voltar [às atividades]. O ser humano precisa da rotina. Ele precisa saber que tem que levantar, trabalhar, que tem que colocar os primeiros tijolos da casa dele. Ou então tomar providências para buscar a própria  subsistência e daqueles que restaram da família”.

A psicanalista lembrou a importância da ajuda coletiva para as vítimas das tragédias, pois ajudam a diminuir o sofrimento daqueles que não têm para onde ir e nem sabem como recomeçar. “Todos aqueles que tiverem condições, por favor, ajudem. Porque a gente estará praticando um ato humano, de cidadania e de prevenção a doenças psiquiátricas que podem surgir no futuro. E em  um futuro breve”, alertou.

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