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Da Redação
Publicado em 25 de maio de 2011 às 21h22.
Brasília - Com dados obtidos no sistema que registra os pagamentos feitos pelo governo federal, o PSDB apontou uma triangulação entre a liberação de recursos da Receita Federal para a empresa WTorre, para a qual o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, prestou consultoria, e a doação de campanha para a então candidata Dilma Rousseff. O partido levanta essa suspeita com base nas datas de pagamento. A oposição recorreu ao Ministério Público na semana passada pedindo investigação de suposta prática de crime do ministro com base no crescimento de seu patrimônio pessoal e apuração de suposto tráfico de influência.
A WTorre protocolou, em 2009, um pedido de restituição de crédito de R$ 6.259.531, referente ao Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) de 2007. O processo ficou parado até véspera das eleições do ano passado, quando a empresa protocolou novo pedido de crédito, no valor de R$ 2.920.770, referente ao IRPJ de 2008. No mesmo dia em que a WTorre entrou com o segundo pedido, dia 24 de agosto de 2010, a empresa fez uma doação de R$ 1 milhão ao comitê financeiro nacional do PT para Presidente da República. O mesmo valor de doação foi repetido 17 dias depois, em 10 de setembro.
Em contrapartida, aponta o PSDB, a empresa teve o dinheiro liberado em tempo mais rápido do que o comum. Em 43 dias, o recurso previsto nos dois processos, somando quase R$ 10 milhões, foi liberado de forma seguida por uma mesma funcionária, com a diferença de quatro minutos apenas. O sistema de pagamento do governo registra duas ordens bancárias emitidas para a empresa no dia 6 de outubro de 2010, três dias após o primeiro turno eleitoral.
O PSDB questiona se foi a consultoria "milagrosa" do ministro, arrecadador da campanha da presidente Dilma, que fez com que a empresa recebesse o dinheiro em poder da Receita Federal. "Que empresa consegue ter o processo na Receita analisado e liberado em 43 dias? O outro processo estava parado havia quase um ano e, no dia do protocolo, a empresa fez doação de R$ 1 milhão", ressaltou o deputado Fernando Francischini (PSDB-PR), que divulgou as cópias dos registros do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), dos protocolos e de doação de campanha, sobre a coincidência de datas.
"A população quer respostas e o homem público não tem vida protegida por sigilo", disse o tucano. "A presidente Dilma deve dar uma ordem a Palocci, antes que a sujeira que ronda a Casa Civil chegue ao gabinete dela", completou.
O líder do partido na Câmara, Duarte Nogueira (PSDB-SP), afirmou que essa é uma demonstração clara da necessidade de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista para investigar o aumento de patrimônio do ministro Palocci nos últimos quatro anos e a atuação de sua empresa, a Projeto. "As provas são muito fortes e o assunto precisa ser investigado", disse. "Existem indícios muito consistentes de triangulação de interesses empresariais, devolução de recursos da Receita Federal, incluindo a WTorre e empresa de consultoria do ministro Palocci com vinculação de suposto envolvimento de doação", afirmou Nogueira.
Paralelamente à busca de assinaturas para a criação de uma CPI mista, com deputados e senadores, o líder tucano protocolou uma proposta para que a Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara realize uma apuração nos pagamentos realizados à empresa WTorre pela delegacia da Receita Federal de Administração Tributária de São Paulo, vinculada ao Ministério da Fazenda.
O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), procurou desqualificar as suspeitas levantadas pelo PSDB. "Isso é ridículo. Não vou comentar um assunto que não tem pé nem cabeça", reagiu. "Não existe nenhum problema a WTorre ter como consultor o ministro Palocci e ter contribuído para a campanha do PT. É procurar chifre em cabeça de cavalo", disse Vaccarezza.