"Revelou-se recentemente que Osama bin Laden era professor convidado na Academia Militar do Paquistão, onde ensinava Terrorismo Global", diz uma das brincadeiras no país (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 12 de maio de 2011 às 12h04.
Islamabad - Muitos paquistaneses fazem piadas sobre a operação das Forças Armadas americanas que matou Osama bin Laden na semana passada, nos arredores de Islamabad, onde ninguém consegue explicar como o líder da rede Al Qaeda vivia tão perto nem que as autoridades desconhecessem o paradeiro do terrorista.
O estupor deu lugar às risadas nas conversas quando se trata das circunstâncias difíceis de entender sobre como as autoridades paquistanesas não se deram conta da violação do espaço aéreo do país por parte das forças americanas.
As tropas entraram de helicóptero em território paquistanês pela fronteira afegã até a casa onde Bin Laden se escondia na localidade de Abbottabad, a cerca de 100 quilômetros de Islamabad, muito próximo a uma academia militar.
"Revelou-se recentemente que Osama bin Laden era professor convidado na Academia Militar do Paquistão, onde ensinava Terrorismo Global", diz um das brincadeiras que circulam por mensagens de texto e pela internet.
"Sistema de radares paquistanês à venda: US$ 99,99. Compre um e leve outro de graça (não podem detectar helicópteros dos EUA, mas podem receber Star Plus)", indica outra das mensagens, em referência a um conhecido canal de televisão local.
Tanto o Governo quanto o Exército admitiram "erros" de Inteligência e se defenderam ao dizer que os helicópteros americanos tinham a tecnologia necessária para burlar os radares, algo que não impediu mais brincadeiras.
"A nação não deve se preocupar, já pedimos sistemas de alimentação para nossos radares", ironiza outra piada, que se refere aos contínuos cortes de fornecimento de energia que atinge o país.
Não só as mensagens de texto pelos celulares, mas também as redes sociais como Twitter serviram para que os paquistaneses levassem em tom de humor após o episódio letal.
Com o rótulo "#PakistanAntiJokes" (Paquistão contra piadas), os tuiteiros destacam as contradições do Governo de Islamabad, como a alegação das autoridades de que não sabiam nada sobre a operação militar americana, mas tinham fornecido informações de Inteligência para que os EUA pudessem descobrir o paradeiro de Bin Laden.
"O Paquistão tem duas equipes. Uma convencendo o mundo de que apoiaram a operação e a outra convencendo a Al Qaeda de que não o fizeram", assinala uma das brincadeiras.
Alguns lembram que era um segredo Bin Laden residir no Paquistão, mas a maioria achava que o terrorista se escondia nas regiões tribais que fazem fronteira com o Afeganistão.
"A conta do Facebook de Osama bin Laden não mudou de RIP. Antes já era 'Resting in Pakistan' (Descansando no Paquistão)", é outra das piadas.
Mesmo um tabu como o chamado jogo duplo de Islamabad - a teoria de que o Paquistão garante ao Ocidente que luta contra o terrorismo, mas encobre grupos terroristas - já caiu na boca do povo paquistanês na segunda-feira da semana passada, após os EUA anunciarem a morte de Bin Laden.
"As coisas devem estar muito mal no Paquistão quando nem sequer Osama está a salvo aqui", satiriza uma mensagem que circulava em Abbottabad, já no mesmo dia em que a operação foi lançada.
Apesar disso, a Agência Efe comprovou que, nas primeiras horas após a morte de Bin Laden, mais do que o humor, o ceticismo e a indiferença predominavam entre os moradores.
"Não acredito", era a reação mais frequente entre a população, ainda desconfiada sobre a credibilidade das informações sobre a morte de Bin Laden quando souberam que o corpo do terrorista tinha sido jogado ao mar.
Segundo uma pesquisa dos institutos britânicos YouGov e Polis (da Universidade de Cambridge), 66% dos paquistaneses não acreditam que os Estados Unidos mataram o líder da Al Qaeda, em uma operação que desperta ironias, mas também antiamericanismo.
Isso explica que, apesar do bom humor popular, a imprensa tenha difundido vinhetas críticas com os EUA - mostrando esse país como uma superpotência disposta a humilhar o Paquistão - e em vozes que se queixam amargamente da classe política, quase um esporte nacional.
"A sátira política é muito popular no Paquistão", comentou à Efe o humorista político Ali Salim. "Muita gente pensa que tudo é uma conspiração ou que não é verdade. Mas uma vez que tudo for esclarecido, talvez haja mais espaço para o humor (na imprensa)", acrescenta.