Pedágio urbano prevê US$1 bi por ano para transporte público em NY
Aprovado pelo governador democrata Andrew Cuomo, o pedágio aos veículos que entrarem no centro urbano de Nova York será aplicado a partir de 2021
EFE
Publicado em 8 de abril de 2019 às 12h04.
Nova York — A cidade de Nova York cobrará um pedágio aos veículos que entrarem em seu centro urbano a partir de 2021, uma medida pioneira nos Estados Unidos com a qual o governo do estado prevê arrecadar US$ 1 bilhão por ano para o transporte público e abrir um precedente em um país orientado à circulação em automóveis.
Aprovada no novo orçamento do estado governado pelo democrata Andrew Cuomo, a iniciativa representa a imposição de uma taxa ao tráfego na parte de Manhattan ao sul da rua 60 - o limite com o Central Park - para financiar o transporte público metropolitano, um dos mais velhos e usados do mundo.
A ideia de impor um encargo está sendo debatida há 50 anos, mas nunca chegou tão longe: foi sugerida em 1966 pelo prefeito John Lindsay, assim como pelo criador do sistema de transporte público, o governador Nelson Rockefeller. O vereador Michael Bloomberg foi responsável por recuperá-la em 2008.
"Era algo pendente há muito tempo", declarou nesta semana Cuomo, que obteve o apoio do prefeito Bill de Blasio, com quem mantém uma queda de braço por protagonismo, e até do Nobel de Economia Paul Krugman, para quem é relevante sua possível contribuição ao debate nacional sobre o "Green New Deal" (Novo Pacto Verde).
Krugman propôs no Twitter que Nova York seja vista como um "experimento" do pacote de medidas progressistas defendido pela legisladora Alexandria Ocasio-Cortez, afirmando que "o investimento no metrô será um complemento à meta inicial", uma pequena ação contributiva: "Melhor serviço significaria menos gente usando veículos".
Para o professor de Ciência Política da Universidade da Cidade de Nova York (CUNY), Daniel DiSalvo, membro do "think tank" Manhattan Institute e cético declarado, os fatores fundamentais estão no âmbito local: o metrô não rende e seria necessário capital para regulá-lo, o que em longo prazo melhoraria o trânsito.
DiSalvo explicou à Efe que o objetivo é arrecadar - os legisladores preveem ingressar US$ 1 bilhão por ano com os pedágios - para que a autoridade do sistema de transporte (MTA) possa emitir bônus e assim obter capital para realizar obras e reparos, algo refletido no documento do orçamento.
Um painel de especialistas se encarregará de aprovar um Plano de Capital para o período 2020-2024 e, no final do ano que vem, determinará os preços e a localização dos pedágios, que devem garantir a arrecadação necessária para financiar esses projetos "com US$ 15 bilhões" gerados previsivelmente por bônus.
"Os pedágios financiam o Plano de Capital e devemos saber em que consiste primeiro. Também temos que investir em infraestrutura eletrônica para cobrá-los e isso levará cerca de dois anos", detalhou Cuomo, antecipando que ainda levará um tempo ver executada esta velha, mas inovadora ideia.
Grupos verdes como A Liga Nova-Iorquina de Eleitores para a Conservação (NYLCV) a elogiam, já que alegam que o transporte é a maior fonte de emissões de carbono na cidade, mas outros coletivos a criticam, como os motoristas de veículos comerciais e os moradores de bairros com conexão viária precária.
Nesse sentido, DiSalvo afirmou que já há "muitos esforços para conseguir isenções: pessoas com baixa renda, de determinadas áreas de Nova York e Nova Jersey" e que "quanto mais exceções de grupos de motoristas, menos dinheiro será arrecadado".
"Essa vai ser a próxima questão política", acrescentou.
Cuomo, por sua parte, descartou que os pedágios prejudiquem a classe média porque "só as pessoas ricas" dirigem ao sul de Manhattan, mas começam a surgir litigantes, entre eles caminhoneiros, taxistas e o prefeito de uma cidade de Nova Jersey que não quer a aplicação de um imposto duplo aos seus cidadãos.
Embora o analista político DiSalvo duvide que a tarifa consiga arrecadar o total estimado e descongestione o trânsito da cidade, se demonstrar ser efetiva, então, será uma via de sucesso para cidades como San Francisco, Los Angeles e Filadélfia, que debatem medidas similares.