O médico e cantor rock Marco Pogo, nome artístico de Dominik Wlazny, líder do Partido da Cerveja (Exame/Exame)
A Áustria é o segundo país do mundo por consumo de cerveja per capita. Em 2020, cada cidadão austríaco bebeu cerca de 96,9 litros. Basicamente uma lata em cada um dos 365 dias do ano. A cerveja é uma verdadeira paixão nacional, que se transformou em engajamento político com o Partido da Cerveja, o Bierpartei, terceiro melhor colocado nas eleições austríacas deste domingo.
Em seu programa, o Partido da Cerveja propõe a construção de uma fonte de cerveja pública no centro da capital austríaca, Viena, a abolição de impostos sobre bebidas e uma espécie de "Bolsa-Cerveja", ou seja o fornecimento gratuito de um barril de cerveja para todas as famílias do país, além de apoiar os cidadãos "com menos talento para beber". Um programa que obteve 8,4% dos votos válidos.
Liderado pelo médico e cantor rock Marco Pogo, nome artístico de Dominik Wlazny, o Partido da Cerveja foi criado em 2015 como simples "projeto satírico" longe da direita e da esquerda. O objetivo era permanecer no centro, imitando, segundo o próprio líder, "a torneira de cerveja fica no centro de cada bar".
Wlazny, 35 anos (idade mínima para concorrer às eleições presidenciais na Áustria), depois de ter alcançado o sucesso como cantor do grupo de punk rock Turbobier, decidiu aposentar o jaleco para se dedicar à música em tempo integral. E à política.
Nessa eleições ficou logo atrás do reeleito presidente, o verde Alexander Van der Bellen, que obteve 56,2% das preferências, e do conservador Walter Rosenkranz, que conquistou 17,9% dos votos. E superou os outros candidatos, todos políticos profissionais, que obtiveram menos votos, como Tassilo Wallentin, (8,3%), Gerald Grosz (5,5%), Michael Brunner (2,1%) e Heinrich Staudinger (1,5%). Todos, obviamente, se tornaram alvo de chacota por parte de Wlazny.
Na capital austríaca, Viena, o médico-roqueiro chegou em segundo lugar, apenas atrás de Van der Bellen. E entre os menores de 30 anos ele teria conquistado um número de votos igual ao vencedor. Criando um verdadeiro terremoto entre os analistas políticos locais.
"Obrigado! Estou sem palavras. Nestas eleições terminei em terceiro e em Viena em segundo, depois de Van der Bellen", escreveu Wlazny em seus perfis nas redes sociais após o fim da eleição, "Obrigado a todas as pessoas que confiaram em mim e votaram em mim. Isto significa muito para mim"
O resultado é ainda mais impressionante considerando que o Partido da Cerveja foi concebido essencialmente como uma propaganda para viralizar nas redes sociais. Um mero veículo promocional da música "Die Bierpartei", presente no álbum de estreia da Turbobier, o "Irokesentango".
Entre os slogans do partido, está a máxima liberdade de expressão "na livre escolha da variedade de cervejas" e "Viva e deixe viver (exceto os bebedores de Radler)". A Radler é a mistura de cerveja com limonada, muito popular na Europa central, mas considerada pelos militantes do partido como "o mal mais absoluto".
O Partido da Cerveja teoriza uma "cervejocracia", um novo regime político entre o sério e o cômico, que acabou atraindo as massas. Por exemplo, o movimento gostaria de introduzir testes de aptidão obrigatórios para os políticos, implementar ajudas estatais para salvar o panorama cultural austríaco devastado pela pandemia de Covid-19, acolher refugiados ucranianos e incentivar a participação eleitoral permitindo que os eleitores "restaurem a seriedade política que a Áustria merece".
Propósitos que, na opinião de analistas, teriam conquistado o consenso, em particular entre os jovens eleitores de esquerda anti-establishment, ansiosos por expressar um voto de protesto contra Van Der Bellen, que se apresentou formalmente como candidato independente, mas que foi apoiado por todos os principais partidos do país, com exceção dos conservadores do FPÖ.
Não é a primeira vez que o Partido da Cerveja conquista as manchetes locais e internacionais por seus resultados nas urnas. Em 2020 conseguiu eleger 11 deputados locais do estado de Viena (incluindo Wlazny), mas as preferências totais não foram além do 1,8%.
Em outros países da Europa há experiências similares, como Partido Polonês dos Amigos da Cerveja, que em 1991 se apresentou nas primeiras eleições livres após a queda do comunismo obtendo 2,97%de votos. Apesar do resultado animador, no entanto, se desfez dois anos depois (não antes de se dividir em duas facções: a da "Cervejas Grandes" e a da "Cervejas Pequenas").
O desafio para Wlazny será manter a rota do partido até as eleições parlamentares de 2024. Se o Partido da Cerveja conseguir outra façanha eleitoral, será uma nova e muito válida razão para brindar.