Paquistão, um país para jornalistas?
Um dos locais mais perigosos para os profissionais é também o lugar no qual cada vez mais pessoas relacionadas aos veículos de comunicação chegam ao poder
Da Redação
Publicado em 10 de março de 2014 às 10h22.
Islamabad - Eles são embaixadores e emissários do governo nas negociações com os talebans .
Em comum tem uma formação: todos são ou foram jornalistas.
Paradoxalmente, um dos países mais perigosos para os profissionais da informação, ameaçados e agredidos, é também o lugar no qual cada vez mais pessoas relacionadas aos veículos de comunicação chegam ao poder.
"Há certo acordo implícito entre os políticos , os donos dos veículos de comunicação e alguns jornalistas de certo prestígio para fomentar essa simbiose", explicou à Agência Efe Aun Shahi, premiado repórter investigativo do jornal "The News".
"Graças a vários fatores, entre eles a falta de cultura democrática, as empresas jornalísticas adquiriram muito poder e promovem que alguns de seus profissionais entrem nas esferas de poder", acrescentou.
Isso acontece enquanto nesta semana a organização internacional Repórteres Sem Fronteiras (RSF) afirma em seu último relatório que o Paquistão é um dos países mais perigosos do mundo para os jornalistas.
É habitual que qualquer estrangeiro esclarecido em visita ao Paquistão louve a "vibrante imprensa local", uma expressão que se transformou quase em um mantra quando se fala dos titubeantes passos da democracia paquistanesa.
"Há uma diferença entre ser vibrante e ser realmente livre. A imprensa (no Paquistão) ainda está longe de estar à margem de influências políticas, e estas se manifestam na admissão de jornalistas", disse à Agência Efe o editor da revista "Herald", Muhammad Badar Alam.
A publicação mensal dirigida por Badar, uma das mais prestigiadas do país e que se caracteriza por reportagens sobre assuntos polêmicos, aborda em seu editorial deste mês o tema e compara jornalistas.
"Um deles é visto como fiador da segurança e a integridade do Estado, enquanto o outro tem uma desgraçada propensão a expor erros judiciais na cara do Estado", diz o texto da "Herald".
A revista se refere a dois jornalistas: Moussa Kalim, acusado pelas forças de segurança estatais por tentar informar à população sobre os perigos de uma instalação nuclear; e Irfan Siddiqui, um dos negociadores com os talebans.
Siddiqui, veterano repórter e colunista, foi designado assessor do primeiro-ministro em temas nacionais e lidera a delegação do Executivo nos contatos com os fundamentalistas, equipe da qual também faz parte o reputado jornalista Rahimullah Yusufzai.
O governo inclusive propôs a outro repórter, Ansar Abbasi, que curiosamente esteve também na agenda dos talebans para fazer parte da equipe negociadora.
"Os jornalistas aqui não sabem o que é o conflito de interesses", lamenta Taha Siddiqui, atualmente correspondente para a rede "France 24" e que já foi repórter de vários jornais paquistaneses.
"Recentemente, parece ter morrido a honorável tradição de manter separadas as profissões de político e jornalista. Há muitos jornalistas que chegam ao poder, ao governo e a política sem se incomodar em deixar seu ofício de repórter", acrescentou o editor da "Herald".
Os casos de Siddiqui e Yusufzai se unem aos de Najam Sethi, que chegou a ministro chefe da região mais populosa do país, Punjab, e agora preside a poderosa federação de críquete; e Sherry Rehman, ex-editora da "Herald" e embaixadora em Washington durante a legislatura anterior.
"Para alguns o jornalismo é só uma forma de se aproximar do poder e se beneficiar", lamentou Aun Shahi, que explica como é difícil chegar ao fim de mês para "muitos profissionais, inclusive de grandes veículos, que mal ganham US$ 200 por mês".
Além disso, os que ousam perguntar além do permitido sofrem os efeitos da falta da autêntica liberdade de imprensa no país, como mostra o relatório elaborado pela RSF.
"Apesar de sua imprensa viva e diversa, o Paquistão continua sendo um dos países mais perigosos para os repórteres", afirma RSF em seu relatório de 2014, que constata a morte de sete jornalistas e torturas a vários outros no ano passado.
"Moussa Kalim sempre se arriscará às proibições e às ameaças de perseguição porque se mantém à margem do poder e do privilégio", explicou a revista "Herald" sobre seu redator acusado.
Islamabad - Eles são embaixadores e emissários do governo nas negociações com os talebans .
Em comum tem uma formação: todos são ou foram jornalistas.
Paradoxalmente, um dos países mais perigosos para os profissionais da informação, ameaçados e agredidos, é também o lugar no qual cada vez mais pessoas relacionadas aos veículos de comunicação chegam ao poder.
"Há certo acordo implícito entre os políticos , os donos dos veículos de comunicação e alguns jornalistas de certo prestígio para fomentar essa simbiose", explicou à Agência Efe Aun Shahi, premiado repórter investigativo do jornal "The News".
"Graças a vários fatores, entre eles a falta de cultura democrática, as empresas jornalísticas adquiriram muito poder e promovem que alguns de seus profissionais entrem nas esferas de poder", acrescentou.
Isso acontece enquanto nesta semana a organização internacional Repórteres Sem Fronteiras (RSF) afirma em seu último relatório que o Paquistão é um dos países mais perigosos do mundo para os jornalistas.
É habitual que qualquer estrangeiro esclarecido em visita ao Paquistão louve a "vibrante imprensa local", uma expressão que se transformou quase em um mantra quando se fala dos titubeantes passos da democracia paquistanesa.
"Há uma diferença entre ser vibrante e ser realmente livre. A imprensa (no Paquistão) ainda está longe de estar à margem de influências políticas, e estas se manifestam na admissão de jornalistas", disse à Agência Efe o editor da revista "Herald", Muhammad Badar Alam.
A publicação mensal dirigida por Badar, uma das mais prestigiadas do país e que se caracteriza por reportagens sobre assuntos polêmicos, aborda em seu editorial deste mês o tema e compara jornalistas.
"Um deles é visto como fiador da segurança e a integridade do Estado, enquanto o outro tem uma desgraçada propensão a expor erros judiciais na cara do Estado", diz o texto da "Herald".
A revista se refere a dois jornalistas: Moussa Kalim, acusado pelas forças de segurança estatais por tentar informar à população sobre os perigos de uma instalação nuclear; e Irfan Siddiqui, um dos negociadores com os talebans.
Siddiqui, veterano repórter e colunista, foi designado assessor do primeiro-ministro em temas nacionais e lidera a delegação do Executivo nos contatos com os fundamentalistas, equipe da qual também faz parte o reputado jornalista Rahimullah Yusufzai.
O governo inclusive propôs a outro repórter, Ansar Abbasi, que curiosamente esteve também na agenda dos talebans para fazer parte da equipe negociadora.
"Os jornalistas aqui não sabem o que é o conflito de interesses", lamenta Taha Siddiqui, atualmente correspondente para a rede "France 24" e que já foi repórter de vários jornais paquistaneses.
"Recentemente, parece ter morrido a honorável tradição de manter separadas as profissões de político e jornalista. Há muitos jornalistas que chegam ao poder, ao governo e a política sem se incomodar em deixar seu ofício de repórter", acrescentou o editor da "Herald".
Os casos de Siddiqui e Yusufzai se unem aos de Najam Sethi, que chegou a ministro chefe da região mais populosa do país, Punjab, e agora preside a poderosa federação de críquete; e Sherry Rehman, ex-editora da "Herald" e embaixadora em Washington durante a legislatura anterior.
"Para alguns o jornalismo é só uma forma de se aproximar do poder e se beneficiar", lamentou Aun Shahi, que explica como é difícil chegar ao fim de mês para "muitos profissionais, inclusive de grandes veículos, que mal ganham US$ 200 por mês".
Além disso, os que ousam perguntar além do permitido sofrem os efeitos da falta da autêntica liberdade de imprensa no país, como mostra o relatório elaborado pela RSF.
"Apesar de sua imprensa viva e diversa, o Paquistão continua sendo um dos países mais perigosos para os repórteres", afirma RSF em seu relatório de 2014, que constata a morte de sete jornalistas e torturas a vários outros no ano passado.
"Moussa Kalim sempre se arriscará às proibições e às ameaças de perseguição porque se mantém à margem do poder e do privilégio", explicou a revista "Herald" sobre seu redator acusado.