Padre ortodoxo grego é baleado em ataque em Lyon, na França
Tiroteio ocorre em um clima de tensão pelos recentes ataques jihadistas no país; padre está internado em estado grave
AFP
Publicado em 31 de outubro de 2020 às 14h18.
Última atualização em 31 de outubro de 2020 às 20h38.
Um sacerdote ortodoxo grego ficou gravemente ferido após ter sido baleado neste sábado (31), quando fechava sua igreja em Lyon, na França . O autor dos disparos fugiu após a agressão, ocorrida sem motivação clara e em um clima de tensão pelos recentes ataques jihadistas contra um professor perto de Paris e uma basílica em Nice.
"Por enquanto, não se descarta, nem se privilegia nenhuma hipótese", afirmou o promotor de Lyon Nicolas Jacquet, que informou a detenção de um suspeito que "pode corresponder à descrição dada pelas primeiras testemunhas".
As forças de segurança não encontraram com o detido a arma utilizada no ataque, uma espingarda com o cano serrado. "Continuam sendo feitas verificações sobre seu possível envolvimento", afirmou o promotor.
Por volta das 16h locais (12h de Brasília), tiros foram ouvidos na direção da igreja ortodoxa grega, situada em um bairro residencial de Lyon, que chamaram a atenção de vizinhos e agentes da polícia municipal.
"Eles se deram conta de que um homem estava fugindo e encontraram perto da porta dos fundos da igreja um homem ferido a tiros, que acabou sendo o sacerdote do local de culto", explicou a promotoria.
A promotoria de Lyon também informou ter aberto uma investigação por "homicídio" e disse que estava em contato com a promotoria nacional antiterrorista, mas até o momento esta não assumiu a investigação.
Várias fontes policiais pediram "prudência sobre as motivações da agressão".
O sacerdote "estava fechando sua igreja", durante o momento do ataque. Então, "não havia nenhuma cerimônia" dentro do templo e "o sacerdote não usava roupa sacerdotal", informou uma fonte próxima à investigação.
Nikolaos Kakavelakis, de 52 anos, levou dois tiros, "no fígado e à queima-roupa" e por isso foi hospitalizado em estado grave.
Célula de crise
O chefe da Igreja da Grécia, o arcebispo Ieronymos, denunciou este ataque como um "horror que ultrapassa a lógica humana".
Segundo um jornalista da AFP presente no local, a pequena igreja em estilo art déco fica em um bairro residencial em Lyon, onde havia muito pouca gente nas ruas no primeiro sábado do novo 'lockdown' na França.
Após o ataque, o ministro do Interior, Gérald Darmanin, organizou uma célula de crise em seu gabinete, em Paris.
O primeiro-ministro Jean Castex lembrou "a total determinação do governo de permitir a todos e a cada um praticar sua religião com total segurança e liberdade".
"Nossa vontade é forte e nossa determinação não decairá. É a honra da França, é a honra da República", acrescentou Castex, durante deslocamento no sábado em Saint-Etienne-du-Rouvray (noroeste), onde um padre foi degolado em uma igreja em 2016 por jovens jihadistas.
O ataque deste sábado ocorre apenas três dias depois do atentado na basílica de Notre-Dame, em Nice, onde um jovem jihadista armado com uma faca matou três pessoas - entre elas a brasileira Simone Barreto Silva, de 44 anos, nascida em Salvador -, apenas duas semanas depois da decapitação do professor Samuel Paty.
O ataque de Nice, no dia em que os muçulmanos comemoram o aniversário do profeta Maomé, ocorreu em meio à crescente irritação muçulmana em todo o mundo pela defesa da França do direito de publicar caricaturas retratando o profeta.
Após o ataque em Nice, o governo elevou o alerta antiterrorista ao nível máximo e aumentou o número de soldados destacados no país para proteger escolas e lugares de culto de 3 mil para 7 mil.
Esses militares terão ainda o apoio de 7 mil membros das forças de segurança, metade deles policiais da reserva, que a partir de segunda-feira ficarão à disposição dos prefeitos para reforçarem a segurança.
O governo francês permitiu que os locais de culto ficassem abertos até segunda-feira para celebrar o Dia de Todos os Santos, antes de fecharem as portas mais uma vez devido ao novo confinamento para conter a covid-19.
Embora se desconheçam as motivações do atacante de Lyon, o presidente do Parlamento europeu, David Sassoli, falou de um "novo atentado" e defendeu que a "Europa não se submeterá jamais à violência e ao terrorismo".
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, também condenou este "ato abominável" e afirmou que "a liberdade de consciência na Europa está garantida para todos e deve ser respeitada".
O governo francês permitiu que os locais de culto permaneçam abertos até a segunda-feira para a celebração do Dia de Todos os Santos, antes de voltarem a fechar devido ao novo 'lockdown' para conter a covid-19.
Após o ataque a Nice, o Executivo elevou ao máximo o alerta antiterrorista e aumentou de 3.000 para 7.000 os soldados mobilizados no país para proteger escolas e locais de culto.