Bruxelas - Os ministros das Relações Exteriores da Otan decidiram nesta quarta-feira manter sua decisão de abril de suspender a cooperação prática com a Rússia pelo que chamaram de sua "agressão" à Ucrânia, e exigiram que Moscou dê passos "verdadeiros e efetivos" para apoiar o plano de pacificação do leste ucraniano.
"Em abril, dissemos que não iríamos seguir como sempre com a Rússia. Hoje não vemos mudanças no comportamento da Rússia, por isso não temos outra opção senão manter a suspensão da cooperação prática militar e civil até que a Rússia volte à linha de suas obrigações internacionais", destacou o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, em entrevista coletiva após a reunião dos chefes da diplomacia aliados.
Além disso, Rasmussen ressaltou que o plano de paz apresentado por Kiev é uma "autêntica oportunidade para diminuir a tensão" na Ucrânia.
Os ministros exigiram que a Rússia tome "verdadeiras e efetivas" medidas para "deixar de desestabilizar" a Ucrânia, crie condições para que o plano de paz seja implementado, acabe com seu "apoio aos grupos separatistas" no leste do país vizinho e interrompa o fluxo de armas e combatentes através de sua fronteira, acrescentou.
O líder aliado explicou que, durante 20 anos, a Otan tentou construir uma confiança com a Rússia com base em "valores mútuos", mas considerou que essa confiança ficou "corroída" por causa do comportamento de Moscou na crise ucraniana.
Em suas discussões, os ministros falaram sobre a "ameaça" que a ação da Rússia representa para a segurança do país e do bloco e do novo tipo de "guerra híbrida" que Moscou tem com a Ucrânia, na qual recorre às pressões econômicas ou à desinformação para conseguir seus objetivos estratégicos, disseram fontes aliadas.
"Não há ambiguidade, está claro que todos os ministros estão de acordo que a Rússia está por trás do que acontece no leste da Ucrânia", afirmaram, reiterando a Moscou "ações, e não só palavras".
Os ministros, que convidaram para a reunião o chefe da diplomacia da Ucrânia, Pavlo Klimkin, também decidiram hoje criar vários fundos econômicos para ajudar Kiev em questões militares, de logística, segurança cibernética e no apoio aos soldados da reserva, que podem contar com 12 milhões de euros.
Além disso, para melhorar as capacidades de outros países, eles decidiram um apoio mais sistemático e rápido da Otan, por meio do estabelecimento de um grupo de especialistas civis e militares que poderiam ser chamados com prioridade nos lugares e momentos que forem necessários, anunciou Rasmussen.
Por outro lado, os ministros elogiaram os progressos dos quatro países candidatos a ingressar na organização (Geórgia, Montenegro, Macedônia e Bósnia-Herzegovina), mas não definiram uma data para sua adesão.
Rasmussen ressaltou que na cúpula da Otan dos dias 4 e 5 de setembro no País de Gales, os líderes aliados adotarão "decisões muito importantes sobre a política de portas abertas".
Para essa data, a Otan deve promover um "pacote substancial" de ajuda à Geórgia que permita a esse país "se aproximar" mais da organização, e abrir conversas "mais intensas" com Montenegro para tomar uma decisão, no máximo, até o final de 2015, declarou.
Rasmussen lembrou que não é necessária uma decisão dos líderes para o acesso de um novo país e que ela pode ser tomada em nível ministerial.
Outro tema abordado hoje e que será analisado na cúpula é a necessidade de os países-membros aumentarem sua despesa em defesa, pelo menos a 2% de seu PIB, visando melhorar suas capacidades.
Já a Turquia expôs a seus aliados sua preocupação pelos avanços dos jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e o Levante (EIIL), uma crise que fica perto de sua fronteira.
"Há muita preocupação pela situação no Iraque, e também pela região como todo", disse Rasmussen, que acrescentou que "os aliados estão juntos em solidariedade e unidade, focados em proporcionar segurança a nossos aliados, incluindo a Turquia".
Rasmussen também ressaltou a importância de missões de formação policial como a que a Otan realizou no Iraque ou a que espera promover no Afeganistão a partir de 2015 se Cabul assinar os acordos internacionais de segurança necessários, um tema incluído também na agenda da reunião de hoje.
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1. Terras em disputa
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São Paulo –
Vladimir Putin apoiou o referendo na
Crimeia sobre sua independência da
Ucrânia afirmando que, assim, protegia os ucranianos de origem russa que ali viviam. Disse, também, que a manobra corrigia um erro histórico da época da União Soviética, quando a Crimeia foi “dada” à Ucrânia. Para Putin, a região
sempre pertenceu à Rússia. Por essa lógica “histórica”, alguns outros países também poderiam reivindicar terras russas - que lhes foram tomadas décadas atrás após invasões, conquistas, guerras e negociações. Dessas regiões, algumas estão em franca disputa, outras são negociadas de maneira mais amena e, outras, estão sob total domínio russo e ninguém pensa em um conflito. Mas seus antigos donos
poderiam tentar pegá-las de volta, se assim quisessem. Veja quais são:
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2. 1. Ilhas Kuril
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País que as reivindica: Japão As Ilhas Kuril estão localizadas ao norte do Japão e ao sudeste russo. Um século atrás, japoneses e russos assinaram um acordo dizendo que as quatro ilhas eram território japonês. Contudo, depois da Segunda Guerra Mundial, a Rússia tomou a região de volta e expulsou os japoneses que moravam ali em 1949.
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3. Ilhas Kuril
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Em uma das ilhas, há uma base militar russa. Em outra, há uma comunidade de 30 mil russos. O governo japonês nunca desistiu de reivindicar a posse das ilhas e desde os anos 1940 tenta,
por vias diplomáticas, resolver o impasse. Tecnicamente, a Segunda Guerra Mundial não acabou para os dois países.
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4. 2. Ilha Bolshoi Ussuriysky
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País que a reivindica: China A ilha Bolshoi Ussuriysky fica no Rio Ussuri, na ponta do extremo leste chinês, na fronteira com a Rússia. Após um impasse de décadas, os dois países fizeram uma redefinição de fronteiras em 2008. A Rússia cedeu a ilha Tarabarov e metade da ilha Bolshoi Ussuriysky.
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5. Ilha Bolshoi Ussuriysky
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A União Soviética ocupara a região em 1929. Desde 1960, o governo chinês começou a pressionar o país para mudar as fronteiras. Ainda falta que metade da ilha vá par ao lado chinês.
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6. 3. "As 64 vilas do Rio Zeya"
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País que as reivindica: China O apelido das "64 vilas" se refere às moradias presentes na região. As vilas se localizam na margem direita do Rio Zeya. Do outro lado, está a cidade russa de Blagoveshchensk. A região era chinesa, mas durante o Império Qing, foi cedida aos russos em 1858, após um conflito.
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7. "As 64 vilas do Rio Zeya"
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Em 1991, o governo chinês decidiu que não reivindicaria mais as terras tomadas. Contudo, em Taiwan, a decisão nunca foi reconhecida e o governo chinês local continua a exigir a devolução da região. Há mapas em Taiwan que mostram a região como chinesa.
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8. 4. Distrito de Pytalovsky
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País de origem: Letônia A região da Letônia viveu séculos de ocupações, até definir suas fronteiras no começo dos anos 1920. Durante a Segunda Guerra Mundial, a União Soviética anexou o país e ainda tirou parte de suas terras, Pytalovsky, dizendo que ali a maioria era russa e, portanto, deveria ser território russo.
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9. Distrito de Pytalovsky
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Mesmo com o fim da União Soviética e a independência da Letônia, o país não recebeu suas terras de volta.
Em 2007, a Letônia aceitou deixar as fronteiras como estão. Mas poderia reivindicar a região novamente, se quisesse. Muitos moradores locais se identificam com a cultura da Letônia, não russa, e protestam até hoje.
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10. 5. Ivangorod
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País de origem: Estônia Em 1945, a cidade de Ivangorod se separou da cidade de Narva, divididas pelo Rio Narva. Elas pertenceram à Estônia até a União Soviética tomar a região e considerar que o rio seria a fronteira entre eles. Assim, as duas cidades ficaram separadas, cada uma em um país.
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11. Ivangorod
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Após o fim da União Soviética, a Estônia tentou redefinir as fronteiras, como eram antes de 1945. Sem sucesso. Em 2010, os moradores de Ivangorod também tentaram voltar ao domínio estoniano, mas não conseguiram.
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12. 6. Karelia
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País de origem: Finlândia Antes de começar a Segunda Guerra Mundial, a União Soviética reivindicou terras do sul da Finlândia, na região de Leningrado, cidade estratégica do império. A Finlândia recusou ceder as terras, que acabaram sendo invandidas e tomadas em 1939 - em uma guerra que matou milhares.
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13. Karelia
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A maior parte desse território perdido era a província de Karelia (Karjala). Junto, a segunda maior cidade finlandesa naquele tempo, Viipuri. Os russos batizaram Viipuri de Vyborg. Os finlandeses, com ajuda dos nazistas, até recuperam as terras, mas foram retomadas após o fim da guerra. Até hoje há grupos políticos que reivindicam as terras de volta.
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14. 7. Kaliningrado
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14/16 (Harry Engels/Getty Images)
País de origem: Prússia (Alemanha) A região de Kaliningrado não está conectada ao restante do território russo, cercada pelo Mar Báltico, a Lituânia e a Polônia. Por séculos, foi uma região prússia, de expressão alemã, chamada Königsberg. A região foi tomada pelas tropas russas dos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial.
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15. Kaliningrado
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A região foi para os braços dos russos com o fim da guerra. Os residentes germânicos foram imediatamente expulsos. Ao mesmo tempo, imigrantes russos foram enviados para a cidade - rebatizada de Kaliningrado, em homenagem ao líder Mikhail Kalinin. Hoje, é uma ilha russa no meio da Europa.
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16. Agora veja o que Putin pensa sobre a Crimeia
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16/16 (REUTERS/Baz Ratner)