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Osama bin Laden, o autor de 11/9 que desafiou Bush

Ex-presidente George W. Bush prometeu capturá-lo "vivo ou morto", mas somente o sucessor Barack Obama eliminou o terrorista

Dois mandatos de Bush não foram suficientes para capturar o terrorista autor do ataque ao World Trade Center (Getty Images)

Dois mandatos de Bush não foram suficientes para capturar o terrorista autor do ataque ao World Trade Center (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 2 de maio de 2011 às 11h28.

Londres - Desafiando o poder dos "infiéis" Estados Unidos, Osama bin Laden arquitetou os atentados terroristas mais mortíferos da história e criou uma rede global de aliados para desencadear uma "guerra santa" concebida para continuar após a sua morte.

O homem atrás dos ataques suicidas de 11 de setembro de 2001, e que autoridades dos EUA disseram na noite de domingo estar morto, foi o calcanhar de Aquiles do ex-presidente George W. Bush, que prometeu capturá-lo "vivo ou morto" e cujos dois mandatos foram dominados pela "guerra ao terror" contra a rede Al Qaeda de bin Laden.

Bin Laden também assombrou o sucessor de Bush, Barack Obama, desdenhando da proposta de um recomeço com os muçulmanos feita por Obama em um discurso de 2009.

Muitos acreditavam que, escondido no Paquistão - fosse em uma caverna nas montanhas ou na agitação de uma grande cidade - bin Laden estava afastado do controle operacional, sob ameaça dos ataques de aviões não-tripulados norte-americanos e lutando com o desencanto entre ex-apoiadores.

Mesmo sofrendo crescentes pressões políticas e de segurança entre 2009 e 2010, o militante de origem saudita pareceu adotar como estratégia ataques menores e mais fáceis de organizar, levados a cabo por células locais de simpatizantes e grupos afiliados espalhadas por todo o mundo.

Novos focos da Al Qaeda brotaram no Iêmen, no Iraque e no norte da África, e dirigiram ou inspiraram ataques do Bali aos Estados Unidos, onde um islamita nigeriano realizou uma tentativa frustrada de derrubar um avião sobre Detroit em 25 de dezembro de 2009.

Mesmo continuando como figura proeminente da Al Qaeda, bin Laden alterou o estilo de sua liderança, de uma organização que executava ataques complexos em equipe para um núcleo de propaganda que cultiva grupos afiliados para que organizem e ajam por conta própria.

Com sua longa barba grisalha e expressão pensativa, bin Laden se tornou uma das pessoas mais reconhecíveis do planeta, e seu rosto descarnado foi visto em comerciais e exibido em um site dos EUA que oferecia uma recompensa de 25 milhões de dólares por sua captura.

Altos funcionários disseram que as autoridades norte-americanas recuperaram o corpo de bin Laden, encerrando a mais longa caçada humana da história envolvendo milhares de tropas dos EUA no Afeganistão e dezenas de milhares de soldados paquistaneses nas montanhas rochosas da fronteira entre os dois países.


Seja demonizado como terrorista e genocida ou exaltado como patrono de muçulmanos oprimidos combatendo a injustiça e a humilhação, bin Laden alterou o curso da história.

Guerra Assimétrica

Os Estados Unidos e seus aliados reescreveram suas doutrinas de segurança, lutando para adaptá-las dos confrontos entre Estados nos moldes da Guerra Fria para uma nova modalidade de "guerra assimétrica" transnacional contra pequenas células de militantes islâmicos.

As armas da Al Qaeda não são tanques, submarinos e porta-aviões, mas as ferramentas cotidianas da globalização e da tecnologia do século 21 - entre elas a Internet, que explorou amplamente para propaganda, treinamento e recrutamento.

Mas, segundo seu próprio relato, nem mesmo bin Laden anteviu o impacto total do uso de 19 sequestradores suicidas para fazer de aviões comerciais mísseis guiados e arremessá-los contra edifícios que simbolizavam o poderio financeiro e militar norte-americano.

Quase 3 mil pessoas morreram quando dois jatos colidiram com o World Trade Center de Nova York, um terceiro atingiu o Pentágono em Washington e um quarto caiu em um campo no interior da Pensilvânia depois que os passageiros reagiram aos sequestradores.

"Eis a América atingida por Deus Todo Poderoso em um de seus órgãos vitais", disse bin Laden em uma declaração um mês após os ataques de 11 de setembro, exortando os muçulmanos a se erguerem e se unir a uma batalha global entre "o campo dos fiéis e o campo dos infiéis".

Em mensagens de vídeo e de áudio nos sete anos seguintes, o líder da Al Qaeda atiçou Washington e seus aliados. Suas mensagens visavam uma série de tópicos, da guerra no Iraque à política dos EUA, a crise financeira e até a mudança climática.

Um intervalo de quase três anos em suas mensagens em vídeo ressuscitou as especulações de que ele poderia estar gravemente doente de um problema nos rins ou até ter morrido, mas bin Laden voltou às telas em setembro de 2007, dizendo aos norte-americanos que seu país é vulnerável apesar de seu poderio econômico e militar.


Pai milionário

Nascido na Arábia Saudita em 1957, um dos mais de 50 filhos do empresário milionário Mohamed bin Laden, Osama perdeu o pai ainda na infância - morto em um acidente de avião, aparentemente por culpa de um erro de seu piloto norte-americano.

Seu primeiro casamento, com uma prima síria, aconteceu aos 17 anos, e se diz que ele teve pelo menos 23 filhos de pelo menos cinco esposas. Parte de uma família que fez fortuna durante o auge da construção na Arábia Saudita financiada pelo petróleo, bin Laden foi um menino tímido e um estudante mediano que se diplomou em engenharia civil.

Ele foi para o Paquistão pouco após a invasão soviética do Afeganistão em 1979, e levantou fundos em casa antes de abrir caminho no fronte afegão e desenvolver campos de treinamento para militantes.

De acordo com alguns relatos, ele ajudou a formar a Al Qaeda ("A Base") nos derradeiros dias da ocupação soviética. Um livro do escritor norte-americano Steve Coll, "The bin Ladens" (Os bin Ladens), dá a entender que a morte de seu extrovertido meio-irmão Salem em 1988 - novamente em um acidente de avião -, foi um fator importante na radicalização de Osama.

Bin Laden criticou a presença de tropas dos EUA na Arábia Saudita, enviadas para expulsar forças iraquianas do Kuwait após a invasão de 1990, e continuou convencido de que o mundo muçulmano era vítima do terrorismo internacional engendrado pelos Estados Unidos.

Ele clamou por um jihad contra os mesmos EUA que haviam gasto bilhões de dólares bancando a resistência afegã na qual ele combateu.

Sucessão de ataques

A Al Qaeda embarcou em uma sucessão de ataques, começando com o ataque a bomba ao World Trade Center em 1993, que matou seis pessoas e fez surgir o espectro do extremismo islâmico em território norte-americano.


Bin Laden era o principal suspeito do bombardeio a soldados dos EUA na Arábia Saudita em 1995 e 1996, assim como de ataques a embaixadas norte-americanas no Quênia e na Tanzânia em 1998 que mataram 224 pessoas.

Em outubro de 2000, homens-bomba se lançaram sobre o navio de guerra USS Cole no Iêmen, matando 17 marinheiros, e a Al Qaeda foi culpada.

Repudiado por sua própria família e despido da cidadania saudita, bin Laden primeiro se mudou para o Sudão em 1991 e mais tarde ressurgiu no Afeganistão antes do Taliban tomar Cabul em 1996.

Rico, perdulário e fiel à ideologia muçulmana radical, bin Laden logo abriu caminho nos círculos íntimos do Taliban, que então impunha sua interpretação rígida do Islã.

Do Afeganistão, bin Laden emitiu decretos religiosos contra soldados dos EUA e administrou campos de treinamento onde militantes eram preparados para uma campanha global de violência.

Recrutas foram atraídos do centro, sul e sudeste da Ásia, do Oriente Médio, da África e até da Europa, unidos por seu ódio aos Estados Unidos, a Israel e aos governos muçulmanos moderados, assim como pelo desejo de um Islã mais fundamentalista.

Após os ataques de 1998 a suas duas embaixadas africanas, os EUA dispararam dezenas de mísseis de cruzeiro contra o Afeganistão, mirando os campos de treinamento da Al Qaeda. bin Laden escapou ileso.

O Taliban pagou um preço alto por abrigar bin Laden e seus combatentes, sofrendo uma derrota humilhante após a invasão norte-americana nas semanas que sucederam os ataques de 11 de setembro.

Fuga de Tora Bora


A Al Qaeda ficou bastante enfraquecida, com muitos insurgentes mortos ou capturados. bin Laden desapareceu - alguns relatos dizem que bombas dos EUA não o atingiram por pouco no final de 2001 quando ele e suas forças saíam das montanhas de Tora Bora, no Afeganistão, rumo ao Paquistão.

Mas o início da guerra no Iraque em 2003 produziu uma nova leva de recrutas para a Al Qaeda graças à oposição das comunidades muçulmanas de todo o mundo à invasão dos EUA, dizem analistas.

Aparentemente protegido pelo Taliban afegão em seus encraves no noroeste paquistanês, bin Laden também criou laços com uma variedade de grupos militantes do sul da Ásia e apoiou uma revolta sangrenta do Taliban paquistanês contra o governo de Islamabad.

Em meio a um esforço de propaganda revigorado da Al Qaeda, agentes e simpatizantes foram culpados por ataques da Indonésia ao Paquistão e ao Iraque, Turquia, Egito, Quênia, Marrocos, Argélia, Mauritânia, Tunísia, Arábia Saudita, Iêmen, Espanha, Grã-Bretanha e Somália.

Em uma mensagem de áudio de 2006, bin Laden se referiu à caça que os EUA empreendiam contra ele e anunciou sua determinação de evitar a captura: "Juro não morrer senão como homem livre."

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