Exame Logo

Oposição da Venezuela pede protestos após Assembleia Constituinte

Neste domingo (30), os venezuelanos votam em eleição da Assembleia Constituinte convocada pelo presidente Nicolás Maduro

Freddy Guevara, líder da oposição na Venezuela: "Esta luta começou antes da Constituinte e não pode ser freada" (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)
A

AFP

Publicado em 29 de julho de 2017 às 12h12.

Última atualização em 29 de julho de 2017 às 12h14.

A oposição venezuelana pediu a continuidade dos protestos contra o governo de Nicolás Maduro durante e depois da votação de domingo (30) da Assembleia Constituinte convocada pelo presidente.

"Esta luta começou antes da Constituinte e não pode ser freada pela Constituinte. É por eleições, a liberdade dos presos políticos, a mudança. Depois de segunda-feira, vem o aprofundamento desta crise", afirmou o deputado opositor Freddy Guevara.

Veja também

Em uma entrevista coletiva da coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD), o líder opositor Henrique Capriles concordou que depois de domingo os protestos devem prosseguir porque o objetivo é "a mudança de governo".

"Esta luta continua e somente será possível alcançar o objetivo se os venezuelanos desejarem, se não nos deixarmos desanimar", disse

Os opositores pretendem manter um bloqueio de ruas em todo o país até meio-dia deste sábado. No domingo, dia da eleição dos integrantes da Assembleia que redigirá uma nova Constituição, prometem se posicionar nas principais vias da Venezuela para demonstrar a "ilegitimidade" do processo.

A oposição afirma que não teme a proibição do governo a protestos que afetem a votação e sua ameaça de prisão por até 10 anos dos envolvidos.

"Maduro, você colocou a corda no pescoço, jogou sua última cartada...", advertiu Capriles.

A oposição não participará na eleição, que considera uma "fraude" para perpetuar o presidente no poder.

Maduro reiterou na sexta-feira que não vai recuar na ideia da Constituinte.

"Nos resta jogar uma carta, a carta que vai ganhar este jogo, e esta carta é a Assembleia Nacional Constituinte", afirmou o presidente, para quem a iniciativa trará paz e estabilidade econômica ao país.

"Melhor estar preparado"

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) flexibilizou os requisitos de votação, com a permissão aos eleitores para votar em qualquer centro de seu município, ante "ameaças" da oposição.

"Estamos esperando que os violentos fiquem com o desejo e que triunfe a paz", afirmou a presidente do CNE, Tibisay Lucena.

A tensão aumenta com os protestos da oposição, um dia antes da eleição da Constituinte, em um país imerso em uma severa crise econômica, com escassez de alimentos e remédios, além duma inflação elevada.

Depois que o governo dos Estados Unidos solicitou a seus diplomatas que retirassem suas famílias da Venezuela e que o Canadá recomendou a seus cidadãos que deixassem o país, os venezuelanos, alarmados, fizeram estoques de alimentos.

"Comprei comida para os próximos dias. Estados Unidos pediram a retirada de seus cidadãos, meu chefe foi embora e não sabemos quando volta. Melhor estar preparado", disse à AFP Maximiliano, de 34 anos.

A Air France anunciou a suspensão de seus voos entre Paris e Caracas entre 30 de julho e 1º de agosto, "devido à situação na Venezuela", recordando que "a segurança de seus clientes e de suas tripulações é sua prioridade.

A espanhola Iberia também anunciou a suspensão dos voos entre Madri e Caracas no domingo 30 de julho. Os próximos voos para a capital venezuelana estão previstos para quarta-feira 2 de agosto.

O bloqueio das ruas convocado pela oposição na sexta-feira terminou com um jovem de 18 anos morto, vítima de um tiro, na cidade de San Cristóbal, estado Táchira (oeste).

Em Caracas, Maracaibo, San Cristóbal e Guayana foram registrados confrontos entre manifestantes e agentes das forças de segurança.

O número de mortos em quatro meses de protestos contra Maduro e sua Constituinte permanece em 113, porque o Ministério Público retirou de sua lista uma pessoa que havia incluído entre as vítimas.

Na sexta-feira foi preso o prefeito opositor do município Iribarren (estado Lara, oeste), Alfredo Ramos, por supostamente não remover as barricadas durante as manifestações, como ordenou o principal tribunal do país, acuado pela oposição de servir ao governo.

Mais sanções

Maduro rejeitou a pressão internacional contra a Constituinte. Na quarta-feira passada, o governo dos Estados Unidos anunciou sanções a 13 funcionários e militares venezuelanos, incluindo Lucena, acusados de "minar a democracia", de atos de violência ou corrupção.

O vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, telefonou ao líder opositor venezuelano Leopoldo López, que está em prisão domiciliar, para reafirmar a promessa do presidente Donald Trump de responder com mais sanções econômicas à formação de uma Constituinte.

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, declarou que seu país não reconhecerá os resultados da Constituinte, "uma Assembleia que tem origem espúria e cujos resultados não poderão ser reconhecidos".

De acordo com o instituto Datanálisis, a Constituinte é rejeitada por 72% dos venezuelanos.

Maduro pediu a Trump e Santos que "retirem sus narizes" da Venezuela e acusa a oposição de tentar um golpe de Estado com o apoio de Washington. Também chamou de submissos os governos da América Latina e Europa que criticam a Constituinte.

Analistas consideram que a rejeição à Constituinte afeta sua legitimidade, o que leva o governo a mobilizar suas bases para evitar uma alta abstenção, depois dos 7,6 milhões de votos que a oposição afirma ter registrado no plebiscito simbólico que organizou há duas semanas contra a iniciativa.

Mas com o método de votação, que combina sufrágio por territórios e setores sociais, 62% dos 19,8 milhões de eleitores poderão votar duas vezes, o que dificulta o cálculo de participação, segundo o especialista em eleições Eugenio Martínez.

Acompanhe tudo sobre:Assembleia ConstituinteEleiçõesNicolás MaduroVenezuela

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Mundo

Mais na Exame