Pequim - O governo da China montou uma enorme operação policial e militar em Pequim para evitar qualquer ato que lembre o massacre de Praça da Paz Celestial, que completa nesta quarta-feira 25 anos, e que colocou fim a quase sete semanas de protestos estudantis e operários que pediam liberdade e democracia.
A Praça da Paz Celestial, centro das manifestações, amanheceu hoje cheia de policiais e militares, que controlam todos aqueles que visitam o emblemático local, segundo constatou a Agência Efe.
Para chegar à praça, é preciso passar por um cinturão de segurança e uma revista, realizada em uma guarita instalada depois do atentado ocorrido em outubro do ano passado, quando um carro invadiu a calçada do local e matou cinco pessoas.
Nenhum jornalista está autorizado a gravar ou ficar em volta da praça, em função da "legislação chinesa" e mesmo se levar uma credencial de trabalho, segundo explicou um policial à Efe em um dos acessos à praça.
A prevenção das autoridades em relação ao aniversário é tanta que o número de agentes superava o de turistas, chineses e estrangeiros que faziam fotos na praça ou em frente ao retrato de Mao em frente à Cidade Proibida.
A operação de hoje é mais uma tentativa do governo chinês de silenciar o aniversário do fim dos protestos de estudantes e operários contra a corrupção do Partido Comunista e do regime chinês e a favor da democracia.
Na ocasião, o governo de Deng Xiaoping decidiu enviar os militares para a capital chinesa para acabar com as manifestações, o que originou um massacre na qual morreram entre 300 e até três mil pessoas, segundo diversas fontes.
Para garantir que o obscuro capítulo da história da China não se recorde hoje, as autoridades detiveram ou interrogaram previamente até 50 personalidades do país asiático, entre ativistas, jornalistas e advogados, em uma campanha de repressão muito mais dura do que em ocasiões anteriores, segundo organizações de direitos humanos.
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1. 25 anos depois
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1/15 (REUTERS/Stringer/Files)
São Paulo - Em 4 de junho de 1989, o
governo chinês decretou lei marcial e mandou suas tropas às ruas. O motivo: acabar de vez com uma manifestação sem precedentes, que já durava dois meses. Cerca de um milhão de manifestantes se reuniam na Praça Tian'anmen - a Praça da Paz Celestial, em
Pequim. Uma parte, formada por intelectuais, manifestava contra um governo corrupto e repressivo. Outra grande massa, de trabalhadores e "pessoas comuns", estava insatisfeita com as promessas econômicas não cumpridas pelo regime. O resultado do uso da força para acabar com as maiores manifestações que o governo comunista chinês já vira:
centenas (ou milhares) de mortos, além de milhares de feridos. Líderes estudantis acabaram presos por anos. Um famoso ativista à época, Liu Xiaobo, por exemplo, que participou dos protestos, continuou sob o radar do governo chinês. Acabou preso em 2009 por "subversão contra o Estado". Em 2010, ganhou o
Nobel da Paz, mesmo na cadeia. 25 anos passados, o governo chinês finje que nada aconteceu. O tema não é ensinado nas escolas. Não há livros e sites sobre o ocorrido. Mas o povo não se esqueceu. Muito menos os familiares e amigos das vítimas, tampouco os manifestantes encarcerados. Veja a seguir fotos da Praça e das vigílias pelas vítimas, 25 anos depois:
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2/15 (Jessica Hromas/Getty Images)
Em Hong Kong, milhares se reuniram para relembrar as vítimas de 4 de junho de 1989.
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3/15 (Lam Yik Fei/Getty Images)
Quem participou da passeata acendeu velas para relembrar as vítimas.
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4/15 (Lam Yik Fei/Getty Images)
A vigília foi pacífica e a polícia não interferiu. Jornais como o New York Times falam de 400 a 800 mortes em 4 de junho de 1989. Os manifestantes falam em milhares. Já o governo chinês nunca divulgou dados oficiais e que reconhecem o massacre.
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5/15 (Lam Yik Fei/Getty Images)
A China adotou um forte esquema de segurança para evitar quaisquer manifestações relacionadas à repressão aos protestos pró-democracia de 1989.
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6/15 (Lam Yik Fei/Getty Images)
O governo, inclusive, está bloqueando sites e conteúdos sobre o aniversário do massacre, segundo o grupo GreatFire.org, que monitora a censura do governo chinês.
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7/15 (Kevin Frayer/Getty Images)
Um manifestante disse à Reuters: "Em Hong Kong, é possível protestar. Mas, na China continental, ninguém se atreve a falar sobre isso, por causa do forte controle do Partido".
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8/15 (Kevin Frayer/Getty Images)
O governo dos Estados Unidos pediu que o governo chinês reconheça o massacre. O pedido irritou o Partido Comunista Chinês, que disse que os protestos de 1989 foram um "movimento contrarrevolucionário".
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9/15 (Feng Li/Getty Images)
Como o governo proíbe o assunto, até mesmo chineses desconhecem o acontecimento. "Eu nunca tinha ouvido falar sobre o massacre até ir estudar nos Estados Unidos, com 18 anos", disse à Reuters uma jovem de 25 anos, nascida no ano do massacre.
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10/15 (REUTERS/Pichi Chuang)
Em Taipei, parentes de manifestantes presos protestaram segurando fotos de seus familiares.
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11/15 (Feng Li/Getty Images)
Com a aproximação da data, o governo chinês prendeu cerca de 50 ativistas que estavam se preparando para protestar, segundo a Anistia Internacional.
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12/15 (REUTERS/Handout via Reuters)
Em maio, ativistas chineses que participaram ativamente dos protestos de 1989 se reuniram em Pequim para debater o massacre - o que é proibido. Na foto, é possível ver Zhou Feng, Xu Youyu, Zhang Xianling, Qin Hui, Ye Fu, Pu Zhiqiang, Hao Jian, Cui Weiping, Liu Di, Liang Xiaoyan, Hu Shigen, Li Xuewen e Guo Yuhua. Dias depois dessa foto, Pu, Liu, Xu e outros dois foram presos por "causar distúrbios".
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13/15 (REUTERS/Bobby Yip)
O fotógrafo chinês Sin Wai-keung, de 52 anos, dá uma palestra em Pequim diante da projeção da famosa foto que ele tirou em 5 de junho de 1989. Logo após o massacre, um homem desafia os tanques chineses ao parar em frente a eles. É uma das fotos mais famosas do século 20.
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14/15 (Kevin Frayer/Getty Images)
Após a repressão aos manifestantes, milhares foram detidos e liberados. Cerca de 1,6 mil foram condenados. Apenas um, acredita-se ainda está preso: Miao Deshun, um operário acusado de atirar um cesto em chamas contra um tanque. Ele foi condenado à morte, pena depois convertida em prisão perpétua. Mas ativistas chineses ainda têm dúvidas se ele está vivo, já que o Departamento de Prisões de Pequim não divulga nenhuma informação.
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15. Agora veja os piores lugares para os direitos humanos
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15/15 (Khaled Khatib/AFP)