ONU: de abril a junho, a ONU contabilizou 174 ataques a escolas na República Democrática do Congo (Lucas Jackson/Reuters)
AFP
Publicado em 13 de outubro de 2017 às 15h38.
Com 500 ataques ocorridos em um intervalo de seis meses, 2017 está sendo categorizado como ano recorde no número de escolas bombardeadas e destruídas em zonas de conflito como Iêmen, Sudão do Sul e Síria, declarou uma autoridade das Nações Unidas nesta sexta-feira (13).
No último ano, as Nações Unidas registraram 753 ataques a escolas e hospitais em 20 países atingidos por conflitos ao mesmo tempo em que entidades de todo o mundo buscam mapear a violência e encontrar a melhor maneira de proteger as crianças.
Virginia Gamba, a secretária-geral para crianças em conflitos armados, declarou em uma reunião não-oficial do Conselho de Segurança que esses ataques estão em alta nesse ano.
"Não é consolador saber que somente nos últimos seis meses mais de 500 escolas foram atacadas, o que significa que podemos bater o recorde até o fim desse ano", afirmou Gamba durante a reunião do Conselho.
Definir como alvo escolas e hospitais durante conflitos armados é uma ação considerada violação da lei humanitária internacional e um crime de guerra.
Em apenas três meses, de abril a junho, as Nações Unidas contabilizaram 174 ataques a escolas na República Democrática do Congo, em sua maioria ocorridos na região de Kasai, acrescentou Gamba.
Na última semana, as Nações Unidas colocaram a coalizão saudita em combate no Iêmen em sua lista negra referente a violadores dos direitos infantis por terem organizado 38 ataques a escolas e hospitais em 2016, matando e mutilando 683 crianças.
Três quartos de todos os ataques a escolas no Iêmen aconteceram por ofensivas aéreas lideradas por coalizões, enquanto na Síria, dois terços ocorreram por meio de bombardeios realizados por forças do governo ou seus aliados.
Gamba enfatizou que o número de ataques ocorridos no último ano foi "muito maior", uma vez que o relatório apenas focou nos incidentes que as Nações Unidas conseguiram verificar.
As Nações Unidas descobriram que as tropas armadas e as forças rebeldes usam escolas para fins militares em 15 dos 20 países com áreas afetadas por conflitos.
Descrevendo uma nova forma de ataques, Gamba ressaltou que as crianças, professores e escolas estavam sendo escolhidas como alvo devido aos componentes curriculares ou caso a escola seja consideradacomo símbolo da autoridade do Estado.
Meninas em idade escolar são alvos frequentes na tentativa dos responsáveis pelos ataques em erradicar a educação feminina.
Joy Bishara, uma das garotas nigerianas de Chibok que buscou fugir do sequestro realizado pelo grupo Boko Haram em 2014, contou ao Conselho que os sequestradores diziam repetidamente "não vá a escola" e que ela nunca voltou a se sentir segura no local após passar por esse suplício.