Somália: 6,2 milhões de somalis - metade da população - necessitam uma assistência humanitária de emergência (foto/Getty Images)
AFP
Publicado em 7 de março de 2017 às 12h35.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, fez um apelo nesta terça-feira à comunidade internacional para se mobilizar e "evitar o pior" na Somália, país da região do Chifre da África ameaçado pela fome.
Mais uma seca assola a África Oriental e a Somália está à beira da terceira crise alimentar em 25 anos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 6,2 milhões de somalis - metade da população - necessitam uma assistência humanitária de emergência, incluindo quase três milhões de pessoas que sofrem de fome.
As novas autoridades deste país devastado por duas décadas de guerra e crises humanitárias decretaram no final de fevereiro o estado de "catástrofe nacional", e as imagens de corpos cadavéricos voltaram a ocupar as páginas dos jornais, ressuscitando o fantasma da fome de 2011 (260.000 mortos).
"É possível evitar o pior", declarou Antonio Guterres à imprensa, depois de conversas em Mogadíscio com o novo presidente da Somália, Mohamed Abdullahi Mohamed, eleito em 8 de fevereiro e conhecido por seu apelido Farmajo.
"Precisamos de um apoio maciço da comunidade internacional para evitar uma repetição dos trágicos acontecimentos de 2011", insistiu.
O presidente deste país, privado desde 1991 de um poder central, ressaltou que a Somália "enfrenta uma seca que poderia dar origem a uma grande fome se não houver chuva nos próximos meses".
Guterres visitou um campo de deslocados em Baidoa, capital da província de Bay (sul). O local, que segundo a ONU abriga 42.000 deslocados, é o mais afetado pela seca.
Combatentes islamitas shebabs, afiliados à Al-Qaeda e que controlam grande parte do sul da Somália, não permitem a entrada de ajuda humanitária para as populações locais.
"Temos a obrigação moral de fazer o possível para ajudar essas pessoas", disse Guterres, acrescentando que "esta é uma situação dramática".
O campo é povoado principalmente por trabalhadores rurais que perderam o seu gado e que não tiveram colheita nas últimas três safras. Mulheres e crianças representam 80% dos recém-chegados, de acordo com a ONU.
"Não temos mais comida e os nossos animais morreram", relata à AFP Mainouna, que veio com três de seus seis filhos da região de Middle Juba, ao sul de Baidoa. "Lá não podemos obter ajuda".
A seca levou a uma propagação da diarreia, cólera e sarampo, e cerca de 5,5 milhões de somalis correm risco de contrair doenças transmitidas pela água.
A Somália não é o único país africano ameaçado pela fome, causado pela guerra e seca. Iêmen e Nigéria estão na mesma posição, enquanto a fome foi declarada oficialmente em 20 de fevereiro no Sudão do Sul, onde afeta 100.000 pessoas.
Mais de 20 milhões de pessoas são ameaçadas pela fome nestes quatro países.
Uma crise ligada à fome é declarada quando mais de 20% da população de uma região tem acesso muito limitado aos alimentos básicos, a taxa de mortalidade é superior a 2 por 10.000 por dia e que a desnutrição aguda afeta mais 30% da população.
Outros países da África Oriental, como Quênia e Etiópia, também são afetados pela seca depois de várias estações com chuva escassa.