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ONU denuncia violência sectária na República Centro-Africana

Alta comissária da ONU descreveu a situação como de "quase total impunidade", "sem justiça, sem lei e ordem fora a oferecida por soldados estrangeiros"

Combatente Seleka limpa sua arma: governo dos rebeldes muçulmanos conhecidos coletivamente como Seleka tem sido marcado por atrocidades (Camille Lepage/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 20 de março de 2014 às 17h46.

Bangui, República Centro-Africana - A alta comissária das Nações Unidas ( ONU ) para os Direitos Humanos, Navi Pillay, afirmou nesta quinta-feira que o ódio entre comunidades cristãs e muçulmanas na República Centro-Africana chegou a "um nível assustador" e que a situação está tão próxima da anarquia que mesmo aqueles que carregam facas sangrentas e partes de corpos nas mãos não são presos.

Navi descreveu a situação como de "quase total impunidade", "sem justiça, sem lei e ordem fora a oferecida por soldados estrangeiros". Cerca de 6 mil soldados de paz africanos e 2 mil soldados franceses estão trabalhando para estabilizar o país, apesar de terem presença limitada fora da capital, Bangui.

"Eu não posso deixar de pensar que, se a República Centro-Africana não fosse um país pobre escondido no coração da África, os terríveis acontecimentos que ocorreram - e continuam ocorrendo - teriam estimulado uma reação muito mais forte e dinâmica do exterior", afirmou a comissária, em entrevista coletiva em Bangui, no encerramento de uma visita de três dias.

"Quantas crianças mais têm de ser decapitadas, quantas mulheres e meninas mais serão estupradas, quantos atos de canibalismo mais devem ocorrer antes de realmente pararmos e prestarmos atenção?"

Há um ano, uma aliança de grupos rebeldes, em sua maioria muçulmanos, do norte do país derrubou o presidente François Bozizé, que comandava a República Centro-Africana há uma década.

O governo dos rebeldes muçulmanos conhecidos coletivamente como Seleka tem sido marcado por atrocidades, inclusive amarrar vítimas e jogá-las de pontes em rios para se afogarem ou serem comidas por crocodilos. Mas mesmo antes disso a França já havia alertado sobre a possibilidade de um genocídio.

Os principais grupos de direitos humanos também temiam que muçulmanos do país poderiam ser atacados em retaliação. De fato, o ódio contra os Seleka foi transposto para os muçulmanos comuns. Multidões torturaram, assassinaram e desmembraram islâmicos, por vezes na presença de forças de paz internacionais. Milhares de muçulmanos fugiram em comboios para o vizinho Chade.

"Organizações da sociedade civil me disseram que soaram o alarme muito antes de a crise se transformar em uma calamidade, mas ninguém ouviu", disse Navi. "Apesar de algumas melhorias no fronte da segurança, o alarme ainda está tocando. Se errarmos de novo, ao não apoiar este país sinceramente em sua hora de necessidade, corremos o risco de décadas de instabilidade e da criação de um novo e fértil terreno para o extremismo religioso, não apenas no país, mas em toda a região." Fonte: Associated Press.

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Navi descreveu a situação como de "quase total impunidade", "sem justiça, sem lei e ordem fora a oferecida por soldados estrangeiros". Cerca de 6 mil soldados de paz africanos e 2 mil soldados franceses estão trabalhando para estabilizar o país, apesar de terem presença limitada fora da capital, Bangui.

"Eu não posso deixar de pensar que, se a República Centro-Africana não fosse um país pobre escondido no coração da África, os terríveis acontecimentos que ocorreram - e continuam ocorrendo - teriam estimulado uma reação muito mais forte e dinâmica do exterior", afirmou a comissária, em entrevista coletiva em Bangui, no encerramento de uma visita de três dias.

"Quantas crianças mais têm de ser decapitadas, quantas mulheres e meninas mais serão estupradas, quantos atos de canibalismo mais devem ocorrer antes de realmente pararmos e prestarmos atenção?"

Há um ano, uma aliança de grupos rebeldes, em sua maioria muçulmanos, do norte do país derrubou o presidente François Bozizé, que comandava a República Centro-Africana há uma década.

O governo dos rebeldes muçulmanos conhecidos coletivamente como Seleka tem sido marcado por atrocidades, inclusive amarrar vítimas e jogá-las de pontes em rios para se afogarem ou serem comidas por crocodilos. Mas mesmo antes disso a França já havia alertado sobre a possibilidade de um genocídio.

Os principais grupos de direitos humanos também temiam que muçulmanos do país poderiam ser atacados em retaliação. De fato, o ódio contra os Seleka foi transposto para os muçulmanos comuns. Multidões torturaram, assassinaram e desmembraram islâmicos, por vezes na presença de forças de paz internacionais. Milhares de muçulmanos fugiram em comboios para o vizinho Chade.

"Organizações da sociedade civil me disseram que soaram o alarme muito antes de a crise se transformar em uma calamidade, mas ninguém ouviu", disse Navi. "Apesar de algumas melhorias no fronte da segurança, o alarme ainda está tocando. Se errarmos de novo, ao não apoiar este país sinceramente em sua hora de necessidade, corremos o risco de décadas de instabilidade e da criação de um novo e fértil terreno para o extremismo religioso, não apenas no país, mas em toda a região." Fonte: Associated Press.

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