Membro da Força de Segurança do Afeganistão monta guarda próximo do Hotel Serena, após uma ataque, na cidade de Cabul (Ahmad Masood/Reuters)
Da Redação
Publicado em 8 de agosto de 2015 às 10h56.
Os três atentados registrados em Cabul nas últimas 36 horas deixaram no total 51 mortos e centenas de feridos, no dia mais violento de 2015 desde a retirada das tropas da Otan.
A onda de ataques é a primeira de envergadura na capital afegã desde a nomeação do sucessor do mulá Omar no comando dos talibãs, em meio a um duvidoso processo de paz, e num momento em que as forças afegãs enfrentam pela primeira vez sozinhas os rebeldes extremistas.
O primeiro ataque ocorreu na madrugada de sexta-feira em um bairro residencial, onde a explosão de um caminhão-bomba deixou 15 mortos e 240 feridos.
O segundo, contra uma academia de polícia, matou ao menos 27 agentes e deixou outros vinte feridos quando um suicida detonou os artefatos que levava.
Menos de 24 horas depois, os insurgentes lançaram um ataque contra Camp Integrity, uma base militar perto do aeroporto de Cabul, onde estão estacionadas as forças especiais americanas, provocando nove mortes.
"Um membro (da missão) de Apoio Decidido da Otan e oito civis morreram", informou a missão da Aliança Atlântica no Afeganistão em um comunicado.
Segundo a empresa de segurança afegã que os empregava, todos eram afegãos.
Os insurgentes não costumam reivindicar os atentados com vítimas civis, embora estas sejam as principais vítimas do conflito no Afeganistão, que começou em 2001 com a queda do regime dos talibãs. Nos seis primeiros meses de 2015, 1.592 civis morreram e outros 3.329 ficaram feridos em atos violentos, segundo a missão da ONU no Afeganistão.
Desde a saída da Otan do Afeganistão, em dezembro, a polícia e o exército estão sozinhos diante da insurreição, presente em quase todo o país.
Mas no terreno, as forças afegãs contam com o apoio de 13.000 soldados da Otan, que têm como missão formar seus colegas.
Antes dos atentados em Cabul, rebeldes talibãs mataram na quinta-feira nove pessoas em vários atentados cometidos na província de Logar, ao sul de Cabul, e em Kandahar, reduto da insurreição.
Os atentados de quinta-feira demonstram que os talibãs conservam sua força, apesar dos conflitos provocados pela sucessão, a primeira na história do movimento.
Esta importante onda de ataques se segue à designação do mulá Akhtar Mansur à frente dos talibãs na semana passada, substituindo o líder histórico dos insurgentes, o falecido mulá Omar.
Uma parte dos talibãs, incluindo a família do mulá Omar, se nega a reconhecer o novo chefe, acusado de proximidade com o Paquistão, e denuncia uma sucessão muito rápida.
Além disso, o movimento enfrenta divisões internas relativas às negociações de paz preliminares iniciadas há um mês com o governo de Cabul.
"Esta nova onda de ataques é uma tática usada pela nova liderança do Talibã para mostrar que eles ainda estão operando", acredita o especialista em segurança afegão Abdul Hadi Khaled. "É uma demonstração de força."