Negociações: republicanos consideram que a despesa do Governo é excessiva e é preciso diminuí-la mais, enquanto os democratas querem uma reforma tributária para aumentar suas receitas (Lawrence Jackson/White House)
Da Redação
Publicado em 1 de março de 2013 às 18h38.
Washington - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e os republicanos fracassaram nesta sexta-feira na última tentativa de evitar os cortes do gasto público que devem entrar em vigor na meia-noite de hoje e o líder reiterou que essa medida causará uma dor "real" a muitas famílias.
Após uma reunião a portas fechadas na Casa Branca, Obama discursou perante a imprensa e culpou os republicanos no Congresso pela inevitabilidade dos cortes "arbitrários", enquanto estes insistiram que não vão apoiar os novos aumentos tributários reivindicados pelo Governo.
"Nem todo mundo vai sentir a dor dos cortes imediatamente, mas a dor será real. A partir da próxima semana, muitas famílias de classe média verão suas vidas perturbadas de uma maneira significativa", garantiu Obama depois de se reunir com os líderes democratas e republicanos no Congresso.
Segundo Obama, os cortes, avaliados em mais de US$ 85 bilhões e que serão aplicados paulatinamente nos próximos meses, representarão a perda de 750 mil empregos e a redução de meio ponto percentual no crescimento do PIB.
No entanto, o presidente tentou diminuir o alarme e disse que o país seguirá adiante e que essa situação "não será o Apocalipse".
"Isto não é uma vitória para ninguém. É uma perda para todo o povo americano", enfatizou Obama sobre a iminente aplicação dos cortes, pactuados no Congresso em 2011 entre democratas e republicanos para forçar um acordo de longo alcance sobre a redução do elevado déficit público - superior a 8% em 2012 - que ainda não foi alcançado.
O principal empecilho das negociações está no fato de que os republicanos consideram que a despesa do Governo é excessiva e é preciso diminuí-la mais, enquanto os democratas querem uma reforma tributária para aumentar as receitas do Estado à qual os conservadores se opõem.
"A discussão, em minha opinião, terminou. Trata-se agora de assumir o problema da despesa", disse aos jornalistas o presidente da Câmara dos Representantes, o republicano John Boehner, ao término da reunião com Obama.
Boehner lembrou que já houve um aumento de impostos em janeiro, em referência ao acordo conseguido para aumentar a carga tributária sobre as rendas superiores a US$ 400 mil anuais dentro das negociações que evitaram o chamado "abismo fiscal".
No final da reunião, uma jornalista perguntou a Obama por que não "trancava os líderes do Congresso em um quarto" até que chegassem a um acordo, evitando assim o mal-estar que existe entre os cidadãos pela inação da classe política, segundo apontam as enquetes.
"Não sou um ditador, sou o presidente", respondeu Obama, que acrescentou, fazendo referência ao filme "Guerra nas Estrelas", que não pode fazer como um Jedi e trazer os republicanos para o lado da "Força" e "convencê-los a fazer o certo".
O presidente afirmou, além disso, que o melhor que pode fazer é continuar insistindo em "regular a situação" e em explicar o que é o correto, "falar ao povo americano sobre as consequências das decisões que o Congresso está tomando ou de sua falta de decisão".
O próprio Obama e a Casa Branca lançaram há poucos dias uma campanha para alertar do impacto dos cortes com advertências que haverá problemas no tráfego aéreo, baixas forçosas para muitos empregados federais e reduções em serviços vinculados à educação e à segurança nacional.
"A redução do déficit é parte importante de nossa agenda, mas não a única", ressaltou Obama, ao prometer que não vai deixar que a "estagnação política" em torno do tema orçamentário o impeça de seguir trabalhando com os republicanos em outras áreas.
Como exemplos de outras questões prioritárias em sua agenda, Obama citou os esforços para conseguir um maior controle das armas e aumentar o salário mínimo interprofissional, da mesma forma que o diálogo com os republicanos sobre a reforma migratória.
Por sua parte, Boehner se mostrou disposto a trabalhar para garantir o financiamento do Governo para o resto do ano fiscal e evitar no próximo dia 27 de março, quando se esgotam boa parte dos fundos, um fechamento parcial das operações da Administração.