O que muda com o retorno da centro-esquerda na Alemanha
Os sociais democratas do SPD lideram as eleições por pequena margem e esperam emplacar seu líder, Olaf Scholz, como o próximo chanceler. Mas coalizão será difícil
AFP
Publicado em 27 de setembro de 2021 às 10h26.
Última atualização em 27 de setembro de 2021 às 18h58.
Até recentemente eles eram considerados moribundos, mas a vitória dos social-democratas nas eleições legislativas na Alemanha mostra o renascimento de um partido que soube silenciar as divergências internas e aproveitar o fim da era Angela Merkel .
De acordo com os resultado oficiais divulgados nesta segunda-feira (27), o SPD venceu por pequena margem as eleições, com 25,7% dos votos contra 24,1% da União (CDU/CSU), aliança de centro-direita de Merkel e que tem como candidato a chanceler Armin Laschet.
O líder de fato será escolhido após as discussões sobre a coalizão, mas a subida do SPD às cabeças já é considerada uma vitória no partido. O SPD vinha ofuscado nos últimos governos Merkel ao participar da coalizão governista.
O partido mais antigo da Alemanha também conseguiu conservar a prestigiosa prefeitura da capital, Berlim, e conquistou quase 40% dos votos nas eleições regionais em Mecklemburgo, leste do país.
"O SPD celebra sua ressurreição", destaca a revista Der Spiegel.
Sem rumo
O SPD percorreu um longo trajeto. Há 12 meses, as pesquisas indicavam que o partido tinha menos de 15% das intenções de voto.
"Muitos analistas o consideravam mais ou menos acabado e que passaria à oposição para curar suas feridas", afirma Sudha David-Wilp, cientista política do centro de pesquisas German Marshall Fund, de Berlim.
Durante duas décadas, o partido mais antigo da Alemanha, criado em 1863, parecia desorientado.
A formação carregava o peso do legado da política de inspiração liberal aplicada no início do século pelo chanceler Gerhard Schröder, algo difícil de digerir para o "partido dos trabalhadores" digerir. Principalmente a impopular reforma do mercado de trabalho, que reduziu o desemprego, mas precarizou o setor.
Além disso, o partido parecia condenado a afundar por disputas internas entre a ala mais à esquerda e a centrista, assim como à perda de sua identidade, após a participação em coalizões com os conservadores.
A crise existencial se agravou após a esmagadora derrota nas eleições legislativas de 2017 (20% dos votos) e do declínio nas europeias em 2019.
Por falta de opções, há três anos e meio o partido se resignou a renovar a associação com Angela Merkel, mas acabou muito dividido e enfraquecido.
O partido trocou em um tempo recorde dois presidentes, antes de nomear em 2019 um grupo de desconhecidos da ala esquerdista para bloquear as ambições do centrista Olaf Scholz.
O movimento parecia buscar a salvação do SPD com uma guinada à esquerda, como fizeram durante algum tempo os trabalhistas no Reino Unido ou os socialistas na França, mas finalmente escolheram como líder o ministro das Finanças e vice-chanceler Olaf Scholz.
Porque as história demonstra que o centro é o que permite vencer as eleições na Alemanha. E o partido ganhou a aposta. O cálculo foi um sucesso, como demonstra o retrocesso da esquerda radical alemã no domingo.
A vitória do SPD é um bálsamo para a social-democracia europeia em crise. O movimento está perto de governar a Alemanha, já está no poder na Suécia, Dinamarca e Finlândia, e talvez em breve na Noruega.
Teste para a unidade
Apesar da falta de carisma, Olaf Scholz provavelmente aumentará a lista de chanceleres do SPD do pós-guerra, integrada por Willy Brandt (1969-1974), o pai da abertura diplomática com o Leste, Helmut Schmidt (1974-1982) e Gerhard Schröder (1998-2005).
Mas resta uma grande pergunta: a unidade do partido resistirá?
É possível que ala esquerdista não aprecie os compromissos inevitáveis que Scholz terá que aceitar com o partido liberal FDP se desejar formar uma coalizão majoritária, que também somaria o Partido Verde.
O FDP, um partido mais à direita que o de Angela Merkel, se opõe, por exemplo, a qualquer aumento dos impostos e à tributação das rendas mais elevada. E o SPD fez campanha a favor de um imposto sobre grandes fortunas.
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