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O protesto que os seguranças da Olimpíada não abafaram

Os seguranças bem que tentaram impedir que a iraniana Darya Safai realizasse uma importante manifestação em prol dos direitos das mulheres, mas não conseguiram


	Darya Safai protesta contra desigualdade no Irã: mulheres são proibidas de frequentarem torneios masculinos no país
 (Reuters)

Darya Safai protesta contra desigualdade no Irã: mulheres são proibidas de frequentarem torneios masculinos no país (Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 15 de agosto de 2016 às 12h58.

São Paulo – Em uma Olimpíada que vem sendo inundada de tentativas de manifestações políticas abafadas pelos seguranças, uma delas conseguiu se manter firme. O protesto aconteceu durante a partida de vôlei entre Irã e Egito no último sábado quando uma mulher apareceu nas câmeras com um cartaz e uma camiseta que dizia “Deixem as mulheres iranianas entrarem nos estádios”.

Essa mulher é Darya Safai, 35 anos. Nascida na capital Teerã,  ela hoje vive hoje Bélgica, país onde fundou um movimento que luta para que o público feminino possa entrar nos locais nos quais acontecem eventos esportivos de times masculinos no Irã.

Darya foi abordada em seguida pelos seguranças, uma vez que o ato viola uma regra do Comitê Olímpico Internacional que proíbe manifestações políticas nas competições. “Eles disseram que não queriam a faixa próxima das câmeras e nos pediram para sair”, contou ao The Independent.

Ela, no entanto, se manteve firme no seu posicionamento. Após insistir com os seguranças e e explicar as razões da sua manifestação, conseguiu permanecer no local com a faixa e a camiseta. Veja abaixo como foi o protesto.

“Não é a primeira vez que passo por isso, mas não vou desistir. É isso que as mulheres iranianas fazem, elas lutam por seus direitos”. Na página oficial do movimento no Facebook, Darya explica que sua luta é contra a discriminação de gênero não apenas no esporte, mas em todos os aspectos da vida das mulheres no Irã.

Ao jornal britânico, Darya disse ainda que estará presente em outros jogos e que pretende dar prosseguimento ao seu protesto em todos eles. A próxima partida da seleção iraniana de vôlei acontece na tarde desta segunda-feira, contra a Rússia. Os Jogos do Rio de Janeiro marcam a primeira presença da equipe em uma Olimpíada.

Desigualdades de gênero no Irã

A proibição de mulheres em competições esportivas masculinas entrou em vigor depois da Revolução Islâmica de 1979, mas ganhou novos contornos há alguns anos quando a regra foi estendida das partidas de futebol para as de vôlei, um dos esportes mais queridos no país.

Esse regulamento foi relativamente flexibilizado no ano passado, depois que uma mulher foi presa ao tentar entrar em uma partida masculina de vôlei. Por conta desse episódio, Ghoncheh Ghavami ficou cinco meses presa em Teerã. 

As acusações contra ela foram eventualmente dispensadas, mas não sem a Federação Internacional de Voleibol (FIVB) ameaçar proibir o Irã de sediar eventos enquanto mulheres não pudessem assisti-los. Desde então, o acesso a essas competições é permitido, desde que as mulheres estejam acompanhadas de outros homens.

Ainda assim, esse acesso não é tão democrático quanto o governo iraniano tenta fazer parecer. De acordo com a organização Human Rights Watch, o país passou então a limitar a venda de ingressos para mulheres por meio de um duvidoso sistema de cotas. Curiosamente, quando as vendas são abertas, esses ingressos se esgotam com a mesma velocidade com a qual o velocista Usain Bolt percorre os 100 metros rasos. Pela televisão, contudo, é possível ver dezenas de assentos reservados para mulheres vazios. 

Ativistas pelos direitos das mulheres dizem que esses ingressos são reservados para uma parcela de pessoas bem relacionadas e acusam a FIVB de estar fazendo vista grossa. A federação, por sua vez, diz que tudo não passa de um “mal-entendido”.

Embora essa regra específica tenha como alvo os torneios esportivos, ela revela a profundidade das desigualdades de gênero no Irã, país onde mulheres casadas não podem nem sequer deixar o país sem a permissão do seu marido. 

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