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O lado verde (sem cosmético) da L´Oréal

Gigante do setor de beleza investe na inovação sustentável para reduzir sua pegada ecológica; segundo diretor global de Meio Ambiente da marca, operação brasileira é modelo

Tecido biológico reconstruído em laboratório: pele de verdade que subsitui testes em animais (Divulgação)

Tecido biológico reconstruído em laboratório: pele de verdade que subsitui testes em animais (Divulgação)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 29 de junho de 2012 às 07h41.

São Paulo – De uma reunião com mais de mil executivos na Rio+20 saiu uma das lições mais preciosas para o mundo dos negócios, a saber, que a inovação será um dos principais fatores da sustentabilidade corporativa nos próximos anos. Afinal, tecnologias limpas e mais eficientes podem ajudar a reduzir o impacto ambiental das empresas e ainda gerar ganhos financeiros. Há mais de 30 anos na gigante francesa de cosmético e produtos de beleza L´Oréal, o espanhol Miguel Castellanos conhece bem o valor (e o poder) dessa premissa.

“Um negócio sustentável tem link direto com a lucratividade. Não é possível fazer de outra forma, o mundo move-se nessa direção. Estamos na Era da inovação verde”, afirma o diretor global de Sustentabilidade da marca. Em visita ao Brasil mês passado para checar as novas instalações da fábrica de São Paulo - que vai passar a usar etanol como combustível a partir de agosto - Castellanos falou à EXAME.com sobre as estratégias da empresa para reduzir sua pegada ambiental e ainda duplicar o número de consumidores, chegando a dois bilhões em todo o mundo até 2020, de forma sustentável.

EXAME.com: O que é inovação verde para a L´Oréal?

Castellanos – É o caminho para otimizar todos os recursos e com a visão global de garantir o menor impacto ao meio ambiente. A inovação sustentável tem que ser aplicada desde a escolha dos ingredientes usados na formulação dos produtos à redução das embalagens, incluindo sua produção industrial, seu design, até sua distribuição. Tornar a fórmula de um produto mais eficiente, diminuindo assim as fases de produção, também é inovação, é química verde.

Nos anos 80, demos exemplo ao abraçar de forma pioneira no setor de cosméticos a questão do tratamento ético dos animais, reconstruindo em laboratório tecido biológico para testar os produtos de pele e olhos ao invés de usar animais. Hoje, já chegamos a três camadas de pele, onde é possível inserir melanina e testar protetores solares. Em 2011, cerca de 130 mil exemplares de tecido biológico reconstruído foram produzidos no centro de pesquisa em Gerland.

EXAME.com – Se a L´Oréal testa seus cosméticos em tecido criado em laboratório, por que consta na lista do grupo PETA de empresas que testam, sim, em animais?

(Divulgação)

Castellanos – A razão é simples, a China ainda exige testes em animais para liberação de alguns produtos, não dá pra contrariar a legislação, se ela exige, temos que cumprir. Mas há bastante tempo nós trabalhamos com eles para mudar esse processo.

EXAME.com: Na prática, como a inovação verde ajuda a empresa a reduzir sua pegada ambiental?

Castellanos – Em 2005, a L´Oréal se comprometeu a reduzir em 50% suas emissões de CO2, o consumo de água e a geração de resíduos num prazo de 10 anos. Graças aos esforços conjuntos depreendidos nos últimos anos e em grande parte, pela inovação sustentável, para cada produto final, a empresa já conseguiu reduzir as emissões de CO2 em 29,8%, o consumo de água em 22,3% e a geração de resíduos em 24,2%. A fábrica do México, por exemplo, reduziu suas emissões em 60% utilizando turbinas eólicas para geração de energia, que hoje abastece 84% de toda demanda da planta. Já no Brasil, a redução de 30% das emissões foi conseguida graças à melhoria da eficiência das máquinas.

EXAME.com: Há outros exemplos de uso de energia renovável?

Castellanos – Sim. As fontes renováveis respondem por cerca de 33% do suprimento total de energia da L´Oréal em todo o mundo. A primeira fábrica com energia verde foi inaugurada na Bélgica há três anos. Ela fica no meio de várias fazendas, que geram resíduos agrícolas da produção de alimentos. Coletamos isso e transformamos em biogás para gerar eletricidade para a fábrica.

A geração local de energia é mais do que suficiente para abastecer a fábrica e ainda gera excedente para a rede que, em 2010, foi o equivalente a energia necessária para abastecer 4 mil residências.


No Brasil, há oportunidades com a cana-de-açúcar, etanol e resíduos que podem ser destilados e gerar bioenergia. A fábrica em São Paulo,  que já conta com paineis solares para aquecer 50% da água usada - agora terá 40% da energia para aquecer as caldeirsas suprida pelo etanol, ao invés de gás.

EXAME.com – Falando em Brasil, o quão sustentáveis estão as operações da empresa por aqui?

Castellanos – O Brasil é modelo de eco responsabilidade para o grupo. Comparando 2011 a 2005, as plantas do Brasil reduziram 54% das emissões de CO2, um desempenho que supera as metas traçadas para 2015, mas queremos fazer mais. O consumo de energia caiu 38% e a geração de resíduo, 17%. A baixa nas emissões de CO2 é resultado da introdução de práticas de eficiência energética – como o uso de placas solares para aquecer água nas duas plantas.

Outras iniciativas verdes estão em andamento em São Paulo, como a alocação do fornecedor de embalagens na mesma região da fábrica. O projeto iniciado em 2012 é uma forma da empresa envolver a cadeia de fornecedores na lógica “verde” e ainda evitar a emissão de algumas toneladas de CO2 oriundos do transporte. A próxima empreitada é usar etanol como fonte de energia. Com esse projeto, previsto para entrar em operação em agosto, atingiremos 65% na redução de emissões.

Até 2014, vamos abrir também um laboratório de inovação no Distrito Verde do Rio, para produção de produtos específicos para o Brasil, que é um laboratório aberto pra gente. Para se ter uma ideia, descobrimos através de nossas pesquisas que existem oito tipos de cabelos no mundo - e o Brasil tem todas eles.

EXAME.com – A gestão da água está rapidamente se tornando uma ferramenta estratégica para as empresas. Como a L´Oréal cuida desse recurso?

Castellanos – De toda a água que utilizamos, cerca de 20% a 30% vão para o produto em si, o restante é água de processo, que também reciclamos e reutilizamos. Na planta do Rio, parte dos afluentes são tratados e usados na limpeza da fábrica, caldeiras, etc. Apostamos também em soluções mais curiosas. Em uma de nossas plantas na França, depois de seis anos de pesquisa, brotaram jardins que conseguem purifica e regenerar a água residual da produção por meio do processo de fitorremediação.

EXAME.com - Há uma preocupação crescente em relação ao desenvolvimento de embalagens mais sustentáveis para produtos. A L´Oréal tem algum projeto nesse sentido?

Castellanos – Um dos focos centrais é o setor de embalagens. Além de exigir que os papeis e papelões usados na confecção das embalagens tenham origem de florestas certificadas, apostamos no eco-desing. A eliminação dos folhetos explicativos sobre os produtos da linha Biotherm, que passaram a ser impressos no interior das embalagens, ajudou a economizar 24 mil kilos de papel em 2011.

Também estamos trazendo os fornecedores de embalagens para o lado de nossas fábricas, literalmente, seguindo a ideia do Wall-to-wall (parede-a-parede), que implementamos há três anos na França. Ao suprimir a necessidade de transporte no meio do caminho, conseguimos reduzir as emissões de CO2 em 120 toneladas anualmente.

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