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Num mundo multipolar, os Brics precisam de mais integração, defendem empresários em Riad

Debate na Arábia Saudita aponta que bloco pode facilitar comércio entre países e ampliar poder de vozes do Sul global em questões internacionais

FII Conference: evento em Riad debateu o futuro do Brics (Reprodução/Reprodução)

FII Conference: evento em Riad debateu o futuro do Brics (Reprodução/Reprodução)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 25 de outubro de 2023 às 18h13.

O papel dos países que compõem os Brics — Brasil, Rússia, Índia, China, além dos novos membros anunciados em agosto Arábia Saudita, Argentina, Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos — tem sido tema de discussões numa nova geopolítica global. Não à toa, a Future Investment Initiative (FII), conferência promovida anualmente pelo príncipe da Arábia Saudita Mohammad Bin Salman e que se consolidou como a “Davos do Deserto”, dedicou um painel inteiro para debater a importância do bloco para o futuro do planeta.

"Se olharmos para os próximos dois bilhões de pessoas, novos habitantes do planeta, 98% virão do Sul global. Se olharmos o consumo de energia daqui a 10 anos, 80% desse consumo estará no Sul global. Portanto, a percepção de relevância é natural em relação aos Brics", disse André Esteves, chairman do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame), durante o evento, realizado nesta quarta, 25, em Riad. 

"A narrativa não é se os Brics vão dominar o Ocidente, se são os Brics contra o G7. É sobre como os Brics podem ajudar a unir o mundo e levá-lo a um diálogo mais aberto, mais neutro e melhor sobre questões globais. Seja em conversas sobre mudanças climáticas ou em ter um assento no G7, ou qual presença eles têm no G20, sempre são as outras vozes que são ignoradas em questões globais", disse Anish Shah, CEO do Mahindra Group India. 

Por outro lado essa integração está em risco por movimentos de desglobalização, com países que querem reduzir a dependência de compras externas em virtude de um rearranjo logístico e geopolítico no pós-pandemia.

"A desglobalização é uma preocupação significativa, impulsionada principalmente por países desenvolvidos, como os EUA, que tentam proteger suas vantagens competitivas", apontou Erik Li, chairman da chinesa Chengwei Capital. "Competição e as dinâmicas globais em mudança são desafios. A cooperação econômica e a política são essenciais para lidar com os desafios globais de criar um mundo mais integrado".

"A economia deve guiar a política, e não o contrário. Colaboração e trabalho conjunto são as chaves para lidar com os desafios globais. O foco deveria ser no desenvolvimento, crescimento e em unir forças do Sul global, com o Brics como meio para isso", defendeu  Shah, do Mahindra Group India.

Os participantes também disseram ter expectativas de que os investimentos e o comércio entre os países do Brics deve crescer, e que movimentos neste sentido já estão ocorrendo. Fábricas chinesas de veículos elétricos estão se instalando no Brasil, por exemplo, enquanto o Brasil é um dos principais fornecedores de alimentos para a China.

"O maior investidor direto nos países do Brics são os Estados Unidos, ponderou Lubna Olayan, presidente do conselho da Olayan Financing Company, da Arábia Saudita. "Para o Brics se tornar uma potência econômica, temos de investir em nossos países. Quando os Brics vão investir uns nos outros? Quando nosso comércio interno entre os países vai realmente crescer? Isso vai ser um ponto de sucesso da aliança econômica", afirmou.

O debate também falou sobre como países do Brics estão liderando diversas revoluções, como de novas tecnologias pela China, de inclusão digital na Índia e de produção agrícola no Brasil, o que ajuda a moldar o futuro. "É um mundo mais multipolar, o que é algo bastante saudável, não só para o Sul global, especialmente para os países onde as sociedades mais precisam, mas para todo mundo no planeta, pois isso se torna uma fonte de estabilidade a longo prazo", disse Esteves.

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