Zona do Euro: ajuste, greves e pressão de mercados
Após crise grega e ajuda à Irlanda, situação de Espanha e Portugal também preocupam o continente
Da Redação
Publicado em 24 de novembro de 2010 às 16h48.
Paris - A Zona do Euro encontrava-se nesta quarta-feira novamente no olho do furacão, com um duro plano de economia aprovado na Irlanda, a realização da maior greve geral da história de Portugal e uma pressão crescente dos mercados sobre a Espanha.
Após a crise da dívida grega na última primavera boreal, agora o naufrágio da Irlanda em meio a dívidas por injeções de dinheiro em seus bancos causou pânico na Europa.
Os investidores temem novamente um contágio a outros países em situação financeira frágil, como Portugal e Espanha.
Há "sem dúvida" um "abismo" entre as situações econômicas de Espanha e Irlanda, declarou nesta quarta-feira o secretário de Estado da Economia espanhol, José Manuel Campa, em uma nova tentativa do governo socialista de aliviar as preocupações dos mercados dos últimos dias.
No entanto, a taxa de juros das emissões da dívida espanhola superou nesta quarta-feira 5% pela primeira vez desde 2002.
Irlanda, Portugal e Grécia também enfrentam o aumento das taxas que devem pagar para refinanciar suas dívidas, mum mercado de obrigações de Estado muito nervoso afetando, inclusive, Alemanha e França.
Pressionados pelos mercados, os países europeus seguem com seus planos de ajuste, em meio ao descontentamento de seus cidadãos.
Em Portugal, mestres e professores, bombeiros, funcionários ferroviários, artistas, pilotos e médicos uniram-se nesta quarta-feira para protestar contra o plano de austeridade do governo socialista, na maior greve geral da história do país, segundo os sindicatos.
A greve acontece no momento em que o parlamento português se prepara para votar de forma definitiva na sexta-feira um orçamento de austeridade sem precedentes para cortar o déficit de 7,3% para 4,6% do PIB.
Este plano de ajuste inclui redução de salários, alta de impostos e diminuição de benefícios sociais. Sua aplicação daria lugar a uma forte queda do poder aquisitivo em um país onde o salário mínimo é inferior a 800 euros.
Em Dublin, o governo, à beira da implosão, anunciou na tarde desta quarta-feira um programa de austeridade draconiano que se propõe a dividir por dez o déficit público até 2014, do recorde de 32% do PIB previsto para este ano a 3% do PIB, limite tolerado pela regras da União Europeia,
Após um corte dos benefícios sociais e do seguro-desemprego, além de importantes supressões de empregos públicos, o novo programa quer ir ainda mais longe, reduzindo o salário mínimo.
Este plano é apresentado como condição para a concessão da ajuda financeira internacional combinada no domingo pela UE e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
O montante da ajuda alcançaria 85 bilhões de euros (113,7 bilhões de dólares) e incluiria um imposto sobre os bancos responsáveis pela crise, segundo a imprensa irlandesa.
Mas os ajustes e as tensões não se limitam aos países "periféricos" na zona do euro.
Na França, o primeiro-ministro François Fillon apresentou nesta quarta-feira ante a Assembleia Nacional as prioridades de seu novo governo, incluindo uma ampla reforma tributária.
Fillon defendeu o "rigor orçamentário" para reduzir o déficit do país. "Temos que nos livrar dos déficits para manter as taxas aos níveis mais baixos possíveis", disse ele.
O governo conservador do presidente Nicolas Sarkozy propõe duros cortes para reduzir o déficit do Estado em 2011 de 152 para 92 bilhões de euros.
Nem a Grã-Bretanha estava à margem das preocupações, e nesta quarta-feira milhares de estudantes britânicos voltaram a sair às ruas de todo o país para protestar contra o anunciado aumento das anuidades universitárias.
Enquanto isso, os mercados da bolsa pareciam fazer uma pausa.
As bolsas europeias fecharam em leve alta após dois dias de baixa e o euro se estabilizava em 1,3366 dólar, contra 1,3364 dólar na noite de terça-feira.