Menino refugiado encontrado morto na costa da Turquia em 02.09.2015 (REUTERS)
Da Redação
Publicado em 4 de setembro de 2015 às 20h40.
Última atualização em 26 de junho de 2019 às 10h30.
São Paulo - Todos os dias, milhares de mulheres, homens e crianças se lançam ao mar em busca de novas terras para fugir da violência dos conflitos armados que ameaçam suas vidas e a de seus familiares.
Todos os dias, centenas de imagens rodam o mundo retratando o desespero e as desventuras dessas travessias pela sobrevivência. Mas de todas elas, talvez nenhuma simbolize tão bem a tragédia dos refugiados quanto a que ilustra esta matéria.
A imagem, feita por um fotógrafo da Reuters, mostra um menino morto por afogamento após tentativa fracassada de navegar para a ilha grega de Kos. Ele foi encontrado na costa na cidade costeira de Bodrum, na Turquia, nesta quarta-feira (2), por oficiais da guarda costeira.
Seu nome era Aylan al-Kurdi e ele tinha apenas 3 anos de idade.
Pelo menos 11 refugiados, supostamente sírios, estavam a bordo de dois barcos que afundaram depois de deixar o sudoeste da Turquia a caminho da ilha grega, informou a agência de notícias turca Dogan, citada pela Reuters.
Extremamente tocante, a imagem ganhou as páginas de jornais pelo mundo. Para o britânico The Independent, fotos como essa servem como lembrete austero aos líderes europeus que tentam impedir que os refugiados se estabeleçam no continente, enquanto um número crescente de pessoas morrem no desespero de fugir da perseguição e alcançar a segurança.
"Se imagens como essa não quebrarem a resistência dos europeus, o que mudará?", questiona o jornal britânico, lembrando que "entre as palavras muitas vezes loquazes sobre a 'crise da imigração em curso', é muito fácil esquecer a realidade da situação desesperadora enfrentada por muitos refugiados".
O jornal The Guardian escreveu: "O horror da tragédia humana nas margens da Europa aparece nas imagens do corpo sem vida de um jovem menino".
Só este ano, mais de 2.500 pessoas morreram tentando cruzar o Mediterrâneo, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR em português e UNHCR em inglês).
Buscando alertar sobre o custo imperdoável da crise dos refugiados - a perda de vidas humanas - ativistas do Migrante Report, uma organização não-governamental com sede em Malta, também publicou recentemente fotos de crianças mortas em naufrágios sob o título "As imagens que precisam ser vistas", claramente almejando comover a opinião pública internacional.
E não são apenas imagens que podem fazer diferença. A escolha de palavras (imigrantes ou refugiados?) também fazem diferença.
Em artigo publicado na última quinta (27), na BBC, o Professor Alexander Betts, diretor do Centro de Estudos de Refugiados da Universidade de Oxford e autor do livro "Sobrevivência de imigração: Governança falha e a crise do deslocamento" observa que escolha de palavras pode ser determinante na busca de soluções para a crise de refugiados do Mediterrâneo.
"Enquanto os políticos e os meios de comunicação de forma inadequada caracterizam este [movimento] como uma 'crise de imigração', a esmagadora maioria das pessoas são provenientes de países produtores de refugiados", escreve o especialista.
E alerta: "A Europa tem uma história orgulhosa de proteção aos refugiados, tendo criado o moderno regime de refugiados depois do Holocausto. Esta tradição está sob ameaça".
Matéria atualizada às 11h20 em 03.09.2015